Apesar do que muita gente pensa, uma arma de fogo no Batmóvel não é aquilo que pode ou não estragar Batman vs Superman – na real, o que gostaríamos de ver no filme é OUTRA coisa
Zack Snyder, depois de ver a internet TOMADA por fotinhas de Instagram com o Batmóvel de Batman v Superman: Dawn of Justice, resolveu botar a cara pra bater e revelou a VERDADEIRA visão do carro do Homem-Morcego – e, por verdadeira, entenda que ele é o diretor do filme e, bom, a visão dele é justamente aquilo que veremos na tela grande. No começo um monte de gente achou legal, mas um monte de gente também achou uma ~cópia do Tumbler dos filmes do Nolan...
Só que agora surge uma terceira via. A do “QUE PORRA É ESSA DE METRALHADORA, SNYDER? BATMAN NÃO ATIRA! NEM MATA!”.
Mas... Quem disse que o Batman não atira? Quem disse que armas de fogo em filmes ou histórias em quadrinhos são necessariamente para ferir pessoas? E quem diz que ter uma é só pra MATAR alguém, como o Frank Castle da Marvel faria? Hm. Talvez a discussão nem deveria ser muito essa. Talvez devêssemos estar aqui não falando sobre posse de armas, mas sim sobre ser um detetive.
First things first. Queria entender DE ONDE RAIOS tiraram essa história de que o Batman não usa armas de fogo e que fazer isso, Ó, é um atendado contra aquilo que é o personagem. E se eu te contar que ele usa armas, sim? :O
Ok, essa história dele não atirar é bem representativa da origem do Batman enquanto herói. Os pais dele foram mortos por uma arma de fogo. BANG. BANG. Por isso, é fácil entender a psique do cara, de não gostar disso. Isso sem falar que, como combatente do crime, matar por matar, como uma solução comum, simplesmente o faria igual àqueles vilões que ele combate. Mas ele não é o MacGyver, que foge de um trêzoitão sempre.
Pra começar, antes mesmo até dessa coisa de “no guns”, o Batman usou uma arma. E matou. Tudo em Batman #1, de 1940.
Mesmo depois, com o personagem estabelecido, ele eventualmente usou armas de fogo. Algumas vezes era simplesmente para confrontar alguém, como em O Filho do Demônio. Em outras, como em Batman – Ano 2, o conflito de usar a arma ou não fazia justamente parte do enredo.
Isso tudo sem falar que Bruce Wayne é uma das mentes mais inteligentes do Universo DC. Ele SABE que, por mais que não queira ver o Batman ligado à imagem de um super-herói que usa uma arma em punho, precisa de armamento para algumas situações, como furar cercos, derrubar paredes e coisas assim...
Mesmo com esse Batman “moderno” dos gibis, ele mata, sim. Se for necessário, pelo menos. Afinal, não matar é uma regra, mas regras foram feitas para serem quebradas. Quer um exemplo? O arco Morte em Família. Depois do Coringa matar o segundo Robin, o Homem-Morcego está pronto para acabar de vez com o problema. Porém, ele é impedido pelo Superman – que, na real, estava mais preocupado com o fato do Coringa ter conseguido imunidade diplomática com um país árabe e a morte do palhaço poderia provocar uma bela de uma guerra.
Outro exemplo? O Cavaleiro das Trevas, o clássico do Frank Miller. Contra o mesmo Coringa, um envelhecido e cansado Batman entra no dilema de matar ou não o seu maior inimigo. O que o Coringa faz? Quebra o próprio pescoço, justamente para que todo mundo acreditasse que o Homem-Morcego o matou.
MAIS exemplos: em 1988, o Morcegoman matou o KGBesta. Recentemente, COM UM TIRO de uma BALA, matou o Darkseid em Crise Final. Dizem também que ele mata o Coringa no final de A Piada Mortal, mas é bem polêmico sobre isso realmente acontecer ou não.
Fora que, sei lá, uma metralhadora num carro nem sempre é pra atirar balas daquelas tradicionais – quando falamos da ficção, claro. Pode ser para gás lacrimogêneo, na hora de dispersar uma multidão, ou para coisas muito mais avançadas. Até uma arma TASER pode ser.
Vamos combinar também que essa não será a estreia de um veículo “armado” para o Batman. Em todos os filmes, desde 1989, as armas de fogo estão no Batmóvel, no Tumbler e até no Batpod. Tudo adaptando os conceitos que vêm das HQs, sem “estuprar” aquilo que é o personagem.
Como foi dito, a discussão não deveria ser sobre o fato de um homem que anda por aí vestido de morcego pra combater o crime poder ou não andar com uma metranca no carro pra se garantir. A questão principal, que Zack Snyder deveria ter na cabeça, é fazer o Batman menos um herói de ação e mais um detetive.
Ok, ele é até é razoavelmente um detetive no filme de 1989, dirigido por Tim Burton, na investigação sobre a identidade do Coringa de Jack Nicholson. Porém, depois, isso se perdeu. Na ótima trilogia do Christopher Nolan, o Cavaleiro das Trevas é reduzido a um riquinho bem preparado fisicamente e cheio de recursos para comprar/criar brinquedos.
Não, não tou falando que o Batman dos quadrinhos não tem esse lado. CLARO. Ele tem o Cinto de Utilidades, usa um TANQUE em O Cavaleiro das Trevas, enfim... Ele não tem medo de botar uns belos brinquedos na rua, principalmente se estiver de saco cheio de tudo – como tá no futuro criado por Frank Miller. Só que o Batman que vimos nos últimos filmes não investiga, não é pragmático, não é desconfiado, não tem planos de contingência... Não é um cara PREPARADO pra matar, se for necessário.
Sim, afinal ele não gosta de fazer isso – mas quem gosta? Porém, nos gibis, foi estabelecido mais de uma vez que Bruce Wayne tem um plano de contingência para o caso de outros membros da Liga da Justiça saírem de controle, por exemplo. Inclusive ele tem guardado um pedaço de kryptonita. E sim, ele está preparado para matar o “amigo Clark” se essa for a última escolha. É um lado mais maquiavélico do personagem, se formos analisar friamente.
Tem mais: se você pensar bem, o filme O Homem de Aço já lida com essa questão de matar ou não – uma característica do trabalho do Snyder. O Supinho quebra o pescoço de Zod num momento que foi criticado por muitos, mas que também tem o pé nas HQs. Por lá, Kal-El já matou Zod. E também matou o Sr. Mxyzptlk numa HQ fora da cronologia escrita por Alan Moore, mas que finaliza as publicações do Superman da Era de Prata.
Seria bacana se Zack Snyder conseguisse colocar esse lado detetivesco em Batman v Superman. Ok, ainda é um filme de super-herói, ainda tem que ter ação, explodir cabeças, mas não custa nada gastar uns minutos botando o Bruce Wayne pra pensar, sei lá, investigando quem realmente é o Superman, por exemplo. Ou quais são os planos reais de Lex Luthor.
Ou até – imagina que foda isso seria no cinema – criando exatamente um plano de contingência para cada um dos membros da futura Liga da Justiça. ;)
Pois é. A questão nunca foi sobre usar ou não armas de fogo. Mas sim sobre construir um cara que saiba usá-las quando for necessário, por mais que não goste. E que esteja preparado pra matar, caso se chegue nessa última alternativa.
Será que teremos tudo isso na nova encarnação do herói na tela grande, aquela do Ben Affleck? Bom, vamos ter que esperar até 2016 pra saber...