Nem Mauricio de Sousa teve um começo fácil | JUDAO.com.br

Mauricio – O Início reúne os primeiros três livros infantis do quadrinistas, que foram produzidos em apenas cinco dias em 1965 e, até hoje, estavam esgotados

Pra quem tá lá batalhando por um LUGAR AO SOL, a vida parece difícil. São inúmeros os obstáculos, as dificuldades, os problemas... Mas o fato é que nada chega fácil e nenhum gênio nasce pronto. Até pro Mauricio de Sousa foi assim. Quer um exemplo? Era 1965 e ele já estava conquistando um certo espaço, publicando com sucesso tiras de seus personagens na Folha de S.Paulo, Diário de S.Paulo e Diário da Noite. Alguns anos antes ele tinha conseguido manter um gibi do Bidu por oito edições. Mas ainda estava longe do que ele queria.

Um dos sonhos do tio Mauricio, naqueles tempos, era produzir livros infantis. Digamos que não era fácil fazer essa transição nos anos 60, como também não é lá muito fácil fazer isso agora. Mas o quadrinista jogou a ideia pra FTD, que não só topou como encomendou três livros de 64 páginas cada para serem entregues em cinco dias úteis.

CINDO. DIAS. ÚTEIS. Tudo porque eles queriam imprimir cópias suficientes pra um evento que ia rolar logo em seguida.

Não sei você, mas talvez eu xingasse muito, falaria que não daria tempo e, bom, bola pra frente e vamos em busca da próxima oportunidade. Mas Mauricio não era – e ainda não é – assim. Ele reuniu a galera no estúdio dele, que era basicamente a casa na qual ele morava, e botou tudo pra rodar.

E, uma semana depois, ele foi de busão até a FTD entregar A Caixa da Bondade, Piteco e O Astronauta do Planeta dos Homens-Sorvete. Nas capas, pela primeira vez constava um nome que, depois, dominaria todo o mercado de quadrinhos nacionais: “Mauricio de Sousa Produções”.

Publicados ainda em 1965, esses livros acabaram no limbo do mundo dos quadrinhos, vivendo apenas em sebos ou em bibliotecas particulares. Sabe como é, as tiragens esgotaram e não houve novas edições ou reimpressões, apesar da vontade do próprio Mauricio. Livros infantis que perderam algumas gerações de crianças. Até agora.

Comemorando os 80 anos do Mauricio de Sousa e aproveitando a última Bienal do Livro do Rio, a Martins Fontes Editora finalmente reuniu os três livros originais num só encadernado, chamado Mauricio – O Início, que chega com capa dura, papel de alta qualidade e uma entrevista com o próprio Mauricio, recontando toda essa trajetória. É aquele tipo de material pra guardar na estante, como parte da trajetória da Turma da Mônica e seu criador, sabe?

O Ínicio - Maurício de Sousa

E, bom, não espere abrir as páginas do lançamento e encontrar as histórias mais incríveis e geniais do universo. Não é nada disso. O próprio Mauricio sabe (e diz) que as histórias são bem simples, bobinhas até, produzidas no calor do momento para conseguir entregar tudo no prazo.

Porém, são histórias que marcam uma época e demonstram o quanto os personagens e o próprio Mauricio evoluíram. O Chico Bento ainda era um coadjuvante das aventuras de Zé da Roça e do Hiro, mas ele está lá, vivendo aquela que é uma de suas primeiras histórias solo. Quem também aparece bem diferente é o Piteco, que usa uma rouba branca e azul enquanto se afeiçoa por um dinossauro que ele deveria abater pra virar a refeição de uma tribo faminta.

Mas o que realmente chama a atenção é o conto que abre o livro, justamente o de A Caixa de Bondade. Pela primeira – e última – vez vemos o Niquinho, especialmente criado pra coleção, apesar do prazo curto. Ele é um garoto simples e pobre, mas ainda assim com um grande coração, que é enganado por dois homens malvados. Só que a peça daqueles dois caras acaba virando contra eles mesmos, enquanto Niquinho acaba recebendo uma caixa criada por um mágico, na qual é só enfiar a mão e encontrar dinheiro.

A vida de Niquinho mudou naquele livro, assim como a de Mauricio. A MSP foi se tornando uma realidade e, em 1970, sairia pela Editora Abril o primeiro gibi da Turma da Mônica. Em seguida viriam os brinquedos, produtos licenciados, desenhos animados, outros tantos livros... Não era uma caixa na qual era só enfiar a mão para encontrar dinheiro, mas digamos que o quadrinista virou um verdadeiro mágico para contornar todos esses problemas e chegar aos seus 80 anos no auge.

E somos nós que agradecemos, Mauricio. ;D