8P! Os portões do inferno se abrem para André Gordirro | JUDAO.com.br

Jornalista, crítico e tradutor, Gordirro lança agora o primeiro livro da trilogia Lendas de Baldúria e se prepara pra virar vidraça. :)

A última vez que batemos um papo com o carioca André Gordirro, jornalista, crítico de cinema e tradutor, foi para comentar o lançamento brasileiro de um livro de Michael Moorcock – que chamamos aqui de Tolkien às avessas. “O Tolkien é um linguista e cartógrafo que cismou de ser escritor; tem uma prosa ruim e desenvolve mal os personagens, em grande maioria rasos”, disse Gordirro sobre o autor de O Senhor dos Anéis.

Agora o próprio Gordirro está fazendo sua estreia como escritor de fantasia, com o livro Os Portões do Inferno — que inaugura a trilogia Lendas de Baldúria — publicado pelo selo Fábrica 231 (Rocco), e se prepara pra passar pro outro lado ou, como ele mesmo diz, se tornar vidraça.

Cortesia de um fanático por Star Wars e jogador de RPG veterano, o livro parte do feito de Krispinius e Danyanna, que fecharam os Portões do Inferno, impedindo que demônios voltem a caminhar pela superfície, e se tornaram monarcas da atual Krispínia. Mas rumores dão conta de que, muitos anos depois, os elfos das profundezas conhecidos como svaltares caminham para os Portões...

Ao mesmo tempo, o misterioso Ambrosius reúne seis homens em uma missão para resgatar um rei anão destronado: Baldur, cavaleiro desertor, ferido e sem montaria; Derek Blak, segurança profissional salvo da morte lenta (seria devorado por cães famintos e de dentes gastos); Agnor, feiticeiro expatriado; Kyle, menor infrator; Od-lanor, bardo adamar – espécie antes venerada, hoje em extinção –; e Kalannar, assassino e caçador de recompensas svaltar.

Em resumo, “Esquadrão Suicida encontra O Senhor dos Anéis”, como descreve o próprio Gordirro entre essas OITÔ! Perguntas que fizemos a ele. Mas... Peraí. Senhor dos Aneis?

1 Pra começar, tem uma coisa que adoro fazer com autores nacionais. Descrevi teu livro ali em cima, exatamente como tá no press release. Mas quero ouvir DE VOCÊ. Me conta, meio com esta pegada de mesa de bar, como se a gente estivesse no boteco: sobre o que é o seu livro?
Eu costumo resumir de duas formas, dependendo da geração do interlocutor. Os Portões do Inferno é “Os Doze Condenados encontra O Senhor dos Anéis” ou “Esquadrão Suicida encontra O Senhor dos Anéis”. Basicamente é a história de seis anti-heróis que entram numa roubada esperando se dar bem e acabam parando em uma enrascada épica ainda pior, com o destino do mundo em jogo.

2 Mas olha, preciso dizer – depois daquela matéria do Moorcock, Deus tá vendo o press release do seu livro falando de Tolkien, viu? E você citando Senhor dos Anéis, ainda por cima...
A comparação é honesta porque, afinal, Tolkien juntou todas as peças do Lego da fantasia em uma caixa só; eu apenas escolhi montar um brinquedo muito diferente com as mesmas noções de reinos de humanos, elfos, anões e um “Grande Mal.” Assim como o game e livros de World of Warcraft e a ficção baseada em Dungeons & Dragons também usam as mesmas peças de outras maneiras, ainda que respeitem mais o caminho traçado pelo professor. Eu fui por outro lado e preferi fazer um anti-Tolkien por dentro do próprio sistema criado por ele.

3 Quais você considera que são as tuas referências que vão ficar mais evidentes nesta obra?
Além de claramente ser uma grande aventura de Dungeons & Dragons, o livro tem muito de filme de guerra dos anos 1960, fantasia dos 1980 (Conan, Krull, Excalibur), o humor do Fritz Leiber, a dark fantasy do Michael Moorcock e o worldbuilding do Frank Herbert.

4 Aliás, dado o seu histórico como jogador de RPG... será que teu livro, a ambientação dele, não teria futuro nos tabuleiros?
Claro que já está pensado. Na verdade, já converti os personagens para a 5a. edição de Dungeons & Dragons e planejo um módulo para mestrar em convenções e encontros de RPG para promover o livro...e, quem sabe, sondar a chance de Lendas de Baldúria render um RPG mesmo.

5 Você considera que este é um momento propício pro autor nacional, em especial de ficção científica e fantasia? Têm vários títulos nacionais saindo nos últimos anos, e a molecada parece mesmo ter comprado a ideia.
Agora é o momento, especialmente para fantasia (a FC, coitada, ainda acho que carece de ter grande apelo por aqui). E você disse tudo: a molecada está comprando sem preconceito, ficando fanboy de autor nacional. Isso dá um alento e vontade de escrever mais e mais, porque você sabe que o público existe e quer ler. Agora é só fisgá-lo.

6 O que o teu livro teria de diferente pra chamar a atenção deste leitor de fantasia que hoje, finalmente, pode desfrutar de uma cacetada de boas opções nas livrarias?
O meu tem uma pegada diferente: sabe rir dos clichês e tem humor nos diálogos bem naturalistas, sem pompa e circunstância. Além disso, um olhar atento vai perceber que o mundo de Os Portões do Inferno é uma alegoria do nosso, com um reino imperialista que resolve tudo na porrada, etnias perseguidas cometendo terrorismo, líderes messiânicos com ideias genocidas.

Gordirro

7 Que você é fã de cultura pop, a gente já sabe. Mas que passos você teve que cumprir pra quebrar esta parede e ir pro outro lado, o do produtor e não do consumidor? Que dica você dá pro cara que sempre pensa em fazer, mas nunca tira do papel?
O passo foi estratégico: fazer nome no mercado editorial de alguma forma. Alguns editores já me conheciam porque tinham contato comigo na imprensa, mas achei que o trabalho como jornalista por si só não me venderia como escritor. Felizmente, foram essas mesmas pessoas que me chamaram para traduzir e, com o tempo, depois de 25 livros e trabalhos para as grandes editoras do mercado, foi mais fácil dizer “ei, estou fazendo um livro, quer ver?” A dica é a cruel de sempre: comece a escrever, porque aqueles poucos que se mostrarem interessados vão querer ler alguma coisa. E isso tem que ser complementado com networking, networking e mais networking. Não adianta: escritor não é modelo/atriz descoberta em passeio pelo calçadão por um olheiro tarado.

8 Por falar nisso, tu tá preparado pra ser vidraça ao invés de tijolo e aguentar as críticas dos nerds, bom, que nem eu e você? :D
É justamente o termo que venho usando. Virei vidraça depois de vinte anos falando do trabalho dos outros, apontando erros e acertos. Acho que não existe preparo e sim, vontade que levem o trabalho em consideração. Pior seria ser ignorado. Que leiam e falem, nem que seja mal. Alguém pode ler e querer apostar em mim.