Apesar dos avanços tecnológicos, a diversidade avança a passos de tartaruga para diretoras de animação | JUDAO.com.br

E são tartarugas que estão bem longe de ser ninjas, aliás

E lá vamos nós para mais um estudo sobre diversidade e representatividade em Hollywood.

Desta vez, o foco foi a presença de mulheres em diferentes setores das produções de animação e o fluxo de carreira para estas profissionais neste nicho de filmes. Segundo um estudo realizado pela USC Annenberg Inclusion Initiative em parceria com o grupo sem fins lucrativos Women in Animation, as mulheres representam aproximadamente metade dos cargos de alto escalão nas principais empresas do gênero na indústria cinematográfica e televisiva.

Curiosamente, existe uma representação feminina melhor em diversas áreas da produção de animação do que em filmes live action. O estudo descobriu que as mulheres representam 37% dos produtores de 120 filmes de animação pesquisados desde 2007 – em produções live action, esse número cai para 15%. “A proporção de mulheres nesse papel de liderança em animação e o progresso feito na última década indicam que há espaços em que a indústria está levando inclusão a sério”, disse Stacy L. Smith, a diretora da iniciativa.

Maaaaaaaas isso não quer dizer que a área abre espaços maiores para mulheres desenvolverem seus trabalhos criativamente, já que o mesmo estudo aponta que as diretoras e chefes de unidade de filmes e séries televisivas animadas optam por saírem da animação ou se afastam dos cargos de direção. Nos últimos 12 anos, apenas 3% dos filmes de animação foram dirigidos por mulheres e apenas 13% dos episódios de programas populares de animação televisivas em 2018 tinham diretoras no comando.

Como se esses dados não fossem preocupantes o suficiente, esse número se torna irrisório quando abordam diretoras asiáticas e negras – apenas a asiática Jennifer Yuh Nelson, diretora de Kung Fu Panda 2, foi listada em produções cinematográficas. Nenhuma mulher negra foi empregada como diretora.

A pesquisa apontou que apenas 5% dos filmes de animação e 1% dos filmes live action foram produzidos por mulheres negras ou asiáticas. Disparidades semelhantes entre gêneros e etnias também se aplicam à produções animadas televisivas, nas quais as mulheres estavam sub-representadas nos papéis dos produtores. “As mulheres de uma variedade de origens raciais/étnicas não estavam trabalhando como diretoras de cinema ou televisão”, disse Smith.

Ao entrevistar 75 mulheres em início de carreira, a pesquisa determinou que a desvalorização dessas profissionais e a subestimação do interesse das mulheres na animação são uma das principais barreiras enfrentadas por elas na indústria.

“A falta de mulheres negras ou afro-americanas, hispânicas/latinas ou mulheres de comunidades do Oriente Médio/Norte da África, multirracial ou outros grupos significa que as vozes e histórias de filmes de programas de animação refletem um público demográfico muito restrito de contadores de histórias”, acrescentou a pesquisadora.

Basicamente, essa pesquisa confirma o que já sabemos há muito tempo.

Em números, vemos como as mulheres são impedidas de exercerem seus trabalhos na indústria cinematográfica por conta de um ambiente dominado pela cultura masculina, primordialmente branca. Está longe de ser novidade como essa indústria – e a sociedade como um todo – vê as mulheres como menos valiosas profissionalmente, principalmente mulheres de etnias diferentes, causando um isolamento criativo, profissional e social.

Recentemente, a escritora zambiana Malenga Mulendema – criadora de Mama K’s Team 4, futura animação sul-africana do Netflix – comentou sobre como suas próprias experiências ao assistir desenhos animados quando criança influenciaram na decisão de fazer seu próprio desenho. Segundo ela, nenhum dos heróis desses programas se parecia com ela ou vivia em um mundo que se assemelhava ao dela.

No futuro, esperamos que iniciativas orgânicas sejam criadas e novas histórias de diferentes pessoas sejam contadas. O universo da animação tem potencial para ser muito vasto e é uma pena que esteja nas mãos de apenas um seleto grupo de pessoas — que, no caso, é SEMPRE aquele grupo de pessoas...