Blue Swede e aquela canção dos Guardiões da Galáxia :)

A gente te conta mais sobre Hooked on a Feeling, hit da banda Blue Swede que você não consegue parar de ouvir desde que assistiu ao filme! \m/

Não precisou de nada além de uma coleção de “oogachaka!” naquele trailer inicial do filme Guardiões da Galáxia para que a música Hooked on a Feeling conquistasse toda uma nova legião de fãs que nunca sequer tinham ouvido falar dela. Quando Evandro Mesquita, líder da imortal Blitz, diz que música boa não tem prazo de validade, era exatamente disso que ele estava falando.

No dia seguinte à exibição do oficial trailer — que já tinha rolado na San Diego Comic-Con de 2013, mas chegou ao grande público quando foi ao ar primeiro no programa Jimmy Kimmel Live e, depois, obviamente tomou a internet de assalto –, as vendas digitais ultrapassaram os 2.000 downloads – um número 700% maior do que a canção tinha performado anteriormente em qualquer momento de sua história nas interwebs. O máximo que ela tinha conseguido atingir era 1.000 downloads em uma semana – em março de 2008.

Isso, é claro, falando em números oficiais, do iTunes e tudo mais. Imagina só quantas e quantas versões piratas foram ferozmente baixadas à medida que os mais jovens, fãs da Marvel nos cinemas, recorriam ao Google para descobrir de quem se tratava. Mas, afinal, qual é a real história dessa canção? Vamos facilitar o seu trabalho e contar a história por trás da música e da banda Blue Swede.

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Blue Swede

A música

Hooked on a Feeling, uma declaração de amor rasgada, bem-humorada e ensolorada de um sujeito que está viciado no que está sentindo por uma garota, foi escrita em 1968 pelo compositor Mark James – conhecido, especialmente, por ter sido o responsável por Suspicious Minds, o todo-poderoso hit de Elvis Presley. A composição – que trazia o som de uma cítara elétrica – foi especialmente feita para o cantor B.J.Thomas, ícone da música americana pop/country/folk nas décadas de 1960/1970. Originalmente lançada como parte do disco On My Way, ela chegou a atingir o posto de número 5 na parada de sucessos Hot 100 da Billboard. Escute a versão original, bem diferente daquela que se ouve no filme dos Guardiões:

Mas Hooked on a Feeling não seria o maior sucesso de Thomas, que mais tarde conquistaria os EUA com Raindrops Keep Fallin’ on My Head, composta pela dupla Burt Bacharach/Hal David e que foi tema de outro filme, Butch Cassidy (1969). Enquanto isso, como toda boa canção, Hooked on a Feeling ganharia outras versões — entre elas, uma executada pelo cantor e compositor inglês Jonathan King, um sujeito excêntrico que mais tarde se tornaria famoso nos papéis de produtor e apresentador da TV britânica, além de ter sido o cara que descobriu a banda Genesis.

Foi na versão de King, lançada em 1971, que a música ganhou os seus “oogachaka”. Escute esta outra versão aqui:

Mas esta, conforme você pode perceber, também não é a versão que toca no filme dos Guardiões. A versão que foi parar no walkman de Peter Quill foi a mais famosa, a da banda sueca Blue Swede, responsável pela escalada internacional do grupo. Obviamente, a versão deles era totalmente inspirada na versão de King e não na de B.J.Thomas, mas com uma pegada diferente. Lançada em 1973 na Suécia e em 1974 no mercado norte-americano, a canção foi a número 1 das paradas da Billboard durante uma semana consecutiva e ainda permaneceu, durante exatas 18 semanas, na lista das Hot 100. A faixa ainda dominaria as listas de mais ouvidas em países como Austrália, Canadá e Holanda. E esta, claro, é a versão a qual você está acostumado:

Interessante perceber que, além do filme dos Guardiões, a versão do Blue Swede teve destaque em pelos menos outros dois grandes momentos da cultura pop. Fez parte da trilha original de Cães de Aluguel (1992), escolhida a dedo pelo fanático por canções obscuras Quentin Tarantino (a cena na qual ela toca é ESTA), e ainda foi a faixa que embalou a clássica cena da alucinação do bebê dançante da série Ally McBeal (relembre clicando AQUI).

Uma curiosidade bacana é que o Blue Swede fez uma ligeira alteração na letra original da canção de Thomas. A original tinha um trecho que falava assim:

“I got it bad for you, babe,
but I don’t need a cure.
I’ll just stay addicted
and hope I can endure
all the good love...”

Já a versão do Blue Swede é assim:

“Got a bug from you, girl,
but I don’t need no cure.
I just stay a victim,
if I can for sure
all the good love...”

A mudança deve ter se dado para tentar suavizar a questão do vício, por mais metafórica que fosse, já que na época a BBC londrina – cujas rádios serviam como trampolim para que artistas europeus fossem descobertos pelo mercado americano – bania canções que, de alguma forma, tivessem algum tipo de menção a drogas.

Vale lembrar ainda que, em 1999, David Hasselhoff (astro de Baywatch, também conhecida por aqui como SOS Malibu, e que foi o NICK FURY num filme pra TV) lançou um disco com o nome de Hooked on a Feeling, no qual colocou uma versão da música, inspirada no Blue Swede. MEDO.

A banda

Quando falamos em música oriunda da Suécia, é inevitável pensar no quarteto pop ABBA. Mas existe todo um rico leque de opções de bandas de rock por lá – do hard rock oitentista do Europe (aquela do grudento tecladinho de The Final Countdown) aos grupos do metal extremo como Amon Amarth, Opeth, In Flames, Arch Enemy e Soilwork, sem esquecer de toda uma efervescente cena de glam rock que fez surgir bandas como Crashdiet, Crazy Lixx, Babylon Bombs, Hardcore Superstar e a excelente H.e.a.t. (dona de um dos melhores discos do ano na opinião deste que vos escreve, aliás).

Nos anos 70, a bola da vez na Suécia era um sujeito chamado Björn Skifs, cantor, ator (fez a voz sueca do personagem Woody, de Toy Story, por exemplo), compositor, mil coisas numa só. Depois de fazer algum sucesso local com a banda Slam Creepers, ele acabou se separando e começou a fazer seus próprios shows. Foi quando sentiu novamente a necessidade de formar uma nova banda. Reuniu alguns bons músicos e passou a atuar sob o nome de Blåblus – que é uma expressão em sueco para “jeans azul”. Quando se lançaram no mercado internacional, no entanto, precisavam de um nome mais, digamos, globalizado. Veio a ideia de Blue Swede.

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A capa do primeiro disco do Blue Swede

Assim que Hooked on a Feeling estourou na terrinha do Tio Sam, Skifs e sua intrépida trupe trataram de gravar o seu primeiro disco, com o mesmo nome da faixa. A bolacha ainda conseguiria emplacar mais um top ten nas paradas estadunidenses – não por acaso, com outro cover, desta vez para Never My Love, hit sessentista dos doces californianos do The Association. Escute como ficou:

No ano seguinte, 1975, o Blue Swede tentou aproveitar a boa maré de sucesso e correu para lançar Out of the Blue, seu segundo disco. Mas, em busca da mesma fórmula, fracassaram miseravelmente. Eram apenas três canções próprias e uma porrada de covers, alguns deles de execução bastante duvidosa – destaque para a tragédia que foi a versão de Rock & Roll, de Lou Reed e para a esquisita rendição de Half Breed, single da cantora Cher que tinha sido um sucesso esmagador no ano anterior.

De interessante mesmo, só a faixa de abertura do álbum, que faz uma mistura de Hush, do Deep Purple (que, por si só, já é um cover, do cantor dos anos 50 Billy Joe Royal), com I’m Alive, psicodélica obra de Tommy James and the Shondells. Infelizmente, o combo fez sucesso apenas nos países escandinavos, sem replicar a boa performance de Hooked on a Feeling.

O grande problema do Blue Swede? A tentativa repetida e insistente de tornar-se uma banda americana. Ao invés de explorar seu próprio potencial, ficavam tentando desperadamente soar como algo que o mercado queria. Resultado? Nenhum, claro.

A banda ainda resistiu bravamente durante quase 1 ano depois do fracassado lançamento de seu segundo disco, até que Björn Skifs resolveu abandonar o barco para seguir em carreira solo. Como a banda girava ao seu redor, simplesmente entrou em combustão espontânea e explodiu. Atualmente, Skifs continua com sua carreira musical, sendo um artista de relativo sucesso em seu país-natal. Seu mais recente lançamento solo, Break the Spell, chegou às lojas em 2011.