A cultura pop não seria a mesma sem Pamela Anderson | JUDAO.com.br

Salva-vidas, justiceira, guarda-costas de celebridades, ativista, recorde de capas da Playboy, inspiração para personagem criada por Stan Lee e maior sex symbol dos anos 90, a canadense definiu o caráter de muita gente

Caso você, como eu, tenha vivido sua adolescência nos anos 90, existe uma grande chance de que Pamela Denise Anderson tenha sido a EPÍTOME do “mulherão da porra” da época. Crush de muita gente antes de sequer existir o termo, fez o coração de muita gente bater mais forte ao vê-la correndo em câmera lenta com seu maiô vermelho asa delta pelas praias da Califórnia naqueles idílicos sábados à tarde em que a Rede Globo exibia Baywatch, ou S.O.S. Malibu, como ficou conhecido por essas bandas.

Casey Jean Parker, que talvez você conheça como CJ Parker, surgiu no episódio duplo River of no Return, premiere da terceira temporada, e foi o estopim da carreira de Anderson, uma vez que Baywatch se sagrou uma das séries mais assistidas do mundo de todos os tempos, resultado dos esforços de gente como David Hasselhoff em salvar a série após o naufrágio (viu o que fiz aqui?) de sua primeira temporada, exibida na NBC em 1989.

Atingindo pouco menos de 10 milhões de espectadores por episódio, a série acabou sendo cancelada — pela baixa audiência, somente a 74a entre 111 séries exibidas nas três maiores redes de TV dos EUA, e porque o GTG, estúdio que garantia a produção, acabou indo à falência.

Enquanto isso, na Europa, a série começou a fazer um certo e silencioso barulho e Douglas Schwartz e Michael Berk, co-criadores da série, acabaram comprando por US$10 os direitos da série e assinaram um contrato que, se até o fim daquele ano não desse certo, os direitos voltariam ao GTG; se tudo corresse bem, o GTG faturaria US$ 5 Mil por episódio. Seguindo os passos de Star Trek e aproveitando a grana dos exibidores internacionais, eles colocaram Baywatch num acordo de “first-run syndication”, que permitia que diversas emissoras exibissem a série, ao invés de apenas um.

O problema é que o dinheiro passaria a vir só depois da produção dos episódios, o que complicou as coisas, fazendo com que o orçamento fosse cortado em um terço. The Hoff, por exemplo, aceitou diminuir seu salário em troca de um cargo como produtor da série. Erika Eleniak, a protagonista da série, que interpretava Shauni McClain, que tomou um bronze, correu em slow motion e salvou gente afogada durante os primeiros dois anos, acabou resolvendo abandonar o barco.

Capa da Playboy pela primeira vez em Outubro de 1989 e Coelhinha do Mês em Fevereiro de 1990 e depois de dois anos interpretando Lisa, a “garota das ferramentas” da série Home Improvement (aqui batizada de Arrumando Confusão e/ou Gente Para Frente), foi só em 1992 que ela entrou para o elenco da série praiana como a nova salva-vidas loira — não sem quase ser barrada pelo novo produtor da série, David Hasselhoff.

“Ela tava usando uma roupa onde dava pra ver os seios pelo lado”, disse o ator ao NY Times. “Eu disse ‘eu não quero ninguém da Playboy. Esse é um show família'”. De acordo com Michael Berk, porém, “ele tinha medo que Pam e seus peitos se destacassem mais que ele”.

“Nunca me preocupei com isso”, negou The Hoff. “Mas ela exalava carisma. Eu saí da sala dizendo ‘mudei de ideia. Contratem ela’. E aí a contratamos na hora”.

C.J. integrou o time de trajes de banho vermelhos de Mitch Buchannon durante cinco temporadas, vivendo todas as provações da vida caiçara apresentadas no show, passando por terremotos, serial killers, ataques de tubarões resgates de animais marinhos e claro, muitos afogamentos, enquanto exibia seu visual turbinado, corpo sarado e longas madeixas douradas esvoaçantes ao vento durante suas corridas em slow motion pela orla.

Em 1996, porém, Baywatch correu novamente risco de cancelamento, com o roubo da primeira sextape da história de Hollywood, protagonizada por Pamela e Tommy Lee, baterista do Mötley Crüe, com quem ela se casou apenas QUATRO dias depois de conhecê-lo. Distribuidores internacionais exigiram a demissão da loira e os produtores consideraram a ideia, mas a história toda acabou fazendo com que a audiência subisse a cada episódio, e “a gente ia rindo pro banco”, contou Douglas Schwartz.

“Baywatch foi divertido e um sucesso provavelmente porque nós não sabíamos que diabos estávamos fazendo” (Pamela Anderson)

Com sua carreira consolidada, Pam, que personificou o biotipo definitivo da mulher americana, resolveu se arriscar em Hollywood, em alguns papéis ordinários em filmes qualquer nota, como A Flor Mortal e Desejo Fatal, até em 1996 estrelar Barb Wire – A Justiceira, uma versão sci-fi futurista de ação de Casablanca (sim).

No filme, Barbara Rose Kopetski é a dona da Hammerhead, uma boate localizada na “última cidade livre da América” quando o país, governado com métodos fascistas, passa por sua Segunda Guerra Civil, no ano de, vejam só, 2017. A moçoila também faz uns bicos como mercenária e caçadora de recompensa vestida em uma roupa preta de couro e decote impiedoso, e precisa ajudar uma cientista que possui informações sobre uma arma biológica de destruição em massa que pretende ser usada pelos militares, a cruzar a fronteira para o Canadá. Pense naquela típica e divertida bagaceira de ação dos anos 90...

Um ano depois de sua saída de Baywatch, em 1998, foi a vez de Pam viver por quatro anos seguidos a personagem Vallery Irons, dona de uma agência de guarda-costas na série V.I.P.. O enlatado fazia troça com sua própria imagem construída pelos tablóides, muito por conta dos escândalos do casamento conturbado com Tommy Lee e a vida das celebridades ricas e famosas em geral.

Em 2003 foi a vez de Pam inspirar Stan “The Man” Lee em sua mais nova criação, a stripper de dia e super heroína à noite (ou seria ao contrário?), Stripperella, no desenho animado homônimo, que durou uma mísera temporada de 13 episódios exibidos na Spike TV. Os poderes de Stripperella incluíam reflexos e força sobrehumana e inteligência acima da média, mas para combater o crime ela também usava alguns gadgets (de eficácia questionável) ao melhor estilo James Bond, movimentos sexy de artes marciais (ou o que raios isso lá queira dizer) e o seu cabelão loiro como paraquedas (!!!??). A bisonhice animada ainda contou com a participação de Jon Cryer, Tom Kenny (a voz do Bob Esponja) e até Mark Hammill emprestando seu gogó para alguns personagens, além da própria Anderson dublando a protagonista.

Um processo movido pela ex-stripper Janet Clover, que afirmou ser a real criadora da Striperella e que teve sua ideia roubada depois que Stan Lee ouviu a história durante um lapdance, acabou ajudando no cancelamento da série — quer dizer, Janet Clover desistiu do processo rapidinho, mas o barulho já tava feito e, bom, podemos dizer que foi o barulho que o processo fez que ajudou no fim da série.

The Rock e Pamela Anderson

Hoje em dia, quase cinquentona, ela continua mega engajada na causa dos direitos dos animais (é membra do PETA), no veganismo, na luta contra AIDS e na liberação do uso da maconha, além de atuar em inúmeros programas contra a violência nas mulheres, sem contar que dará o ar da graça em uma ponta na nova versão cinematográfica de Baywatch, que chega aos cinemas brasileiros essa semana.

E falando nisso, a boia de seu legado como salva-vidas foi passada para Kelly Rohrbach, que interpreta a nova C.J. Parker no longa metragem produzido e estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson. A modelo foi nomeada “Novata do Ano” na edição especial de trajes de banho da revista Sports Illustrated em 2015, ou seja, pelo menos dos paranauês de usar maiô, sabemos que ela segue os passos da rainha, que faz parte da história da cultura pop e pra sempre será a musa de S.O.S. Malibu em nossos corações!