8P! Felipe Folgosi, o ator e QUADRINISTA! | JUDAO.com.br

Famoso por atuar em novelas da Record, SBT e Globo, Folgosi resolveu que era hora de se enveredar nos quadrinhos e prepara Aurora, a primeira HQ escrita por ele

Você deve conhecer o Felipe Folgosi. Afinal, o cara é ator desde o começo dos anos 90, com papeis em novelas e minisséries como Sex Appeal, Olho por Olho, Corpo Dourado (Globo) e a trilogia Os Mutantes (Record), além, claro de participar de A Fazenda. O que você com toda a certeza não sabe é que o cara também tem uma veia nerd – e, agora, está se lançando como roteirista de quadrinhos.

O primeiro trabalho de Folgosi na nova área é Aurora, produzida em parceria com a Impacto Quadrinhos/Instituto dos Quadrinhos e com arte de Leno Carvalho e cores de Márcio Freire. Pra entender um pouco mais do projeto – que está em busca de apoiadores via crowdfunding – e como a carreira de ator e roteirista se cruzaram, o JUDÃO tocou as nossas já famosas 8P! com o cara. ;)

Folgosi

1 Qual é a de Aurora? Do que se trata, qual é a história, quais as referências, de que forma as pessoas podem ajudar...
O projeto se chama Aurora. É uma graphic novel escrita por mim, produzida em parceria com o Instituto dos Quadrinhos do Klebs Junior, arte do Leno Carvalho e cor do Márcio Freire. É uma adaptação de um thriller de ficção que levei dez anos escrevendo, porque queria que a história partisse de uma premissa possível e tivesse embasamento científico, então o processo de pesquisar e encaixar todas as peças no quebra-cabeças da trama foi longo, mas prazeroso. A história é sobre como seria o próximo passo da evolução humana, como aconteceria e quais seriam as consequências. A pegada não é tanto super-heróis, mas mais um estilo europeu, mais cinematográfico mesmo. A pessoas podem ajudar visitando a página do Catarse e contribuindo. A divulgação nas redes sociais ajuda bastante também.

2 Apostamos que muita gente conhece o Felipe ator, mas dificilmente teria imaginado que você era nerd como nós, fã de quadrinhos e afins. Fala um pouquinho um pouco disso pra gente. Como começou?
Bom, comecei lendo quadrinhos bem cedo, através do meu pai. Lembro-me de ler Almanaque Marvel quando ainda era editado pela RGE, Mortadelo e Salaminho, Recruta Zero, Disney e, é claro, Mauricio de Sousa. Durante anos meu presente de aniversário foram as assinaturas da Turma da Mônica e dos heróis da Marvel e DC, já na Abril. Em paralelo, também gostava muito dos quadrinhos de livraria, como Asterix, Calvin e Garfield. Um pouco mais tarde fui descobrir os quadrinhos mais adultos, Moebius, Manara e, entrando na adolescência, lia muito MAD e as primeiras graphic novels que começaram a ser lançadas no Brasil, como Ronin, O Filho do Demônio, A Piada Mortal, O Conflito de Uma Raça, Crash, Rocketeer, etc. Nessa época também descobri o quadrinho nacional e comecei a ler Chiclete com Banana e Circo. No final dos anos 80 dei uma parada porque a grana ficou curta, mas, depois que comecei a trabalhar e ganhar uma grana, voltei a comprar. Hoje em dia gosto muito do quadrinho nacional.

3 E este Felipe como produtor/escritor de quadrinhos, como surgiu? Já teve outras experiências antes? Como foram?
Na verdade surgiu dos roteiros que escrevo. Fiz faculdade de cinema na FAAP e morei dois anos em Los Angeles, onde estudei na UCLA. Quando voltei o cinema brasileiro ainda estava na retomada, estava saindo “Cidade de Deus”, não havia campo para roteiristas. Então decidi ficar escrevendo em inglês e tentar vender lá fora. Até que um dia tive a ideia de adaptar os roteiros para quadrinhos, que é uma linguagem que gosto muito, ao invés de deixar eles guardados na gaveta. Daí mostrei alguns roteiros para o Klebs e juntos decidimos começar pelo Aurora.

Aurora

4 Você acha que a sua fama pregressa pode ajudar a colocar o projeto para frente ou, do contrário, pode causar algum tipo de preconceito – “ah, este ator, quem ele pensa que é para fazer gibis?”.
Eu tenho recebido o apoio de muita gente séria dos quadrinhos, pra minha surpresa. Acho que por ter feito alguns dos poucos trabalhos na TV brasileira que tinham uma linguagem pop, muita gente diz que gostava de mim por causa das novelas e estava feliz em saber que eu sou fã de quadrinhos. Preconceito deve ter, afinal sempre tem os haters, mas não me preocupo com isso. É um pensamento limitado achar que se alguém é ator não pode gostar de quadrinhos. Aqui no Brasil tem um pouco dessa limitação, se você é ator não pode fazer mais nada, ao contrário dos EUA e Europa, onde as pessoas apoiam quem tem iniciativa e é criativo. O Hugh Laurie, por exemplo, além de ator é músico e autor de romances. O Robert Downey Jr é músico também, e por aí vai.

5 Como ator, se você pudesse escolher estrelar uma adaptação de um gibi, qualquer gibi, para outra mídia (cinema, teatro, TV), qual escolheria?
Bom, eu comprei na banca quando saiu pela primeira vez O Cavaleiro das Trevas, em quatro fascículos. Pra mim foi o “game changer”. Eu tinha doze anos na época, e, depois, os quadrinhos nunca foram os mesmos. Quando começaram os boatos que iria sair o filme do Batman, na minha cabeça tinha que ser uma adaptação fiel do Cavaleiro, com o Clint Eastwood, que na época ele estava perfeito para o papel. Nem preciso falar como fiquei desapontado quando a Warner lançou a primeira foto com o Michael Keaton no papel. Mas ainda acho que esse filme, que agora é impossível fazer, seria o melhor de todos – incluindo os do Christopher Nolan.

6 Aliás, como um cara de dentro dessa indústria, você vê espaço para um “boom” (ou alguma fagulha disso) de adaptações de HQs no cinema e na TV do Brasil, como já acontece há alguns anos nos EUA?
Cara, eu acho que seria incrível, por vários motivos. Primeiro porque a TV brasileira vive uma crise de conteúdo. Os canais estão tendo que competir com os canais a cabo gringos, Netflix e todos os streamings, enquanto a TV americana vive sua era de ouro, com shows sensacionais. Aliado a isso, o quadrinho nacional está em um dos melhores momentos, com autores como Daniel Esteves, Danilo Beyruth, Flávio Luiz, [Rafael] Grampá ,entre tantos produzindo com uma qualidade absurda. Seria muito bom para a TV brasileira, assim sairíamos das velhas fórmulas do folhetim para algo mais diversificado e atual.

Uma das páginas de Aurora

Uma das páginas de Aurora

7 Quem você escalaria então pro papel principal de Aurora? Não vale você mesmo. ;) E pra dirigir, quem seria?
Hahaha, time dos sonhos? Oscar Issac, Jeff Bridges, Morena Baccarin, J.K Simmons, Chris Pratt, Jeremy Irons, Larry David, Idris Elba, Jason Isaacs, Chris Cooper e por aí vai. Pra dirigir, acho que o Ridley Scott ou o James Cameron.

8 Em Aurora, você conta com a ajuda do pessoal da Impacto, que tem formado profissionais pro mercado nacional e internacional. Alguma chance do trabalho de roteirista ganhar mais importância que a de ator? De alçar voos maiores nessa área?
Não vou deixar de trabalhar como ator nunca, mas já escrevo faz quinze anos. Em 2000 ganhei o Prêmio Nacional de Dramaturgia do Ministério da Cultura, que me incentivou a escrever, mas sendo sincero eu tinha um pouco de receio desse preconceito que você citou antes, das pessoas caírem matando em cima de um ator que tentasse escrever alguma coisa, mas com o tempo você vai amadurecendo e deixando de se importar com que os outros pensam. O importante é colocar no mundo aquilo que você imagina, os projetos que você sonha. Espero que o Aurora seja o primeiro de muitos.