A DC mandou bem ao desistir da capa variante de Batgirl #41 | JUDAO.com.br

Homenagem de Rafael Albuquerque à Piada Mortal na fase atual da Batgirl, embora sensacional, foi feita na hora errada, no lugar errado. Infelizmente.

Capas variantes hoje em dia são uma coisa. Milhões pra uma mesma edição ou eventos completamente aleatórios, como o que a DC Comics tá planejando pra Junho, em que o Coringa vai aparecer nas capas alternativas de mais de 25 gibis.

Uma dessas capas é a da Batgirl #41, revelada na última sexta-feira (13), desenhada pelo brasileiro Rafael Albuquerque. Eu vou deixar você vê-la em toda sua glória, uma vez que palavras não seriam o suficiente pra descrevê-la.

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“Minha arte da capa variante foi feita pra prestar uma homenagem a um gibi que eu admiro muito, e eu sei que é o favorito de muitos. ‘A Piada Mortal’ é parte do cânone da Batgirl e artisticamente, eu não pude evitar retratar a relação traumática entre Barbara Gordon e o Coringa”, disse o Rafa, em comunicado divulgado pelo CBR, na noite dessa segunda (16), depois de um fim de semana inteiro de reclamações em redes sociais. “Pra mim, foi só uma capa assustadora que trouxe algo do passado da personagem e que eu pude interpretar artisticamente. Mas ficou claro, pros outros, que eu toquei um nervo muito importante. Eu respeito essas opiniões e, independente da discussão de ser certo ou errado, nem uma opinião deve ser descreditada”.

Você já leu A Piada Mortal, certo? Sabe que existe aquela coisa da violência do Coringa contra a Barbara Gordon, a dúvida eterna sobre o estupro ou não (o que, sinceramente, pouco importa) numa das histórias em quadrinhos mais pesadas de que se tem notícia, clássica, que definiu muito sobre quem é quem em Gotham City.

Essa capa, com o Coringa “forçando o sorriso”, o revólver apontando pra baixo e a cara da Batgirl, Barbara Gordon, APAVORADA, é genial pra quem é fã daquela história. Linda, mesmo. Mas equivocada. Não a arte, o momento em que ela aparece, em qual revista aparece, e o tom que sugere.

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Outra capa variante da Batgirl, no mês da Arlequina, com o tom da história que vem dentro :D

“O tom mais leve e o uniforme cheio de graça que encantou o mundo dão um novo espaço para Barbara Gordon sob os holofotes da DC”, disse o nosso Thiago Cardim, quando escreveu sobre a nova Batgirl, que estreou no número 35 da revista. “Quando você lê este novo título (...), percebe então que a mudança vai além do uniforme – e passa mais diretamente pelo tom das histórias. Aliás, o uniforme é lindo, é uma ideia brilhante, mas honestamente é o de menos. ‘Estamos misturando elementos de Veronica Mars e Girls, com um pouco de Sherlock para dar um equilíbrio interessante’, define Fletcher, um dos escritores. Ele não poderia estar mais certo”.

Rafael Albuquerque, em seu comunicado, afirmou que a DC Comics não vai mais publicar a capa, a pedido seu. “Minha intenção nunca foi magoar ninguém através da minha arte. Por essa razão, eu recomendei à DC que a variante seja retirada. Eu fico muito feliz que a DC esteja ouvindo minhas preocupações e não vai publicar a arte em Junho, como anunciado”.

Eu não sei se teve alguém que se sentiu ofendido pela imagem, porque ela não é ofensiva. Não é sexista, não é misógina, nada. Ela é, como disse o artista, assustadora e lembra algo da história da personagem. A questão é que ela está em outro momento da vida, com outro público, e não faz sentido voltar pra esse passado SÓ porque sim.

Por mais bonita que seja a arte, por mais que fãs daqueles e desses tempos gostem (eu me incluo entre eles), não podemos nos esquecer que histórias em quadrinhos, tal qual cinema, são primeiramente negócio. Artistas fazendo dinheiro com sua arte. Empresas fazendo dinheiro com arte.

É um caso, aliás, muito parecido com o da Mulher-Aranha do Milo Manara — com a diferença de que, ali, o apelo era absolutamente sexual (e o erro foi da Marvel, ao encomendar uma capa daquele gibi pro FUCKING MILO MANARA).

Rafael Albuquerque não fez nada de errado, e a DC fez o certo.

Nesse momento da história, colocar essa mesma menina nas mãos de um vilão absolutamente maluco, ligando diretamente com a história de Alan Moore é um erro de cálculo. A capa simplesmente não encaixa com o que se vê dentro das revistas e nem com o público a quem ela é dedicada.

Ela simplesmente aparece na hora errada, no lugar errado.