A banda fala ainda sobre a morte do rock, sobre o complexo de coitadinho dos músicos nacionais…
Eles podem não ser necessariamente uma das bandas que mais toca nas rádios (na verdade, o pouco espaço que tem fica restrito às chamadas rádios-rock) – mas é impossível falar de rock no Brasil, principalmente nos dias de hoje, sem citar os cariocas do Matanza, um dos atuais grupos favoritos dos editores deste site singelo e garboso. Eles não param de produzir, colocando discos inéditos na rua com boa regularidade, produzindo seu próprio festival, incentivando novas bandas. E sem chororô, sem reclamar da vida.
O JUDÃO bateu um papo exclusivo com Donida, guitarrista, principal compositor e mentor intelectual da banda. Sem papas na língua, ele disparou: “A banda que diz ter perdido espaço para o artista internacional, na verdade, nunca o teve. É só uma boa desculpa para a própria incompetência”.
Confira abaixo:
Donida ~ O rock não morreu mas está morrendo, o que é normal. Nos anos 20, o jazz era a resposta para tudo o que a sociedade na época mais queria, precisava e sonhava. Noventa anos depois, ele se reduziu a objeto de estudo e adoração de um segmento quase ínfimo dessa mesma sociedade. Com o rock não vai ser diferente. Hoje não é relevante como nas primeiras décadas em que surgiu quando era, de fato, uma ferramenta de ruptura dos costumes. As gerações futuras vão se identificar cada vez menos porque as referências vão ficando cada vez mais distantes, no século XXI.
Donida ~ As novas tecnologias servem tanto para o bem quanto para o mal porque permitem a comunicação necessária para a expressão artística da mesma forma que banalizam a informação. Antes você precisava ralar pra conseguir alguma informação sobre um determinado artista e podia passar anos atrás de um LP. Dava-se muita importância... Hoje, você não precisa de mais de dois cliques pra ter sua discografia completa. Mas tudo que é fácil demais perde o valor. Existem, sim, ótimas bandas que trabalham seriamente. Mas quem se importa com mais uma banda quando existem milhares e milhares de outras? Quem tem tempo de assimilar todo esse conhecimento?
Donida ~ Acho absolutamente ridículo imaginar que a música nacional precise de algum tipo de protecionismo como se fosse algo débil que precise ser amparado, subsidiado. A banda que diz ter perdido espaço para o artista internacional, na verdade, nunca o teve. É só uma boa desculpa para própria incompetência.
Donida ~ Somos amigos do BNegão há muitos anos e por isso foi muito divertido. Mas tirando a farra, não vejo – no caso do Matanza – o menor sentido em parcerias...
Donida ~ Queremos continuar desdobrando o nosso universo temático fazendo músicas cada vez mais pesadas, cada vez mais rápidas e desgraçadas. Queremos expressar de forma clara e contundente todo nosso desprezo pela sociedade e pela hipocrisia que a rege. Por isso, letras em inglês estão fora dos planos.
Donida ~ O que nós tentamos com o To hell with Johnny Cash foi trazer músicas escritas entre 1955 a 1958 para um ambiente HARDCORE. Não é algo que se possa fazer com o Motörhead, por exemplo, porque não há nada a acrescentar.. O mesmo acontece com o Reverend Horton Heat, Pogues, Mano Negra... Por mais que gostemos, jamais nos permitiríamos. Mas, se tivéssemos de repetir a dose, escolheria alguém como Merle Haggard ou Waylon Jennings.
Donida ~ O que nos importa é fazer mais e melhores shows. O Matanza Fest é oportunidade que temos de reunir bandas legais num evento com uma estrutura maior que a de costume. Estamos trabalhando em um novo álbum, mas a nossa prioridade é tocar onde for possível. O mercado internacional é muito interessante mas não é o nosso foco no momento.
Donida ~ É normal que se espere alguma coerência entre o artista e seu trabalho, mas se bebêssemos a metade do cantamos nas letras, não haveria banda. Já estaríamos mortos há muitos anos...
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