Cantora foi uma das convidadas pro Brazil Conference at Harvard & MIT, organizado pela comunidade brasileira de estudantes da região de Boston, cujo tema deste ano são iniciativas para ajudar na mudança do país
Todo ano, desde 2015, acontece em Boston, nos EUA, o Brazil Conference at Harvard & MIT. Organizado pela comunidade brasileira de estudantes das duas universidades que dão nome à conferência, o objetivo sempre é “promover o debate entre líderes e representantes da diversidade nacional e internacional, sobre os mais variados temas envolvendo o nosso país”. Para este ano, com o nome de #AcaoQueTransforma, a ideia é trazer pessoas que possam falar sobre iniciativas que ajudam na mudança do país.
Dilma Rousseff, Gilberto Gil, Wagner Moura, Gisele Bündchen, entre outros já falaram por lá. Esse ano, uma das convidadas foi Anitta.
“Como um evento que crê na pluralidade do Brasil, não podemos cometer a falha de não abordar também a cultura como elemento central de identidade do povo brasileiro”, disseram os organizadores em um comunicado à imprensa. “Nesse sentido, confirmamos que estendemos o convite à cantora Anitta e esperamos ansiosamente para viabilizar a sua participação. Temos certeza que a sua eventual vinda seria muito valiosa; a sua história de constante batalha reflete a situação de muitos brasileiros e a sua história de superação e sucesso serve de inspiração”.
Pois é. Só a história de uma garota chamada Larissa de Macedo Machado, que começou a cantar ao 8 anos de idade em um coral de uma igreja católica em Honório Gurgel, bairro do Rio de Janeiro, já justificaria a parada toda — fazendo uma galera engolir de vez este argumento imbecil de que só quem tem formação acadêmica deve circular no ambiente acadêmico (mas que visão limitada do mundo a Academia teria, portanto, não?). Só que, em pleno 2018, depois de tudo que a Anitta fez ao longo de 2017, seria no mínimo míope que a Brazil Conference at Harvard & MIT nem sequer considerasse a hipótese de convidá-la.
Olha só, você pode ter todas as críticas do mundo contra a Anitta e, bom, tudo bem. As mais diversas questões sobre ela já foram debatidas em intermináveis textões no Facebook, em especial depois do clipe de Vai Malandra — muitas delas, aliás, bastante relevantes e que merecem, sim, ser discutidas a fundo (Terry Richardson, por exemplo, não dá, né?). E algumas destas questões nem cabem ser debatidas por este que vos fala, homem, branco, hetero, cis, o combo dos privilégios.
Mas é impressionante ver que uma pessoa saída da periferia, egressa do funk, este gênero musical que muita gente ainda considera menor, não apenas dominou as paradas de sucesso por aqui mas também começou a plantar, de maneira bastante inteligente, as sementes de uma brilhante carreira internacional com o chamado projeto Check Mate. Desafiando as regras do mercado fonográfico, ao invés de lançar um disco novo e passar por todo aquele processo clássico, em setembro ela anunciou um clipe novo todo mês. E cada clipe virou, sem sacanagem, um evento.
Veio Will I See You, parceria com Poo Bear, primeira faixa toda cantada em inglês; aí teve Is That For Me, com o DJ sueco Alesso, e Downtown, aquela em espanhol, ao lado com J. Balvin; pra finalizar Vai Malandra. Ainda teve Sua Cara, dobradinha com Pabllo Vittar e o Major Lazer (o grupo de música eletrônica criado pelos badalados produtores musicais Diplo e Switch); emplacou Paradinha em espanhol; teve Switch com a Iggy Azalea... Tudo sempre com milhões de visualizações no YouTube, audições nas plataformas de streaming, compartilhamentos nas redes sociais.
Em ano de Rock in Rio, ela, que nem convidada tinha sido, foi mais notícia em textos sobre o festival do qualquer estrela do line-up — fazendo com que os Medina se sentissem obrigados a convidá-la mais do que antecipadamente para a edição de 2019.
2017 foi, de verdade, o ano da Anitta. Que se tornou a maior popstar do Brasil. E isso não é questão de gosto. Porque ninguém aqui tá te obrigando a gostar dela ou do som que ela faz. É apenas e tão somente um FATO.
E quer saber do que mais? Porque, além de vir da favela e representar o sucesso de um ritmo musical que muda a vida de milhares de pessoas (“O funk gera trabalho, gera renda pra tanta gente. Uma visitinha nas áreas menos nobres do nosso país e vocês descobririam isso rápido”, disse a própria Anitta em um desabafo no Twitter sobre um lance BIZARRO de proibirem o funk), além de representar de alguma forma um Brasil que muita gente não enxerga, ela ainda é um exemplo de administração da própria carreira.
A gente já contou aqui, mas vale lembrar que ela encerrou a parceria com a empresária e cuida sozinha de seus negócios. “Agora eu faço as coisas do meu jeito, no meu tempo, com mais calma e paciência”, explicou na edição 2016 do Midem, encontro anual da indústria da música em Cannes. “Eu planejo tudo, a estratégia de lançamento dos vídeos, meu relacionamento com as marcas, tudo pessoalmente. Sou eu que falo com os advogados, com as agências de social media, de assessoria de imprensa. Eu participo das reuniões sempre. É difícil, mas é a garantia de que tudo vai sair do jeito que eu imaginei. No fim, sou eu que digo sim ou não”.
Se depois de TUDO isso você ainda achar que não faz sentido tê-la falando com os estudantes em Harvard ou em qualquer outra universidade do planeta, olha, vou te contar. Mas ainda bem que eles sacaram isso, né? Talvez seja por isso que eles tão lá e estes críticos profissionais de redes sociais estão, bom, em casa reclamando da vida e tentando arrumar treta em tudo que é caixa de comentários de portal?
É. Talvez seja mesmo.