Uma aranha. Foi ela, que perambulava solitária por um laboratório, que mudou sozinha a história de toda a humanidade. Foi ela que, desavisadamente, entrou na frente de uma estranha descarga atômica e teve sua estrutura genética alterada. Foi ela que, por medo, picou um jovem franzino e desajeitado, que nunca poderia imaginar o que iria acontecer. Foi ela que, há mais de 50 anos, visitou a mente inquieta de Stan Lee, nos dando um dos personagens mais fantásticos da ficção humana.

A revista para tal estréia revolucionária não poderia ser pior. Amazing Fantasy, que já havia se chamado Amazing Adventures e Amazing Adult Fantasy, estava para ser cancelada na edição de número 15. Sem nada a perder, o todo-poderoso na Marvel Comics naqueles tempos, Martin Goodman, autorizou que o editor-chefe Stan Lee publicasse nesta última edição da revista a história sobre essa tal aranha que tanto queria. E isto foi feito.

É claro que seria muito minimalista dizer que o Homem-Aranha é cria apenas de uma aranha. Pode-se dizer que o personagem nasceu da necessidade que os jovens tinham de se identificar com o que liam. Até aquele momento, adolescentes eram apenas considerados parceiros mirins de grandes heróis, como o Kid Flash, Ricardito, Moça-Maravilha, Bucky e tantos outros. Era um mundo distante, à parte, intocável

Entretanto, a Marvel e Stan Lee já estavam mudando isso. No final de 1961 havia surgido o Quarteto Fantástico. Pela primeira vez o mundo via uma verdadeira família de super-heróis, com os problemas normais a elas. Mas… e os jovens? A eles viria Amazing Fantasy #15.

Amazing Fantasy #15: Surge o Homem-Aranha

Para esta primeira história do Homem-Aranha, Lee tinha idéias bem definidas. Para ele, o personagem deveria ser fraco e franzino como qualquer nerd que compraria a revista na banca. Seu amigo e grande colaborador, Jack Kirby, fez então os primeiros esboços para o personagem, mas mesmo assim não conseguia fazer o magrelo que Stan Lee tanto queria. O roteirista então entregou estes primeiros esboços de Kirby para o desenhista Steve Ditko, que terminou o trabalho da forma que ele queria.

Com os personagens The Spider e Silver Spider na cabeça, Lee finalmente escreveu a história de 12 páginas sobre a aranha radioativa que picava o jovem Peter Parker. E é como todo mundo já sabe: Peter visitava o laboratório durante uma experiência científica quando tal a aranha é contaminada e pica o adolescente. Sem saber o que tinha acontecido, Parker sai completamente desorientado do laboratório que estava visitando e é quase atropelado por um carro. O “quase” se deve a uma estranha sensação que ele sentiu quando o carro se aproximava, o que, acompanhado de uma inesperada agilidade, salvou sua vida. Foi então que ele percebeu que não era mais o mesmo. Peter Parker agora era mais forte, ágil e podia escalar paredes com grande facilidade. Era a chance de ganhar muito dinheiro. Ao menos foi isso que ele pensou na hora…

Como uma aranha que consegue criar a combinação perfeita de suas próprias substâncias para fazer teia, Peter Parker reuniu tudo que podia em sua casa e também criou uma espécie de teia sintética, capaz de ser armazenada em pequenos engradados e ser disparada através dos punhos. Com o novo aparato e os novos poderes, Parker cria um uniforme e o nome Homem-Aranha, com o qual se inscreve em um torneio de luta livre e consegue até uma certa fama.

Com o sucesso nas lutas, Peter Parker é chamado para visitar um canal de TV local. No entanto, um ladrão aparece por lá e consegue escapar da polícia. “Não é meu problema”, pensou Parker, que foi para casa como se nada tivesse acontecido. Infelizmente, horas depois, o mesmo ladrão acabou matando Ben Parker, o tio amado que havia criado Peter desde criança.

Cheio de culpa e angústia, Peter Parker percebeu naquele momento que havia um propósito em seus novos poderes. “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, pensou. Era hora de usar essa grande capacidade não para ganhar dinheiro, mas sim para fazer algo pelas pessoas. Esse foi o nascimento do herói Homem-Aranha.

Para uma revista que iria ser cancelada, Amazing Fantasy vendeu bem. Muito bem, já que ficou entre as melhores vendas da Marvel no mês, algo que nunca havia acontecido. Goodman percebeu que este poderia ser um grande sucesso para a editora e logo ordenou que Lee e Ditko iniciassem uma nova revista mensal para o personagem, que seria chamada The Amazing Spider-Man.

Esse foi o começo do maior sucesso comercial da história da Marvel Comics.

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Artigo originalmente publicado em 24 de Abril de 2007