Afinal, o novo Homem-Aranha é da Marvel ou da Sony? | JUDAO.com.br

A gente te explica – até porque uma cuida de uma coisa, outra cuida de outra, e fica todo mundo felizão, especialmente o público e o Robert Downey Jr.

E aí que finalmente temos o Homem-Aranha pulando pra lá e pra cá no Universo Cinematográfico da Marvel, protagonizando nos poucos minutos em que aparece ao longo de Capitão América: Guerra Civil o que muita gente já pode chamar de a melhor versão do personagem nos cinemas. É natural, claro, que se crie um clima de empolgação antecipada por Spider-Man: Homecoming, o novo filme solo do Cabeça de Teia que estreia em 2017. Mas também é natural que surjam algumas dúvidas, já que o processo envolve não apenas um, mas DOIS estúdios trabalhando em conjunto.

Primeira coisa que precisa ser esclarecida aqui: não, a Sony NÃO devolveu para a Marvel os direitos de adaptação do Homem-Aranha. Tirem isso da cabeça. Este é um projeto em conjunto. “Estamos trabalhando muito juntos. Não sei bem como os créditos serão, mas considere que é a Sony Pictures produzindo um filme da Marvel Studios”, tenta explicar Kevin Feige, o todo-poderoso da Marvel, respondendo ao Collider. “O acordo é que este seja um filme da Sony Pictures. Amy Pascal [aka “chefona da Sony pré #SonyHack”] está co-produzindo conosco. Nós somos os produtores criativos. Nós contratamos o ator, o treinamos para o filme, estamos trabalhando no roteiro e vamos rodar o filme”.

Essencialmente, é assim: a Marvel tem controle sobre todas as decisões criativas. Mas a Sony, obviamente, tem que aprovar as ideias, dar a canetada final, dizer se concorda ou não. E é a Sony quem vai distribuir o filme nos cinemas, cuidar do marketing, estas paradas. A Marvel não tem que pagar um centavo para a Sony por utilizar o Homem-Aranha, por exemplo, em Guerra Civil (ou, como dizem os boatos, nos próximos filmes dos Vingadores). Mas, da mesma forma, a Marvel não recebe um centavo pela bilheteria que o futuro filme arrecadar. Ou seja: acabou saindo “de graça” para ambas as partes. Mas cê percebeu as aspas, né?

Spider-Man: Homecoming

Depois de toda uma treta jurídica envolvendo os direitos do Cabeça de Teia durante décadas, indo e vindo para alguns estúdios, caindo até nas mãos de um James Cameron que por pouco não colocou o Leonardo DiCaprio como Peter Parker, eis que a Sony tomou conta do negócio. E, da mesma forma que acontece com a Fox e os X-Men, não importa que a Marvel tenha o seu próprio estúdio: como os direitos estavam negociados com a Sony, em um contrato bem amarradinho, tudo que a Marvel tem de direito é àquela vinheta no começo do filme. E só. Os filmes do Homem-Aranha eram total e inteiramente responsabilidade (e lucro) da Sony. E como a Marvel era na prática um estúdio concorrente, não faria qualquer sentido sequer imaginar Peter Parker se candidatando a uma vaga nos Vingadores, por mais que os fãs pedissem, chorassem, implorassem. Duas coisas completamente diferentes.

Mas, depois de ganhar uma grana interessante com o Aranha vivido por Tobey Maguire nos dois primeiros filmes, algo aconteceu com a Sony. O terceiro, no qual a pesada mão de produtor de Avi Arad degringolou a intenção inicial do diretor Sam Raimi e forçou a entrada do Venom, esteve longe de ser um sucesso comercial. Veio o reboot, Andrew Garfield se enfiou por baixo da máscara, Marc Webb foi lá e deu um tom diferente pra coisa... mas, comercialmente, não fez nem cócegas. No segundo filme desta nova fase “espetacular” da franquia, a bilheteria passou anos-luz do que se esperava. Foi, dos cinco filmes aracnídeos da Sony, aquele que arrecadou menos. E por mais que a trama deixasse pontas soltas para um número 3 e todo mundo estivesse falando tanto de spinoffs com Venom, Sexteto Sinistro e personagens femininas do mundo Aranha, a conta simplesmente não fechava. Tava todo mundo bem frustrado.

Ex-executivo poderoso da Warner, Jeff Robinov, cujo Studio 8 agora está dentro do QG da Sony e tem uma boa grana de investidores chineses, chegou até a começar a desenhar um novo reboot para o herói, desta vez como adulto, para evitar contar mais uma história de origem. Segundo um memorando de oito páginas que escreveu para Pascal – e que acabou vazando depois do #SonyHack – ele já tinha até um shortlist de diretores favoritos: Brad Bird (Os Incríveis), Chris Buck e Jennifer Lee (Frozen), Damien Chazelle (Whiplash), James Gunn (Guardiões da Galáxia), Phil Lord e Chris Miller (Uma Aventura Lego), Colin Trevorrow (Jurassic World), David Yates (Harry Potter) e até mesmo Edgar Wright (aquele que QUASE dirigiu o Homem-Formiga).

Até mesmo os irmãos Anthony e Joe Russo, de Soldado Invernal e Guerra Civil, teriam chegado a tentar trocar uma ideia com Amy Pascal sobre uma forma de recontar a história do Escalador de Paredes nos cinemas.

O caso é que a Sony sabia muito bem do potencial do herói que tinha em mãos. E vinha vendo o tanto de dinheiro que a Marvel, agora sob o controle da Disney, tava ganhando com seus heróis. E se o Homem-Aranha estivesse entre eles...? Será que tentar OUTRO reboot por conta própria não seria uma manobra arriscada?

Homem-Aranha

Do outro lado, estava a Marvel/Disney. Que tinha o controle total sobre todo o resto relacionado ao Homem-Aranha: quadrinhos, séries animadas para a TV, merchandising (a empresa na qual Marvel e Sony eram sócias para operar tudo que tinha a ver com o Homem-Aranha acabou sendo integralmente incorporada à Disney depois que a Casa do Mickey comprou a Casa das Ideias). Mas, obviamente, faltava o cinema, que era um de seus maiores desejos desde sempre. Porque, com o personagem devidamente reforçado nas telonas, objeto de desejo de meninos e meninas de tudo quanto é idade, todo o restante de suas atividades envolvendo o sujeito sairiam fortalecidas. Blockbusters fortes geram mais dinheiro em vendas de produtos. Matemática simples de Hollywood.

Com a Sony precisando urgentemente injetar vida nova no Homem-Aranha antes que o prazo para a produção de um novo filme expirasse e, bom, os direitos retornassem para a Marvel de um jeito ou de outro (como aconteceu com a Fox e o Demolidor, por exemplo, agora no formato de série pro Netflix), valeria muito a pena abrir mão de um pouco de controle criativo em troca de EXPOSIÇÃO. O Homem-Aranha como parte do mundinho Marvel nos cinemas é propaganda gratuita e em movimento para um filme da Sony dentro dos filmes de um concorrente. Os fãs ficam felizes (“aê, finalmente o Homem-Aranha com os Vingadores!”), a Marvel fica feliz e a Sony fica feliz. Estando bom para ambas as partes...

“O envolvimento da Marvel vai manter a continuidade criativa e a autenticidade que os fãs demandam do MCU”, disse Feige durante o anúncio inicial da parceria. E, ao longo de todas as entrevistas que deu para promover Guerra Civil, toda vez que o inevitável assunto Homem-Aranha surgia, ele fazia questão de reforçar este discurso. “Esta é uma colaboração de verdade, que não deve ser sentida ou deve se parecer de maneira diferente de nenhum dos nossos outros filmes”, afirmou, em coletiva de imprensa.

Feige deixa claro que, por enquanto, não existem conversas a respeito de sequências desta nova franquia do Homem-Aranha de volta para casa. Mas o foco é no futuro – tanto é que Homecoming não vai, mais uma vez, falar de aranhas radioativas picando jovens estudantes e seus adoráveis tios sendo baleados. “Existem eventos que fizeram de Peter quem ele é – e certamente faremos referência a eles, mas estamos mais focados no futuro, em como ele continua a crescer, sua curva de aprendizado, a aventura que teve em Guerra Civil e em como se tornar um herói de verdade”.

“É seguro assumir que todos sabem como o Homem-Aranha se tornou o Homem-Aranha”. Tom Holland é um Peter Parker jovem, ainda moleque, mas que já é o Homem-Aranha há pelo menos alguns meses. E que viu toda a treta da Batalha de Nova York pela TV, um bando de super-heróis sentando a porrada em alienígenas caindo de um buraco no céu.

Homem de Ferro

Embora tenha dito que não sabe exatamente quais os detalhes contratuais a respeito dos direitos de aparição dos personagens da Marvel nos filmes solo do Homem-Aranha e vice-versa, sabemos que o tal do acordo permite o crossover de personagens. “Ele está em um universo agora – e a graça de fazer parte de um universo compartilhado é que os personagens vão e voltam sempre”. E o primeiro nome já é certo: Robert Downey Jr, o Tony Stark.

Então vamos recaptular: a Marvel continuaria fazendo seus filmes, independente do Homem-Aranha. Na Sony, os filmes do Homem-Aranha teriam sempre de REMAR CONTRA A MARÉ das outras produções, ENQUANTO a Marvel continua fazendo seus filmes. Liberando o Teioso pra Marvel, o interesse no personagem muda completamente. Entregando o controle criativo pra Marvel, a construção do personagem muda completamente. Mesmo que um não ganhe com o filme do outro, temos uma famosa situação WIN-WIN. Aí resolvem — com certa obviedade, especialmente depois que você assiste à Guerra Civil — que o grande BASTIÃO de todo o Universo Marvel (pelo menos até agora) vai ser o primeiro personagem da Marvel a visitar a Sony. Ou, em outras palavras, o primeiro filme solo desse acordo tem Homem-Aranha e Homem de Ferro.

Que acordo horroroso, né? Imagina pro SEGUNDINHO, então... ;D

Spider-Man: Homecoming chega aos cinemas no dia 7 de Julho de 2017.