Baty Sue: será mesmo que o Superman é o personagem mais over da DC? | JUDAO.com.br

De todos os poderes que ele tem, ficou faltando um: o do ROTEIRO

Após o lançamento de Star Wars: O Despertar da Força, foi de consenso quase absoluto da grande massa de fãs de Star Wars que tratava-se de um dos MELHORES FILMES DA GALÁXIA de todos os tempos. Eu mesmo, pela primeira vez na vida, voltei para o cinema assistir ao mesmo filme mais uma vez.

Porém, deixando a empolgação de lado e analisando com um pouco mais de calma, é possível ver que, embora seja extremamente divertido e bem executado, o filme tinha sim suas falhas. O que não é bem uma crítica, pois todo filme as tem. Com exceção de Street Fighter, que é perfeito.

Contestáveis ou não, o ponto mais polêmico foi um abordado pelo roteirista Max Landis no twitter: seria Rey uma Mary Sue? Não, não estou aqui para discutir sobre Rey, apenas contextualizando a denominação.

Vamos esmiuçar um pouco o termo. Sua origem remete a uma personagem de fanfic de Star Trek criada em 1973 por Paula Smith – uma mocinha comum, chamada Mary Sue que, com apenas 15 anos de idade, era a tenente mais jovem de toda a frota. Esse tipo de personagem costuma ser a personificação do próprio autor dentro da história, que se manifesta por suas habilidades impecáveis em TUDO. Alguém tão perfeito e idealizado que tende a ser chato.

No início era atribuído a personagens femininas ordinárias com habilidades altamente improváveis, mas atualmente ficou um pouco mais amplo, incluindo também personagens masculinos — alguns se referem a eles como “Gary Stu”, mas convenhamos, Mary Sue é bem mais bonitinho. Aqui, vamos nos ater à definição “Mary Sue é um personagem perfeito demais para ser crível”.

Daisy Ridley

No universo dos quadrinhos, quando se fala em Mary Sue, qual o primeiro personagem que vem à sua mente? Alguém bom em TUDO, a perfeição e fodacidade encarnadas.

Aposto minhas GÔNADAS que você imaginou o Superman.

Eu até concordo. Ele não apenas tem o rol de poderes mais apelativo, como também tem valores morais irrepreensíveis. Ele é tipo o Dalai Lama com a velocidade do Flash, a força do Hulk Super Sayajin e de quebra é um dos jornalistas mais respeitados do mundo. Não há o que discutir, Superman é uma Mary Sue.

O cargo de contraponto heróico natural do Homem de Aço acabou caindo no colo do Batman. Um homem comum que superou seus limites humanos para poder figurar no grande panteão da Liga da Justiça. Enquanto Clark é extremamente poderoso, Bruce só pode contar com seu treinamento, inteligência e recursos financeiros. Clark é um escoteiro, Bruce tem seus desvios de caráter e métodos polêmicos. Clark inspira respeito e admiração, Bruce inspira medo e intimidação. Clark é dia, Bruce é noite. Um personagem mais realista e, portanto, seria a outra face da moeda. Exatamente o oposto de uma Mary Sue.

Essa rivalidade ganhou as páginas dos quadrinhos uma infinidade de vezes, e é tão emblemática que será o ponto central do maior filme já feito pela DC. Porém, a despeito de todas as limitações que o Morcego tem, de uns tempos pra cá ficou instituído – ainda que num tom meio jocoso – que Batman é sinônimo de vitória.

Be Batman

Li outro dia um conhecido (Emílio Baraçal, roteirista de quadrinhos da Supernova Produções e ex-colega nosso aqui do JUDÃO) falando no Facebook que o “Batman tornou-se o Superman”. É comum ver em fóruns, comentários de notícias e discussões nas internets nos mais variados meios aqueles embates imaginários. Quem venceria numa luta entre Batman x Superman? Batman x Chapolin? Batman x Mestre Kame? Batman x Eric Northman? Batman x John Cena?

Batman, óbvio. Sempre. Os fãs mais ardorosos não tem a menor dúvida disso. Com a devida preparação, o vigilante de Gotham desce o sarrafo sem dó em quem pintar pela frente. Mas será que é mesmo só coisa dos fãs? Teriam eles tirado essa invencibilidade do Batman da BUNDA?

Nope.

Batman tem o maior dos poderes – o poder do ROTEIRO. Poder que talvez tenha se originado numa das maiores obras-primas das HQs, de autoria de um dos maiores gênios do ramo. Apesar da história primorosa de O Cavaleiro das Trevas, Frank Miller entortou o que era estabelecido com tanta força que deu um jeitinho de fazer Batman vencer Superman na PORRADA.

Esses dias estava lendo Liga da Justiça: Torre de Babel e num ponto em específico me deu esse estalo. A certa altura da história, o próprio Wayne conta como desenvolveu a kriptonita vermelha a partir da convencional verde. Ele – não um cientista de sua confiança – “encontrou um isótopo estável”, fez alguns testes em daxamitas e XABLAU! Criou um novo tipo de kriptonita que incapacita o Superman sem matá-lo. Manipulou um elemento alienígena a nível subatômico.

Já li uma história onde Selina Kyle foi conversar com seu boy, e ele tava lá de boas, se exercitando, levantando uns 300kg no supino:

Batman

Dá pra ver que ele gasta boa parte de sua fortuna comprando whey. Ou talvez ele tenha manipulado umas proteínas na batcaverna e criado um batwhey.

Ele é exímio lutador em diversas artes marciais e mestre na arte da camuflagem. Basicamente um ninja.

Ele é uma das pessoas mais perspicazes, inteligentes e calculistas do mundo, o que o qualifica como “o maior dos detetives”.

Ele sempre conhece (ou dá um jeito de descobrir) TODAS as fraquezas de qualquer oponente e as explora de modo a poder vencê-los. Ele sempre tem um plano, e mais doze ou treze planos de contingência caso dê alguma merda.

Ele já venceu o HULK.

Não conheço a fundo pormenores do universo Batman, mas assim, pincelando rápido, concluímos que ele é mais forte, ágil, inteligente e habilidoso que qualquer ser humano. Não que ele seja o maior em cada uma das características, mas fazendo a média delas todas, não há ninguém que se aproxime. Ele é capaz de desenvolver aparatos altamente tecnológicos (ou idealizar e terceirizar a produção para a Wayne Technologies, que seja), de manipular compostos químicos, lutar, dirigir, pilotar, fazer café e dar mortal de costas. E ele é apenas um homem comum que recebeu treinamento.

O Capitão América é o que é porque tomou o soro do supersoldado, e MESMO ASSIM tem apenas uma pequena parte dessa lista de skills. Superman tem aquela vasta gama de poderes, mas ele é qualquer coisa, menos um ser humano comum. Tony Stark tem suas bugigangas, mas ele é um engenheiro. Criar aquilo tudo é a única coisa que ele faz, e sem seus brinquedos ele apanharia até de mim (brincadeira, eu sou um bosta).

Portanto, senhoras e senhores, a maior Mary Sue do Universo DC (quiçá dos quadrinhos em geral) não é um kriptoniano com células energizadas por um sol amarelo. Não é alguém capaz de se mover na velocidade da luz, tampouco comandar criaturas marítimas. Não é uma deusa guerreira, um marciano, ou o detentor da arma mais poderosa do universo.

A maior Mary Sue enfrenta essa galera toda – e geralmente vence – fazendo uso apenas de suas traquitanas e estratégias, de seu intelecto e atleticismo teoricamente humanos. A maior Mary Sue está travestida de personagem crível, de um manto realista.

A maior Mary Sue de todas se chama Batman.