Sejam todos bem-vindos ao Blue Oyster Bar! :D
Sim, eu sei que vocês odeiam estas traduções em português para os títulos dos filmes estrangeiros. E sim, você pode esperar para, muito em breve, uma matéria especial a respeito do assunto aqui no Judão, na qual conheceremos um dos responsáveis por este trabalho (eles existem – saiba como são, o que comem e como se reproduzem aqui no Globo Repórter). Mas, enquanto isso não rola, cabe aqui a questão primordial: jura que você acha que teria a mesma graça ser apresentado ao filme norte–americano Police Academy, lançado originalmente em 1984, se ele não tivesse sido brilhantemente batizado por aqui com o infame nome de Loucademia de Polícia? :D
(Se você não se lembra do filme, a gente te ajuda com uma referência que costuma ser bem marcante na cabeça das pessoas: é aquele filme dos policiais com o negro magrelo que sabia fazer qualquer tipo de barulho com a boca – de tiroteios a dublagens toscas de filmes orientais de artes marciais. Ajudou, né? Falamos mais sobre ele lá na frente…)
Comédia escrita e dirigida por Hugh Wilson – de carreira sólida na TV e responsável, anos mais tarde, por filmes como O Clube das Desquitadas e De Volta para o Presente – a inesquecível Loucademia de Polícia está completando trinta anos de seu lançamento. E, de forma absolutamente despretensiosa, tornou-se uma das comédias mais marcantes dos anos 80. A trama pode não ser das mais originais, seguindo o arquétipo dos desajustados que querem provar que conseguem superar seus desafios. Concordo. Mas eles acertaram no alvo ao entregar aquele tipo de humor físico e pastelão que os fãs de séries como Chaves tanto amam, além de uma galeria única de personagens carismáticos o suficiente para segurarem um roteiro meio capenga. Tudo regado com um temperinho politicamente incorreto que faz uma falta tremenda nos dias de hoje…
O prefeito de uma cidade não-identificada (o filme foi rodado no Canadá, mas o nome da cidade na história acaba nunca sendo mencionado), recém-eleito, precisa resolver a bucha da segurança pública, com uma falta crônica de policiais nas ruas. Ele então baixa um decreto: todo e qualquer cidadão pode ser aceito como recruta da força policial, não importando a sua forma física ou a sua formação escolar. Obviamente, chovem tipos esquisitos dispostos a integrar o esquadrão. Mas o chefe de polícia, Henry Hurst (George R. Robertson), não gosta nada das ordens do prefeito e decide que existe uma regra: os cadetes devem querer sair do programa por conta própria. Jamais podem ser expulsos. O tenente Thaddeus Harris (G.W.Bailey), responsável pelo treinamento dos recém-chegados, concorda com o plano e começa a empregar as mais variadas táticas para fazer das vidas destes pobres coitados um verdadeiro inferno até que resolvam sair. Mas o comandante Lassard (George Gaynes) parece ser o único que se opõe ao plano, e quer dar aos cadetes uma chance – considere aí o fato de que Harris está de olho no cargo de Lassard no comando da Academia para entender que, bingo, temos aí uma briga de egos bastante desigual. Afinal, Lassard é um daqueles velhinhos bonzinhos e meio devagar, mas parece ter a sorte ao seu lado todo o tempo, enquanto Harris é um egocêntrico para quem o azar parece sorrir em abundância.
A trama gira essencialmente em torno de Carey Mahoney (Steve Guttenberg), um malandro típico, conquistador barato e garoto-problema de carteirinha, sempre envolvido em problemas com a lei. Então o Capitão Reed, amigo do pai de Mahoney (que, obviamente, também foi policial), resolve dar-lhe uma chance – e, como alternativa a jogá-lo na cadeia, lhe oferece uma chance como cadete da polícia. Mahoney concorda, um tanto relutante, mas decide que vai fazer de tudo para ser expulso de lá o quanto antes. Neste ponto, dá para sacar onde está o principal ponto de conflito do Capitão Harris com Mahoney: um quer ser expulso; o outro quer que ele desista. Os dois são teimosos até dizer chega. Percebe-se que alguém vai ter que ceder.
Na academia, Mahoney se aproxima de alguns tipos surreais. Seu melhor amigo acaba se tornando Larvell Jones (Michael Winslow), um beatbox humano capaz de reproduzir praticamente qualquer tipo de som com a boca. Dono de algumas das melhores piadas de toda a franquia de filmes – incluindo a animada partida de videogame com uma televisão desligada – Jones é também um especialista em artes marciais, distribuindo golpes sempre seguidos de uma invejável coleção de onomatopeias.
Outro parceiro de aprendizado é Eugene Tackleberry (David Graf), um maníaco por armas e fanático por adrenalina, que quer usar o treinamento militar e uma invejável coleção de armas – em especial a sua reluzente Magnum 44 – para resolver todo e qualquer conflito. Tackleberry é daquele tipo durão, mas com bom coração. Ele só não é mais durão do que Moses Hightower (Bubba Smith), um negro gigantesco, que anteriormente trabalhava como florista mas que tem uma força descomunal, sobre-humana. Ele pouco fala. Ele pouco interage. Mas quando alguém pisa no calcanhar de um de seus amigos e ele resolve mostrar que é capaz de levantar um carro. E aí, rapaz, a casa literalmente cai. O time tem ainda sujeitos como George Martin (Andrew Rubin), um sacana que fala com um sotaque espanhol falso para conquistar a mulherada; e Leslie Barbara (Donovan Scott), um gordinho filho de mamãe que ultrapassa os limites da covardia. Além desta galera, Mahoney acaba se envolvendo romanticamente com Karen Thompson – interpretada por ninguém menos do que Kim Cattrall, a devoradora de homens Samantha da série Sex and The City, ainda novinha mas já beeeeem sensual.
Para tentar controlar esta turma e entender, secretamente, o que eles estão tramando, o Capitão Harris se aproxima dos recrutas Blankes e Copeland, passando a contar com a dupla para serem seus informantes. Obviamente, Mahoney e seu time de birutas logo percebem o que está rolando e jogam Blankes e Copeland em uma armadilha – gerando a grande piada recorrente de toda a série. Querendo investigar uma festa que os cadetes estariam planejando, os dois acabando sendo desviados para a boate Blue Oyster Bar, repleta de gays barbudos e mal-encarados em roupas de couro, motoqueiros a la Rob Halford – que imediatamente tiram os inocentes rapazes para uma dança sensual. É impossível não se lembrar desta já clássica musiquinha…
Loucademia de Polícia geraria outros seis filmes, todos decaindo consideravelmente de qualidade. Além de Mahoney, Jones, Taclkeberry e Hightower, a franquia traria nos filmes seguintes outros personagens memoráveis, como o pequenino e tímido nerd Sweetchuck e o alucinado gritador batizado de Zed, uma dupla simplesmente improvável; o gordão House, sempre às voltas com seu fanatismo descontrolado por comida; a gostosona Debbie Callahan, versão feminina de Tackleberry – uma mulher durona, agressiva, dominadora e com um decote irresistível; e a sempre surpreendente Laverne Hooks, uma mulher baixinha e insuspeita, toda calminha e tímida que, quando sai do sério, dispara um vozeirão gritado que deixa qualquer marmanjo simplesmente apavorado. Do lado dos antagonistas, destaque para o sargento Proctor, braço-direito do Capitão Harris e seu Pinky – afinal, enquanto Harris age como Cérebro, repleto de maquinações, Proctor tem sempre na manga um comentário idiota e/ou uma bobagem perfeitamente alinhada para fazer todo o plano dar errado sem que os outros policiais precisem se preocupar…
Além dos filmes , Loucademia de Polícia também geraria uma divertida série animada, que inclusive foi ao ar no Brasil. Exibida entre 1988 e 1989, durou apenas duas temporadas, com 65 episódios. Já a série live-action, de 1997, que trazia apenas o barulhento Jones como personagem recorrente, teve apenas uma temporada de 26 episódios – embora alguns outros policiais tenham dado as caras ao longos da série.
Vale lembrar que as últimas notícias a respeito de um oitavo filme davam conta de que o estúdio New Line Cinema teria contratado Scott Zabielski (da série Tosh.0) para assumir a cadeira de diretor, enquanto Jeremy Garelick (de Separados pelo Casamento) ficaria responsável por re-escrever o roteiro. Tudo indica que o ex-astro do basquete Shaquille O’Neal teria sido convidado para substituir o falecido Bubba Smith no papel de Hightower. Steve Guttenberg estaria disposto a voltar ao papel de Mahoney – assim como Winslow estaria contando as horas para interpretar Jones novamente. Para ele, nada mais natural. Afinal, é praticamente interpretar a si mesmo. :)
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