03 de Setembro de 2012, no Credicard Hall
Sobre aquela história de memória musical, me lembro exatamente de uma sexta-feira de 1996 quando eu fui convidado pela Escola Panamericana de Artes, onde eu fazia aulas de desenho, a participar de uma gravação do extinto e saudoso X-Tudo. Eu não lembro exatamente do que se tratava a matéria, mas sei que eu tava com um boné preto com um “?” e uma camiseta preta e cinza e que, na volta, fui ouvindo Jagged Little Pill, da Alanis Morissette. E depois, em casa, continuei ouvindo, pensando em qualquer coisa. E o ouvi por mais um milhão de vezes. E o ouço até hoje.
Jagged Little Pill é uma daquelas coisas que, quando temos contato, lembramos inclusive da maneira como nos sentíamos quando ouvimos nas primeiras vezes — com o bônus de que várias outras lembranças foram sendo adicionadas a cada faixa do álbum, ao longo desses 16 anos. (Na época, aliás, eu tinha 12, indo pra 13 anos. Já faz mais tempo que isso aconteceu do que eu tinha de vida, lá. :D)
Trocentas vindas ao Brasil depois, participação em Malhação e os caralhos, Alanis resolveu voltar ao Brasil em 2012 pra uma turnê que vai passar Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Belém e até Goiânia, começando com dois shows em São Paulo onde, enfim, eu tive meu encontro com Deus. ;)
Como eu sempre ouvi falar, Deus é mais, Deus é um ser superior. Depois de um loooongo atraso e muito calor de ar condicionado desligado, com aqueles cabelos enoooormes / sensacionais e um sorriso que não saiu nem por um segundo da cara daquela que, hoje, é uma mãe casada e não mais a garota de 19 anos que eu conheci (muito embora, como dizem, Deus tem a imagem que você quiser que tenha ;D), Alanis mostrou todo o seu poder logo na primeira resposta da entrevista coletiva que aconteceu pouco antes do seu segundo show por aqui.
Um repórter perguntou, esperando talvez uma resposta cheia de profundidade, o que a música tinha ensinado pra ela, ao longo desses anos. A resposta, dada com um sorriso ainda maior, de quem sabia que estava ~aprontando, foi citando Fergie em My Humps, música que ela já parodiou em um vídeo sensacional: “Make you work, work, make you work”.
Alanis, ali, deixou claro o recado de que estava se divertindo e queria mais. Falou sobre o que ela deve SEMPRE falar, baseado no tom das respostas que dava, autografou CDs, ganhou quadros (?!?) e deu beijo em uma criança-repórter e, antes que eu pudesse perguntar pra ela como era ser Deus, a coletiva foi encerrada.
Hora do show. Ou, pelo menos, hora de esperar mais 1h e pouquinho até o início — o que acabou se tornando 1h45, o que inclusive fez com que o público ensaiasse algumas vaias — o que é compreensível, em se tratando de uma segunda-feira e de um atraso de quase uma hora.
A apresentação começou com I Remain (Part 1), da trilha sonora do filme Prince of Persia, emendou Woman Down, do seu mais novo trabalho, Havoc and Bright Lights, mas foi só na terceira música, All I Really Want, de Jagged Little Pill, que o público em geral, e não só os fãs mais hardcore, entrou na brincadeira — especialmente quando ela começou a tocar gaita — emendando You Learn, outra do seu mais famoso álbum.
Guardian, música que ela fez pro seu filho Ever e também faz parte de Havoc and Bright Lights, fez com que alguns desses fãs levantassem cartazes com o nome do moleque durante todo o tempo em que ela tocava — o que já tinha acontecido na noite anterior. Eu me pergunto se esse pessoal não, sei lá, prefere CURTIR o show a assistir um monte de imagem e sons zoados no YouTube, pra saber o que quando fazer… Mas divago. :P
Dali até o fim, Alanis fez uma mistura bem interessante de todas as suas épocas, sem deixar os grandes hits de Jagged Little Pill de fora — o que, em apresentações como essas no Brasil, raras (apesar de ela ser arroz de festa por aqui, né) — é mais do que necessário. Não à toa os momentos de mais interação com o público foram com Ironic, quando ela trocou “beautiful wife” pra “beautiful husband” e deu destaque ao seu baixista e ao tecladista que, pelo jeito, se casaram recentemente; Head Over Feet, ficando calada em alguns momentos deixando só a galera cantar; e You Oughta Know, que é sempre um tapa na cara. :D
Primeiro bis e eu quase achei estranho ela resolver tocar Uninvited, música um pouco pesada demais pro que eu penso que deveria ser um momento mais apoteótico. Mas é a Alanis e, por mais divertida e sorridente que ela seja, suas músicas não são lá muito ALEGRES, né? Mas acabar o show, no segundo bis, com Thank U, deu uma aliviada no clima. Ufa. ;)
No fim, senti um pouco de falta de mais empatia entre o público e a Alanis, ali no palco. Ela fazia o que tinha de fazer, até parecia estar nuns transes, muitas vezes… Mas o público talvez não esperasse tantas músicas “novas” e ficou ali mais parado, ouvindo, esperando a próxima. Teve música que ela inclusive tocou pela primeira vez, ao vivo… E o álbum acabou de sair.
Esperar um pouco mais ou desencanar disso, tocar a música de trabalho (que é a em homenagem ao filho, que já até ganhou clipe) e fazer um show muito mais para aquele público que, assim como eu, estavam lá pelo conjunto da obra e não pela novidade, talvez tivesse dado mais certo.
Mas até que ponto isso interessa pra ela, ou pros fãs mais hardcore, também… Tou falando por mim. Um cara que, depois de dezesseis anos de grande dedicação, encontrou Deus.
Já posso viver em paz. :)
Só falta mesmo AC/DC agora, pra morrer feliz. ;D