Agent Carter é uma série MUITO boa. Vai ser uma pena se não continuar... | JUDAO.com.br

A audiência não é o que se espera de uma série de canal aberto no horário aberto, mas o conteúdo é o que a gente precisa :)

SPOILER! “Eu não preciso de uma honra do congresso. Eu não preciso da aprovação do Agente Thompson ou do presidente. Eu sei meu valor. A opinião dos outros não me importa”, disse a Agente Carter no fim do último episódio da primeira temporada. Era a personagem falando mas, talvez, fosse um recado da própria série a quem quisesse, ou precisasse, ouvir.

Uma segunda temporada depois, Agent Carter continua não sendo nenhum exemplo em termos de audiência e, nesse exato momento em que conversamos, existe apenas no LIMBO, com direito a dois ~finais — um SATISFATÓRIO pra que nunca mais a vejamos, outro com um cliffhanger gigantesco, JUST IN CASE. Mas, o mais importante, é que os dois finais, assim como toda a série, sabem exatamente em que história, universo e época estão e com quais personagens estão lidando.

Agent Carter não é só uma boa série. Ela coloca em uma perspectiva diferente tudo o que estamos vendo no Universo Marvel e na cultura pop em geral — tipo o fato de Jessica Jones e Demolidor parecerem mais com filmes gigantes de 12h do que com uma série; ou o fato de que essa nova onda de querer que tudo seja “Rated R” não faz sentido. E o principal, pra fazer o Kevin Feige ficar com o que resta de cabelo em pé: sim, mulheres podem ser protagonistas.

Só nessa segunda temporada a Agent Carter lidou com diversos tipos de relacionamentos e suas mais diferentes nuances, fantasmas do passado, ameaças atômicas, uma substância que ninguém faz ideia do que é e de onde veio, portais interdimensionais, sociedades secretas, uma vilã poderosa, o sexismo nosso de cada dia (quando um colega de SSR pergunta qual seu nome e ela responde “Agent”, você sabe que as coisas ali são bem diferentes do que se está acostumado), racismo e até um NÚMERO MUSICAL, tudo na Los Angeles dos 1940, com todos seus espaços abertos e cores, um contraste CLARO com o seu trabalho que, muitas vezes literalmente, acontece nas sombras (viu o que eu fiz aqui?). Uma salada que é MUITO bem resolvida, que cabe certinho em 10 episódios que seguem sempre pra frente, com um ritmo realmente GOSTOSO de acompanhar.

Agent Carter

Nada do que você vê e ouve é sem razão. São direções e roteiros muito bem amarrados, até entre si, permitindo que o “cientista maluco que todo mundo ignora” tenha o seu grau de desenvolvimento e importância pra história, assim como a “secretária” da SSR, a avó do cara que é apaixonado pela vilã — que também faz com que ela passe a gostar da rachadura de Matéria Zero na cara... Normalmente os números de audiência, incertezas de continuação ou o formato não permitem que nada disso aconteça. Agent Carter tem até esse trunfo.

Em Los Angeles, Agent Carter, a série, não só encontrou seu auge, como Agent Carter, a personagem, vivida pela sensacional Hayley Atwell, ganhou AINDA MAIS profundidade — o que não seria possível em Nova York, que por todo o seu ritmo e construção, forçam uma história um pouco mais rápida, que precisa ser logo resolvida, urgente. Pra finalmente rolar o beijo entre ela e o Chief Sousa (Enver Gjokaj), foi necessário viajar de uma costa a outra do país, algumas fugas, algumas buscas, aceitação, ver outras bocas sendo beijadas. É aquele beijo que todo mundo esperava e, da maneira como foi construído, deixa todo mundo SATISFEITO. Não precisa de mais, nem foi de menos.

Ana Jarvis (Lotte Verbeek), com toda sua segurança e otimismo, ajudou a DESCONSTRUIR Edwin Jarvis (James D’Arcy) que mostrou ter milhões e milhões de camadas — ainda que, no fim, seja exatamente aquele mordomo que ele dizia ser no início da série. Eles dois, mais a Peggy, deixaram claro que é possível, sim, existir uma relação de amizade bem profunda entre um homem e uma mulher, sem que nenhum dos dois tenha qualquer tipo de interesse sexual, ou que nenhum dos três precise ter ciúme — uma questão de sororidade, até, que o último abraço entre as duas demonstra.

Até TERIA um porém com o que aconteceu com a Dottie (Bridget Regan), mas foi uma ponta solta resolvida de uma maneira interessante, ainda que de repente demais e, enfim, Whitney Frost (Wynn Everett) era uma vilã muito mais interessante, que não resolvia nada na porrada, exigindo mais do que o treinamento de combate da nossa heroína.

Fora que ela é um gênio.

E ainda teve Jack Thompson (Chad Michael Murray), um ser humano odiável mas que a gente começa a gostar mas já odeia de novo mas pô ele fez um negócio legal FILHO DA PUTA mas calma não é assim também. Ele funcionou como um fio condutor de toda a história, hora pendendo pros vilões, hora pros heróis, terminando com um tiro no peito, estatelado no chão. Michele Fazekas, uma das showrunners (sim, são duas mulheres, a outra é Tara Butters) disse ao THR que ele não necessariamente está morto, mas talvez essa fosse a melhor continuação.

Quem matou Thompson? Por que essa pessoa queria os arquivos que, na teoria, incriminariam Peggy Carter? E pra que servia aquela chave, afinal?

Agent Carter

Agora, a mesma vantagem que a série tem em ser DESLOCADA nesses universos — não tem nenhum super-herói, é protagonizada por uma mulher, assumidamente feminista e, especialmente na segunda temporada, com todas as bases definidas, deixou de ter uma ligação DIRETA com o resto do Universo Marvel que conhecemos — é o que ajuda a fazer com que a audiência, também conhecida como “aquilo que faz o pessoal da gravata decidir se vale ou não a pena manter no ar”, não seja boa.

É importante que Agent Carter seja mantida no ar, justamente pelo que ela representa, criativamente, pra cultura pop. Questões de diversidade, representatividade e empoderamento são exploradas na série de uma maneira extremamente natural, que é bom que seja vista — ainda que POUCO, em relação ao que se espera de uma série de canal aberto em horário nobre.

Uma questão de conteúdo BOM versus a audiência que, na maioria das vezes, está praticamente no conteúdo mais ou menos — que é outra coisa que Agent Carter coloca em perspectiva, aliás: parece que tudo o que se vê por aí é mais ou menos.

Agora, a ABC / Marvel também tem culpa: a primeira temporada não está disponível em nenhuma plataforma OFICIAL de streaming e apenas os cinco últimos episódios da 2a é que estão liberados (nos EUA). No Brasil, última menção à Agent Carter na página do Canal Sony é num post de Março de 2015, anunciando o retorno de Agents of SHIELD.

Fica complicado pra quem quer pegar o bonde andando... Seja alguém que me leia no twitter quando eu digo pra assistirem à série, seja o Netflix, que acaba não tendo nenhum dado pra justificar uma possível continuidade, por exemplo.

Mas se Agent Carter está morta... vida longa a Agent Carter!