007 contra o próprio passado | JUDAO.com.br

Novo filme do James Bond, 007 contra SPECTRE, vai no caminho contrário do antecessor e é bom, mas poderia ser melhor

007 Operação Skyfall foi incrível. Uma junção perfeita dos elementos eternos do James Bond e de referências aos filmes clássicos com um roteiro e uma direção modernos. Uma história que ficará pra sempre marcada como uma das melhores do agente secreto.

Três anos depois, chega 007 Contra SPECTRE. É impossível não comparar... Mas calma.

Normalmente, filmes do Bond são peças únicas. Há, claro, aqueles elementos comuns que estão em todos os longas-metragens, como o carro fodão, o Q, a missão, as Bond Girls... Mas, tirando raras exceções (como 007 Quantum of Solace), são histórias que funcionam bem separadamente. Mas não é isso que acontece com SPECTRE.

Pra começar, a Sony, EON e a MGM quiseram contar novamente com Sam Mendes na direção, depois do sucesso do filme anterior. Até esperaram ele finalizar da adaptação de A Fantástica Fábrica de Chocolate no teatro para iniciar a produção. Pra você ter uma ideia, não era repetido o mesmo diretor em dois (ou mais) filmes seguidos do personagem desde a sequência do John Glen, que foi responsável por cinco longas nos anos 80. A partir daí, o que os Mendes e os roteiristas Neal Purvis, Robert Wade e John Logan (junto com o ~novato Jez Butterworth) fizeram foi criar uma história que funciona como uma continuação direta de Skyfall, ainda mergulhando no passado do 007.

SPECTRE

Também agregaram a esse passado os elementos da organização SPECTRE, que dá nome ao filme e que finalmente pode ser reutilizada na franquia da EON – numa história REAL cheia de rolos que já contamos aqui no JUDÃO. Até por isso, o filme gasta um tempo para juntar as pontas soltas do James Bond do Daniel Craig, colocando todo mundo que surgiu de Cassino Royale até agora tendo ligação com essa organização (ou seja, os vilões Le Chiffre, Mr. White e até o Silva). De certa forma, SPECTRE também funciona como uma continuação ~espiritural pra Quantum of Solace, que era pra ter sido a segunda parte de uma trilogia que nunca foi concluída.

SPECTRE vai mais fundo nessa coisa do mistério, da investigação, de ir descobrindo aos poucos qual é a ligação de cada um daqueles vilões anteriores, do passado do Bond e como aquilo tudo se encaixa. Sim, o mistério estava no filme anterior, mas como UM elemento. Aqui o filme todo é baseado no mistério.

Temos também menos ação e explosões. Nesse sentido, dá pra dizer que SPECTRE soa mais como um filme clássico do Bond. Os novos escritórios do MI6, que apareceram no final de Skyfall, também ajudam nesse clima.

007 contra SPECTRE vai mais fundo no mistério, na investigação, no passado de James Bond

Outro elemento que o filme adiciona é que James Bond é uma relíquia de um mundo que não existe mais. Não, não uma relíquia da Guerra Fria, isso os filmes do Brosnan já tinham abordado, mas sim de um mundo no qual um agente sozinho poderia ser um herói, fazer a diferença. O novo C, ou Max (interpretado pelo Andrew Scott, o Moriarty de Sherlock), faz questão de dizer o tempo todo que o programa 00 já era, que é um trabalho que pode ser feito por drones – e que informação é o ouro desse mundo de hoje. Não à toa, MI5 (contra-inteligência doméstica) e MI6 (inteligência no exterior) estão sendo fundidos em uma só agência, coordenada pelo próprio C. Nesse mundo moderno, não existe mais interior ou exterior.

Atual ou não, dá pra dizer que, depois de quatro filmes, Daniel Craig É o James Bond. Inclusive, esse cansaço com o personagem, que o ator deixou claro em entrevistas recentes, é bem aparente. Mas é essa a ideia. Bond também está de saco cheio de ser agente secreto, entrando numa caçada pessoal e procurando um sentido na própria vida. No meio disso, ele encontra a Dra. Madeleine Swann (Léa Seydoux), que segue bem o perfil das Bond Girls da era Craig: forte, sabe se virar sozinha, realmente ajudando o herói.

SPECTRE

Christoph Waltz como o vilão Franz Oberhauser também está muito bem. Voz baixa, andar calmo... Poderia até ter mais cenas, inclusive. Também legal ver Dave Bautista encarnando o Mr. Hinx, um capanga clássico dos filmes do Bond. Se antes vimos coisas como dentes de aço e chapéus assassinos, agora ele tem UNHAS ASSASSINAS.

É mais legal de ver do que parece escrevendo aqui, juro.

SPECTRE não é perfeito. Algumas soluções do roteiro não são tão boas (se perdendo um pouco em resoluções simplistas) e, se eu fosse o roteirista, teria invertido a ordem dos mistérios. Contar mais do que isso seria um spoiler, então voltaremos ao assunto mais pra frente, quando o filme estrear no Brasil (o que acontece no dia 5 de novembro). Mas, se dá pra resumir em uma frase, diria que faltou aparar as arestas e pensar mais na história do que nos fãs.

Outro problema também são os trailers. Entregam muito do filme, com muitos detalhes do mistério. Se você viu todos, com toda a certeza já vai ser uns 60%, 70% da história. E isso pode ser tão broxante quanto foi com Vingadores: Era de Ultron.

007 Contra SPECTRE não é uma “Parte 2” de Skyfall, apesar de ser uma continuação direta. É um outro filme, outro ritmo, tenha isso em mente. Então relaxe, fuja dos spoilers, esqueça os trailers, pegue a pipoca, entre no cinema e curta o filme do James Bond. Vai ser uma boa diversão.

Só é uma pena não ser mais do que isso.