Estaríamos nós próximos do novo Rejeitados pelo Diabo de Rob Zombie? | JUDAO.com.br

Pelo menos é o que diz por aí o próprio diretor – fazendo ecos diretos a respeito do melhor filme de sua carreira. Bom, prometeu, vai ter que cumprir, hein? ;)

Durante dois anos, o músico que se tornou diretor Rob Zombie bem que tentou rodar o seu primeiro filme que não fosse essencialmente de terror. O projeto tinha até nome: Broad Street Bullies, a respeito do lendário time de hockey do Philadelphia Flyers nos anos 70, considerada uma das equipes mais DURONAS da história e contra a qual um monte de gente tinha medo de jogar. Depois de muito tempo de estudo e uma cacetada de reuniões com possíveis investidores, Rob não conseguiu quase nada do dinheiro que precisava. Estava vendo que aquilo não daria em nada. Então, resolveu mudar seus planos antes que fosse tarde e se descobrisse preso a um projeto falido.

O primeiro anúncio da novidade veio em 2014, quando surgiu um pôster teaser com a cara ensanguentada de um palhaço meio psicótico, a frase “um filme de Rob Zombie” e o número 31. Ainda sem quaisquer informações, começaram as especulações: tem um palhaço, então talvez seja uma continuação direta de A Casa dos 1000 Corpos (2003) e Rejeitados pelo Diabo (2005), com foco no personagem do Capitão Spaulding (Sid Haig)? E o número 31, talvez fosse uma referência ao Dia das Bruxas, talvez um novo filme da franquia Halloween, depois do controverso remake e sua sequência feito por Rob?

A segunda opção estava mais ou menos certa, na verdade. Sim, o número 31 tem a ver com o Dia das Bruxas, mas não com Michael Myers. Trata-se de uma história 100% inédita, que nada tem a ver com o Spaulding. Rob teve duas inspirações principais: uma estatística que ele leu “em algum lugar” dizendo que nos EUA o dia em que mais pessoas desapareciam e nunca mais eram encontradas era justamente o Halloween. E ao ver, durante uma das edições de seu próprio parque de diversões macabro itinerante Great American Nightmare, os funcionários andando pra lá e pra cá vestidos como palhaços com serras elétricas, o cineasta juntou as duas coisas em uma.

A trama do sétimo filme de Rob Zombie começa no dia 30 de outubro de 1975, quando cinco trabalhadores de um parque – exatamente como os próprios pais de Zombie, criado durante a infância neste tipo de clima – são sequestrados e mantidos reféns em um lugar demoníaco chamado Murder World. Logo eles descobrem que farão parte de um jogo batizado de 31.

As regras são bem simples: pelas próximas 12 horas, eles precisarão sobreviver à sangrenta caçada empreendida por um grupo de violentos palhaços chamados The Heads: Sex-Head (E.G. Daily), Death-Head (Torsten Voges), Psycho-Head (Lew Temple), Schizo-Head (David Ury), Sick-Head (Pancho Moler) e Doom-Head (Richard Brake). Sem qualquer modéstia, aliás, Rob afirma que este último tem potencial para ser “o próximo grande vilão dos filmes de horror”.

“Basicamente, achei que esta seria uma boa premissa para um filme”, afirmou ele, em entrevista ao Hollywood Reporter. “Junte a isso o fato de que parece que todo mundo realmente odeia palhaços e pronto, você tem um filme”. No elenco, estão ainda a ex-estrela do pornô Ginger Lynn, o eterno laranja mecânica Malcolm McDowell (que interpreta o Father Napoleon-Horatio-Silas Murder, dono do tal Mundo dos Assassinatos) e, obviamente, Sheri Moon Zombie, sua esposa e musa, presença constante em sua obra.

31 foi parcialmente financiado via crowdfunding – mas, segundo o diretor conta em entrevista ao Grantland, quase não foi assim justamente pela teimosa cabeça old-school que ele ainda mantinha. “Eu não queria que parecesse que eu estava mendigando dinheiro pras pessoas, sabe? Me parecia meio patético”. Conversando com uma galera do mercado, no entanto, ele começou a entender o potencial da coisa.

“Conforme os anos passam, o jogo vai mudando e mudando o tempo todo. E um filme que você poderia fazer anos atrás, passa a não poder mais, porque o negócio mudou. Se você quer fazer as paradas fora do sistema, então você tem que funcionar fora do sistema também”. Em comunicado oficial, ele diz claramente que deve isso tudo aos fãs. “Sem eles para não apenas financiar mas fazer barulho a respeito, um filme maluco como estes teria sido impossível de tirar do papel”.

Em pós-produção, depois que ele retornou de uma turnê de seu lado cantor para fechar a obra, 31 teve os direitos em território americano adquiridos pela Alchemy, a maior distribuidora independente do país. “Rob Zombie é um verdadeiro artista e um mestre neste jogo”, afirma o CEO da empresa. “Com 31, ele está criando outro mundo bizarro e terrivelmente imersivo que vai deleitar o público”. A data de lançamento, em 2016, ainda está sendo definida.

RZ_DoomHead

Doom-Head

O diretor teve a chance, no começo de setembro, de ver uma versão ainda não 100% finalizada de sua obra em uma exibição fechada e adorou. “Quando vi, bateu na minha cabeça que era o meu filme favorito de todos os que eu tinha feito”, contou ao Bloody Disgusting, voltando à história de que 31 será o seu filme mais brutal. “Caralho, foi muito legal. Mesmo sem estar finalizado, detonou. Se você amou Rejeitados pelo Diabo... bom, você vai amar este”.

Lembremos, por um momento, que Zombie é, além de bom cantor e cineasta, também um puta marketeiro. E ele sabe que, depois do questionado As Senhoras de Salem (2012), um terror mais cheio de exercícios de estilo e visualmente experimental do que as obras sangrentas e retrô que ele vinha entregando, faz todo o sentido ligar sua nova obra com aquele que foi seu filme mais elogiado até então.

Fanático por cinema desde a infância, Rob Zombie (nascido Robert Bartleh Cummings) era louco pela obra de Steven Spielberg. Mas acabou se tornando, como ele mesmo gosta de dizer, alguém cuja obra conversa bem mais com Tobe Hooper e John Carpenter. Ao invés de encher seus filmes de terror de adolescentes, ele prefere buscar os veteranos que fizeram a sua cabeça em produções setentistas de baixo orçamento. “Um cara que faz filmes para o adolescente esquisito e alienado que se esconde debaixo de um bando de adultos aparentemente muito bem-ajustados”, descreve com precisão o Grantland.

“Os filmes que eu amava quando era moleque, como Taxi Driver ou Bonnie & Clyde ou Dirty Harry eram estrelados por heróis que não eram feitos para se gostar e tinham uns finais bem vagos. É desta forma que eu cresci achando que os filmes tinham que ser”, explica ele, fazendo questão de ressaltar ainda que, mesmo nos dias de hoje, os filmes de terror são enxergados como um nicho que Hollywood prefere esquecer. “Somos tratados só um pouquinho melhor do que o pornô. Não quero dar nomes porque não tenho nada contra ninguém. Mas o cara vai lá e faz um filme de terror com a plena certeza do que quer. E aí vem outro cara e faz um pequeno filme indie que não mostra nada, todo mundo aplaude e este sujeito vai dirigir o novo James Bond, por exemplo? As pessoas não entendem que dirigir é dirigir – e ponto”. Recado dado.

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Psycho-Head

Mas e o tal do projeto “não-terror” do Zombie: vai sair? Parece que vai sim. No caso, uma adaptação para os cinemas do livro Raised Eyebrows: My Years Inside Groucho’s House, as memórias de Steve Stoliar a respeito de sua era trabalhando ao lado do comediante Groucho Marx no final dos anos 70. Para Rob Zombie, que batizou alguns de seus personagens principais com nomes de personagens dos filmes dos Irmãos Marx como o próprio Capitão Spaulding e Otis B. Driftwood, nada poderia ser mais apropriado. ;)

Com um novo disco também a caminho e ainda duas séries de TV (Trapped, uma comédia de horror que ele produz junto com a Mila Kunis, e a tal história a respeito do assassino Charles Manson), parece que Zombie vai estar com a agenda bem apertada nos próximos anos...