E, enfim, o Netflix chegou a Black Mirror | JUDAO.com.br

Seis novos episódios da série antológica foram liberados nessa sexta (21) no serviço de streaming, mas parece mais é que o Netflix que estreou em Black Mirror

O fato de cada um dos seus episódios permitir infinitas interpretações é o que, essencialmente, faz de Black Mirror uma série TÃO boa. Cada um olha de um jeito para as ideias e sátiras que são feitas do mundo no qual vivemos hoje, usando um futuro próximo como exemplo, com as experiências pessoais de cada um servindo de ponto de vista.

A vantagem de serem poucos é que é realmente possível assistir a cada um dos episódios repetidas vezes e sempre vai dar pra enxergar a história de alguma maneira diferente. Nem mesmo White Bear, o tom mais escuro desta ANTOLOGIA, escapa — infelizmente, sabemos que existem SIM pessoas capazes de fazer aquilo.

E putaquepariu, que medo que dá.

A terceira temporada — ou terceiro pacote de episódios, como eu acho que prefiro chamar — chegou ao Netflix nessa sexta-feira, 21 de Outubro, agora como uma “série original” do serviço de streaming, o que já escancara a principal mudança em relação ao que a galera tá acostumada: o aumento da escala. Os seis novos episódios agora são superproduções, com elencos gigantescos (e em alguns casos, bem mais caros), cenários enormes e o fim do Reino Unido como local onde a série se passa.

Sim, agora temos histórias nos EUA, o que eu até consigo compreender; mas seria legal se o Netflix, no futuro, já que BREXITOU a série, fizesse um esquema meio Sense8 com Black Mirror, contando histórias ao redor do mundo. Sabemos o quanto isso é importante, afinal... :)

Versão de Testes

Versão de Testes

São seis novas histórias que, embora ainda usem a tecnologia pra criticar, satirizar ou expor nosso futuro — que pode ser já amanhã –, perderam um pouco da intimidade que as sete anteriores tinham. O maior exemplo é Versão de Testes, dirigida por Dan Trachtenberg (Rua Cloverfield, 10) e escrita pelo criador da série, Charlie Brooker.

Assim como absolutamente todos os outros (sim, a 3a temporada manteve isso), é um episódio que tem as mais diversas possibilidades de análise, mas tem muito pouca identificação com o que de fato vivemos, parecendo muito mais um aviso desesperado sobre o quão ruim pode ser a realidade virtual, tal qual um dia se desesperaram com o que a internet poderia fazer... O que por si só já é uma análise que poderia ser feita. ;)

AH! A Hannah John-Kamen, que interpreta a Sonja nesse episódio, interpreta também a Selma, de Quinze Milhões de Méritos. É a única atriz, até agora, a aparecer em dois episódios da série. CURIOSAMENTE, Anyone Who Knows What Love Is toca primeiro nesse episódio, também se repetindo em vários outros depois. ;D

Cala a boca de dança!

Cala a boca de dança!

Outro exemplo DESTOANTE de Black Mirror é o Odiados pela Nação, dirigido por James Hawes (Penny Dreadful, Doctor Who) e escrito por Charlie Brooker. É uma história que fala sobre linchamento virtual, justiça feita com “as próprias mãos”, os problemas de deixar coisas nas mãos de robôs e ATÉ MESMO a extinção das abelhas. É, no coração, um episódio tão clássico quanto o Hino Nacional, mas com 1h30 de duração acaba não conseguindo manter o clima no alto o tempo todo, chegando a resolver o mistério e cansar bem antes do fim.

Nesse sentido de “clássico no coração”, Cala a Boca e Dança é talvez o principal episódio dessa temporada. Escrito por William Bridges a partir de roteiro de Brooker, com direção de James Watkins (A Mulher de Preto), te deixa tenso do início ao fim, se arrumando diversas vezes no sofá, enquanto tenta entender se o que ele fez valia tanto esforço assim. O final choca: de repente você está questionando se aquilo não foi merecido...

É quase como um White Bear, contado de outra maneira. É de virar o estômago.

Bryce Dallas Howard em Perdedor

Bryce Dallas Howard em Perdedor

Engenharia Reversa, dirigido por Jakob Verbruggen (House of Cards) e também escrito por Brooker, mais uma vez tentou ser uma versão do tom mais escuro de Black Mirror; consegue chocar, consegue te fazer sentir aquele nojo da humanidade e medo do que o futuro nos reserva... Mas, ao mesmo tempo, é “só” uma versão futurista de algo que já vivemos. Talvez isso seja o mais assustador, nesse episódio.

Com direção de Joe Wright (O Solista, Desejo e Reparação, Orgulho e Preconceito), roteiro de Rashida Jones (Celeste e Jesse para Sempre, Toy Story 4) e Michael Schur (Parks and Recreation, The Office, Saturday Night Live) e estrelado por Bryce Dallas Howard (Jurassic World) e Alice Eve (Além da Escuridão: Star Trek), Perdedor é o grande episódio desse terceiro pacote... meio que literalmente.

É o primeiro episódio da lista (a ordem que eu escolhi pra falar dos episódios foi baseada na fluidez do texto! Se você quiser, porém, recomendo essa ordem pra você assistir; se nunca viu nenhum episódio da série na vida, comece com o TERCEIRO. ;D), são as caras mais usadas na divulgação desta temporada (Alice Eve e Bryce Dallas Howard deram várias entrevistas), se passa nos EUA e, enfim, é o cartão de visitas do Netflix para a série, chegando com os oito pés nos peitos de toda essa coisa de “social influencer” que domina a internet mundial, especialmente a Brasileira.

É uma grande e importante sátira, ainda que seja daquelas que soam mais como ridicularização ou caricatura, que farão dar risada, servirão para a identificação de uma ou outra pessoa e acabou. Dica: não é isso não.

San Junipero

San Junipero

Quando eu disse, no twitter, que tinha começado a assistir à Black Mirror, a Marina, do Jovem Nerd News, me ofereceu GIFs de gatinhos. Ela não sabia que eu tinha assistido ao S01E03 primeiro (culpa da maneira como o Netflix mostrava os episódios na tela), mas não foi a única reação parecida com “fodeu, mano. O mundo vai virar essa merda e você vai ver isso e vai perder toda a esperança na humanidade”. Black Mirror é meio que sobre isso, realmente.

Mas aí vem San Junipero, escrito por Charlie Brooker e dirigido por Owen Harris (Misfits) pra, da maneira mais Black Mirror possível, mostrar que nem tudo é tão ruim assim. Que o futuro pode ser bom. E o principal: que há esperança na humanidade, SIM.

Na história, Yorkie (Mackenzie Davis), recém-chegada à cidade californiana de San Junipero, conhece completamente sem querer Kelly (Gugu Mbatha-Raw) num daqueles clássicos arcades dos anos 80. Pela sinopse do Netflix Brasil, “uma jovem tímida e uma garota extrovertida embarcam em uma intensa amizade que parece transcender tempo e espaço”; mas a verdade é que elas se apaixonam. Só que em 1987?

San Junipero é o melhor episódio de toda esse novo pacote, mas de longe. E é também aquele que coloca um sorriso sincero no seu rosto, por mais que se possa discutir coisas como vida após a morte e eutanásia, além de mostrar os HORRORES da homofobia.

Recomendo, e muito, que esse seja o último episódio que você assista. :)

San Junipero é o melhor episódio da temporada — e um dos melhores de toda a série

Não sei se gostei desse “Netflix’s Black Mirror”, mas eu posso (do verbo “com certeza”) estar sendo chato, saudosista, old school, ódio eterno à maneira moderna de exibir séries. San Junipero e Cala a Boca e Dança são dois ótimos episódios e se tivéssemos ficado com Perdedor a mais, só pra seguir a linha de poucos episódios por temporada, talvez o gosto ruim fosse um pouco menor.

A vantagem, porém, é óbvia: teremos mais episódios de Black Mirror, e eles chegarão absolutamente todos os anos, não mais com aquele hiato gigantesco de quando eram exibidos no Channel 4, da Inglaterra.

De qualquer maneira, prepare-se: mais ou menos nessa época do ano, em 2017, novos episódios da série chegarão ao serviço de streaming, um deles dirigido por Jodie Foster. Se pra você for muito tempo, sem problemas: você tem 14 episódios pra assistir over e over again... :)