Acabou o mistério: Dwayne Johnson confirmou que será o Adão Negro na futura adaptação de Shazam para os cinemas. A informação também foi confirmada pelo CCO da DC Entertainment, Geoff Johns, estão tá tudo certo AND oficial. Só que tem mais: o filme já teria um roteirista, Darren Lemke, que escreveu o roteiro de Jack, o Caçador de Gigantes e Shrek para Sempre. Na produção, o filme contará com o próprio The Rock e Hiram Garcia. Só não há, ainda, uma data de estreia. Essas informações são da Variety.

Mas... Provavelmente você não deve estar entendendo qual é o verdadeiro potencial desse anúncio, certo? Calma, estamos aqui pra isso. ;)

O que talvez você não saiba é que os dois personagens NÃO são criações da DC. Com o nome de Capitão Marvel (a Marvel Comics, na época, ainda não era chamada assim), o herói Shazam surgiu em 1940 criado por C. C. Beck e Bill Parker para a editora Fawcett. Era o primeiro boom dos super-heróis, influenciado pela criação do Superman em 1938, e a inspiração era mesmo o Azulão. Marvel era forte, rápido e voava, mas seus poderes vinham de origem mágica e, quando não estava transformado, o herói era o garoto Billy Batson.

Família Marvel na capa da 1 aparição do Adão Negro

Para defender os frascos e os comprimidos, Billy gritava “SHAZAM!”, o nome do mago que deu poderes a ele. Com um raio, ele virava um adulto de roupa vermelha e capa branca com detalhes dourados. Ah, sim: Shazam também é uma sigla com a primeira letra dos nomes das seis figuras mitológicas que dão poderes ao cara: Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e Mercúrio. O Adão Negro vem, claro, dos quadrinhos, nos quais é um dos principais vilões do herói Shazam.

Em The Marvel Family #1, de 1945, o mundo conheceu o Adão Negro. Na real, a história relatava uma tentativa anterior do mago Shazam para criar um campeão da Terra. Ainda no antigo egito, o véio deu os poderes para Teth-Adam, que se transformou em Mighty Adam. Apesar do coração puro, o cara foi corrompido por seus desejos, matou o faraó e quis se tornar o ~dono do mundo. Shazam, arrependido, renomeou o seu ex-guerreiro como Black Adam e o baniu para uma longínqua estrela do universo.

Eventualmente o Adão Negro voltou. Em uma história envolvendo, além do Capitão Marvel, Mary Marvel e Capitão Marvel Jr. (SIM!, eu sei, isso pode parecer bizarro, mas até que não é), o agora vilão se dá bem e derrota os novos campeões da Terra – até ser induzido pelo barrigudo Tio Marvel, que não tinha poderes (ok, vou concordar agora, isso é bizarro) a dizer a palavra página Shazam. De volta à forma humana, os séculos e séculos que se passaram fazem efeito e Adam se transforma em pó. Sim, ele morreu.

Como a DC entrou nessa?

Essa explicação, amigo, envolve um dos momentos mais polêmicos das HQs. Nos anos 40, o Capitão Marvel fez muito sucesso, um sucesso que chegava a rivalizar com o Superman. A então National Comics Publications, que hoje atende pelo nome de DC Comics, entrou com um processo contra a Fawcett em 1941, afirmando que o herói era um plágio do Homem de Aço. O processo se arrastou por anos e anos, mas, em 1951, a Justiça declarou que a National foi displicente com os direitos do Azulão e que, por isso, a Fawcett não fez nada de errado.

A Casa do Superman apelou. O copyright do herói foi novamente declarado válido e confirmado que o Capitão Marvel não era um plágio em si, mas sim, algumas de suas histórias eram. O julgamento anterior foi invalidado e todo o rolo jurídico voltou...

Superman e Capitão Marvel juntos, mas só na capa!

Aí, amigo, já era começo dos anos 50. As HQs não eram a mesma coisa, ninguém ligava mais pra super-heróis e a Fawcett estava perdendo dinheiro com aquela briga toda. A editora então concordou em parar permanentemente com as publicações do Capitão Marvel em 1953 – e ainda pagaram US$ 400 mil pelos danos causados à National (o que daria, em Obamas de hoje, 3,5 milhões!).

Você não tem ideia da burrada que a Fawcett fez, amigo. Em 1956 a DC publicou Showcase #4, com a introdução de uma nova versão do Flash. Começava a Era de Prata dos Quadrinhos e os super-heróis nunca mais deixariam de ser populares.

O Capitão Marvel ficou fora dos quadrinhos por muito, muito tempo. Nesse meio tempo, a Marvel Comics foi lá e registrou pra si o nome “Capitão Marvel”. Foi só no começo dos anos 70 que a DC percebeu o potencial ali, esquecido, e licenciou os direitos do herói da Fawcett. Sem poder mais usar o nome “Captain Marvel” na capa de um gibi, a DC foi obrigada a publicar a revista com o nome Shazam – por mais que, no miolo, o herói fosse o Capitão Marvel.

Tá. KD ADÃO NEGRO?

Tudo isso pra te explicar que depois de sua primeira aparição, o Adão Negro NUNCA MAIS APARECEU num gibi da Fawcett. Nunca. O vilão retornou apenas na fase da DC nos anos 70, com o Dr. Silvana usando uma máquina “pra ressuscitar gente”, fazendo o cara voltar do mundo dos mortos. A partir daí, Adão Negro se tornou verdadeiramente o maior vilão do Capitão Marvel – que, desde o começo dos anos 80, já havia sido comprado em definitivo pela DC e vivia na Terra-S, um das Terras do então Multiverso da editora.

Depois, veio a famosa Crise nas Infinitas Terras. Marvel e Adão Negro passaram a viver no mesmo universo do Superman, Mulher-Maravilha, Flash e Lanterna Verde. Aliás, Billy chegou a ser admitido na Liga da Justiça que surgiu logo após a Crise.

Muitos reboots e retcons se seguiram. Afinal, estamos falando de quadrinhos – e da DC! Só que tudo isso fez muito bem ao Adão Negro. Consolidando as mudanças dos anos 90 e 2000, os leitores descobriram que o personagem veio do fictício país chamado Kahndaq, próximo do Egito. Ele serviu como campeão daquela região como Mighty Adam por séculos e séculos, até que Kahndaq foi invadida e a família do campeão foi morta por um supervilão chamado Ahk-ton. Descontrolado, Adam mata o vilão – atitude com a qual Shazam não concordou. Assim, o mago tirou os poderes e mata o seu antigo campeão.

Os séculos passam, até que os pais de Billy Batson encontram, numa escavação no Egito, um escaravelho no qual estavam depositados os poderes do Adão Negro. A peça acaba nas mãos de Theo Adam, que falou a palavra mágica e assumiu os poderes do antigo campeão. O novo Adão Negro cometeu diversos atos malignos, até que eventualmente alguém descobriu que aquilo tudo era por conta da influência da mente de Theo Adam. Os dois Adams foram separados e, partir daí, Adão Negro começou a busca pela redenção.

Nessa fase heroica, ou anti-heroica, Adão Negro se tornou parte da Sociedade da Justiça da América. A moral do personagem também é outra: ele quer fazer o que é bom para ele e seu povo, inclusive o que não necessariamente será bom para os outros. Isso faz de Adão Negro o tirano de Kahndaq, chegando a declarar guerra contra o resto da Terra na saga III Guerra Mundial.

Em 2011, a DC promoveu um reboot da cronologia. Tivemos algumas mudanças na história do Adão Negro, que agora roubou os poderes do sobrinho, Amon. Ainda assim, a personalidade continuou mais ou menos a mesma. Na mesma época, a DC passou a adotar o nome Shazam para o Capitão Marvel, evitando assim a confusão com o herói da Casa das Ideias (é, a Marvel tem o seu próprio Capitão Marvel, qualquer dia a gente fala sobre isso). Adão também continuou dúbio, inclusive dando uma bela ajuda ao Lex Luthor na defesa da Terra durante a saga Vilania Eterna.

Adão Negro pós-reboot

O melhor caminho a ser adotado nos cinemas é mesmo a origem dos anos 90, com os acertos dos anos 2000. Pode ser do caralho um Adão Negro surgindo maligno, chutando a bunda do Shazam, para depois descobrirmos que era tudo por conta da influencia de um hospedeiro ou algo  do tipo – e que, agora, ele não só precisa limpar o próprio nome, como lutar pelo seu povo.

Seria um personagem que cairia como uma luva para o The Rock e deixaria uma ponta para preencher algumas das lacunas naquele ambicioso planejamento de filmes da Warner com personagens DC. Sim, eu tô querendo afirmar que é bem plausível vermos filmes-solo do Adão Negro no futuro.

The Rock está torcendo por isso, aliás. ;)