Avantasia: novo disco é mais metal e, definitivamente, mais ópera também! :) | JUDAO.com.br

Ghostlights, continuação direta de The Mystery Of Time, é mais pesado e acelerado que o anterior mas também soa mais ambicioso, complexo e teatral

Que a inspiração do alemão Tobias Sammet para a criação do Avantasia foram as chamadas óperas rock, obras musicais com canções interligadas entre elas por conta de uma narrativa única, formando uma história com começo, meio e fim, todo mundo já sabia. Mas quando a banda – que, na época, ainda era um projeto – surgiu em 2001, o próprio nome do disco já dava a dica: Metal Opera. A versão heavy metal das óperas rock.

Com o passar dos anos (e dos discos), Tobias foi incorporando novos elementos e, especialmente a partir de The Scarecrow (2008), o lado “metal” da coisa foi perdendo um pouco de espaço, tudo foi ficando mais variado e principalmente mais hard rock. Até que no disco anterior, The Mystery Of Time, tivemos de fato uma ROCK OPERA. Assim mesmo, em letras garrafais. Um puta disco. Só que sem o tal do “metal” – e, gente, tudo bem com isso, superem.

A mais nova empreitada de Tobias, Ghostlights, segue o caminho inverso – ou quase isso. É um álbum bem mais metal do que o seu PREDECESSOR. Mais pesado, mais acelerado, mais power metal. Talvez um tantinho mais sombrio, até. Por muito pouco, não dá pra dizer que temos um primo mais dark dos dois primeiros discos – isso, obviamente, sem perder a melodia e aquele tipo de refrão delicioso e grudento que Tobias, este grande hitmaker do metal, faz com perfeição.

Só que, vejam só, a diferença fundamental aqui é que, ao mesmo tempo em que Ghostlights amplifica o seu lado “metal”, também vai fundo no lado “ópera”. Tudo é ainda mais épico, grandioso e principalmente mais teatral. Dá pra imaginar, muito mais do que nos discos anteriores, os atores interpretando personagens, não apenas cantando mas fazendo performances e a parada toda sendo encenada num palco da Broadway. Funciona? Muito.

Em resumo? Temos aqui o melhor álbum do Avantasia desde The Scarecrow e que, com merecimento, pode inclusive ser colocado ao seu lado como “melhor momento da discografia”. Uma responsabilidade e tanto, mas que Ghostlights vai buscar numa boa, matando no peito e chutando de primeira para marcar aquele golaço.

A história do disco nos leva de volta àquela mesma pequena cidade da era Vitoriana e ao jovem cientista de nome Aaron Blackwell. “Os dias diminuem, a luz desaparece, a escuridão lança seu espectro sombrio sobre o mundo. As luzes da noite indicam que o inverno está chegando”, explica o próprio Tobias.

“Estamos falando de um círculo de cientistas megalomaníacos, liderados por um ocultista que quer manipular o tempo para corrigir a sociedade à sua imagem e semelhança – para obter o controle absoluto. E temos nosso protagonista, que tem seus valores morais de um lado e sua busca por desenvolvimento e progresso do outro. Ao longo da história, ele vai sendo mais e mais confrontado com diferentes aspectos da espiritualidade, como a aceleração do tempo e com questões sobre o sentido da vida”. Imaginou isso transformado num musical heavy metal? ;)

A vocação do álbum já fica explícita em Mystery of a Blood Red Rose, primeiro single e canção que abre a audição, que é nitidamente uma homenagem ao estilo de Meat Loaf em Bat Ouf of Hell (1977), talvez o paizão de todas as óperas rock. E quando vem a assustadora e ao mesmo tempo fofa (Dá? Claro que dá!) The Haunting, com Dee Snider – vocalista do Twisted Sister – dobrando a voz para mostrar toda a sua experiência não apenas como músico, mas também como ator, tudo fica claríssimo: o disco te ganhou. Duvido que você precise passar desta terceira música para dizer “mas olha, não é que gostei disso?”.

O lado porradaria, para que os saudosos das duas primeiras metades da Metal Opera possam soltar fogos de felicidade, brilha principalmente nos momentos em que Tobias convida seu ídolo máximo, Michael Kiske. Duvida? Ouve aí a faixa-título ou, quem sabe, Unchain The Light, um dos grandes momentos do álbum. Você não consegue se decidir se bate cabeça ou canta junto com o riff da guitarra. Definitivamente, a fórmula de como um bom metal melódico tem que ser.

As escolhas dos convidados especiais estão sem dúvida entre as mais acertadas que Tobias já fez. Geoff Tate brilha com seu alcance poderoso na igualmente poderosa Seduction of Decay – que, vamos combinar, é infinitamente melhor do que qualquer coisa que ele tenha lançado com seu Queensrÿche genérico nos últimos anos.

De ares meio tétricos, Master of the Pendulum traz a voz fodástica de Marco Hietala, o baixista do Nightwish que todo mundo deveria ouvir mais como vocalista do Tarot. Para Robert Mason, o compositor do Avantasia entrega o veículo ideal: Babylon Vampyres é um metal melódico que flerta pra caramba com o hard rock mais farofa, capturando a empolgação contagiante que ele está acostumado a apresentar no Warrant. E em Isle of Evermore, a baladinha, temos pura fofura, tornando inevitável pensar na química entre as vozes de Tobias e Sharon den Adel (Within Tempation). A dupla deveria seriamente pensar em fazer talvez um disco inteiro só de duetos, hein? Fica a dica.

Uma surpresa interessante, e inexplicavelmente pouquíssimo falada, foi a adição de Herbie Langhans, alemão que comanda os vocais do Sinbreed. Em Draconian Love, ele solta o vozeirão e, uau, que coisa, hein? Um lance meio Peter Steele no Type O Negative. O resultado acabou ficando quase gótico. Dado o título da canção, muito provavelmente tenha sido esta mesma a intenção de Tobias.

Mas aí, senhoras e senhores, que todo este elenco de estrelas me perdoe, Ghostlights guarda uma importante semelhança com The Scarecrow: o cara que brilha como ninguém, que se destaca a cada música em que aparece cantando, é mesmo o norueguês que atende pelo nome de Jorn Lande. Que falta fez este sujeito. Aliás, ele deveria ser como Kiske e se tornar figura carimbada em todos os discos – e, preferencialmente, turnês – do Avantasia. Soltou a voz, é garantido que ele vai comandar a festa.

JORN

Jorn Lande e Tobias Sammet

Na enorme e intrincada Let the Storm Descend Upon You, Mason e o veterano Ronnie Atkins (Pretty Maids) quebram a banca, mandam bem – só que adivinha qual a voz que brilha e dá textura quando eles pedem que a luz volte para acabar com a escuridão? Repare no trecho Light / Bring me the light / I will bring out certainty on a silver plate. O tom de Lande, esta mistura gloriosa de Dio e Coverdale, chega a arrepiar. O mesmo rola em Lucifer, na qual o cantor solta seus demônios e tem a chance de brilhar sozinho (quer dizer, quase isso, já que tem sempre o Tobi junto, não importa quem seja o convidado, rs). De longe, uma das vozes mais brilhantes do metal contemporâneo e que merecia mais reconhecimento.

Toda vez que alguém vai lá e decreta mais uma vez a morte do power metal / metal melódico e tenta cravar um prego no caixão, chega este tal de Tobias Sammet e vira tudo do avesso, muda as regras do jogo e lança um álbum legal como este, que te conquista de imediato e te faz ter vontade de sair cantando junto.

OUTRORA o metal melódico deveu muito ao Helloween com Kiske, Hansen e aquela galera. Verdade. Hoje em dia, ele deve é UM BOCADO para o líder do Avantasia / Edguy.