Ah, The Walking Dead, vai se foder | JUDAO.com.br

Sim, todo aquele morreu-não-morreu terminou numa broxada homérica.

SPOILER! “The Walking Dead não precisa dessa punhetagem” foi o que escrevi, ainda acreditando que o Glenn tinha morrido, no início da temporada. Não pelo fato de ele ter morrido ou não, mas sim pelo fato de a história ter se baseado só nisso por alguns episódios.

Punhetar o cérebro do fã é a saída mais simplista que qualquer trama pode seguir. Garante a audiência, garante o falatório, garante tempo, garante o fato de que não necessariamente vão reparar e/ou se preocupar com o resto da história. Foram mais um ou dois episódios até que essa história fosse resolvida, contra todas as leis da física, química e lógica. Mas, enfim, poderíamos seguir nossa vida... Com um porém.

Nessa coisa de “hey, vamos pegar o Glenn e vamos passar uns episódios deixando a galera na dúvida se ele morreu ou não”, The Walking Dead perdeu uma coisa MUITO importante pra essa história: o fator surpresa. Morrendo ou não naquele início, começou-se a discussão sobre o que aconteceria quando o Negan chegasse. Se morreu, quem o Negan mata? Se não morreu, será que é ele que vai perecer dessa vez? A Maggie tá grávida, afinal, exatamente como nas HQs...

The Walking Dead tirou da gente essa ideia tão assustadora de simplesmente acompanhar uma história, sem a necessidade de ficar tentando adivinhar o que acontece. Claro que isso também depende de quem assiste (e tem gente que é INSUPORTÁVEL com isso), mas nessa sexta temporada tudo o que aconteceu girava em torno de um enorme “SERÁ”. Será que morreu? Será que é tal que pessoa que vai morrer? Será que isso, será que aquilo?

Esse cara é o TREVOR de GTA5. Tipo, sério. É o ator que dubla (e no qual o personagem é baseado. :D)

Esse cara é o TREVOR de GTA5. Tipo, sério. É o ator que dubla (e no qual o personagem é baseado. :D)

Last Day on Earth, o último episódio da sexta temporada, foi quase todo baseado nessa coisa de morrer-não-morrer. Aliás, os últimos três ou quatro, na verdade: com a morte da Denise (fiquei muito triste), não tem mais médico em Alexandria; Maggie passa por APUROS e só tem médico em Hilltop; pra garantir a segurança, os principais personagens entram naquele MOTORHOME; os Saviors bloquearam todos os caminhos. Era só mesmo uma questão de tempo até que não tivessem mais pra onde ir e, enfim, aparecesse o Negan — tudo isso enquanto Morgan e Carol seguiam sozinhos rumo ao Kingdom (uma outra comunidade, também dos quadrinhos, bastante importante na treta com os Saviors, que inclui um TIGRE).

A bem da verdade, foi uma ÓTIMA construção de clima, bons momentos entre os personagens, todo o suspense. Eu estava realmente com o coração acelerado, tentando arranjar uma posição boa no sofá... Mas, “uni duni tê, salamê minguê” e mais umas frases que eu nem lembrava que existiam (podia ter rolado um CORRE COTIA, aliás), e FUCK. FUCK! Fuck. O barulho que a cabeça estourando faz é um “FUCK”. E não deve ser coincidência que tenha sido exatamente isso o que eu ouvi dentro da minha quando o episódio acabou SEM REVELAR O ESCOLHIDO DO NEGAN.

Ou, em outras palavras, deixando todo mundo esperando até Outubro pra descobrir quem é que morreu, tirando o Carl e o Rick — isso depois de um episódio que vai contar tudo o que aconteceu com Daryl, Michonne, Rosita e Glenn. Porque, em algum momento, alguém achou que era legal mesmo essa coisa de “morreu-não-morreu”. Porque, em algum momento, alguém achou que The Walking Dead não tem histórias ou dramas suficientes pra serem explorados e o que precisamos, mesmo, é desse joguinho PATÉTICO que a maior parte da 6a temporada passou jogando.

Jeffrey Dean Morgan, embora fisicamente perfeito como Negan, tá sóbrio demais. A conta oficial da série no twitter, bastante paunocu por diversas razões, chegou a dizer que todas as “F Bombs” que CARACTERIZAM o personagem ficaram pro Blu-ray, o que não faz exatamente muito sentido. Sem usar palavrão como vírgula, ele não pareceu tão sarcástico, não pareceu estar A-DO-RAN-DO fazer aquilo, como se tivesse dando alimento pra Lucille.

(Aliás, @TheWalkingDead chegou a pedir vídeos de reações do fãs, pra uma montagem. Fico imaginando se eles terão as manhas de mostrar a galera revoltada com o que viu, ao invés de chocada)

The Walking Dead

“O fim da história é o que as pessoas viram” afirmou o showrunner Scott Gimple, no Talking Dead, o talkshow que é exibido sempre depois dos episódios da série. “E quando a gente revelar quem estava do outro lado, vai ser o início de uma outra história. Os efeitos, o que faz com as pessoas, como elas reagem, como o mundo muda pra todos, essa é a próxima parte da história”.

“O cliffhanger não é a história”, comentou Robert Kirkman. “A história do episódio era mostrar a confiança do Rick e toda a perda dela. É sobre mudar uma mentalidade. É sobre quebrar Rick Grimes e essa é a conclusão da história”. Eu enxergo essa ideia e até concordaria que é isso mesmo, não fosse o caso de a série estar punhetando, dentro e fora dela, a chegada do Negan e a morte de um personagem. Se, lá no começo, o fator “PUTAQUEPARIU QUEM SÃO ESSAS PESSOAS” e “CARALHO QUEM É ESSE CARA E FUUUUUUCK ELE ACABOU DE DESTRUIR A CABEÇA DE UM MEUDEUS!” não tivessem ido pro saco por conta de uma masturbação mental de fãs.

Kirkman ainda fez uma relação com a ESCOTILHA de Lost, deixando de lado um fato muito importante: ninguém sabia o que aconteceria dentro dela. Terminar com ela acesa ou aberta é um cliffhanger que nos deixa querendo saber “e agora, pra onde vai a história?”. Com o material dos quadrinhos — muito bem seguido nessa temporada — e tudo o que envolve uma série que adapta um outro material, é preciso saber recontar a história. Inventar que o cliffhanger não é cliffhanger, ou dizer que ele matar alguém só conclui a história, não dá.

Se a ideia era só mostrar que agora as coisas mudaram pro lado do Rick, deviam ter encerrado naquele momento em que ele ajoelha, tremendo. Se quisessem o cliffhanger, que acabassem na hora em que o Negan aparece. Deixar a questão sobre quem morreu ou não na cabeça das pessoas é só um caminho muito fácil e ABSOLUTAMENTE DESNECESSÁRIO que a série tomou.

Cadê os Saviors pra bloquear essas estradas?