Brightburn: talvez Lex Luthor estivesse certo... | JUDAO.com.br

Produção do ~visionário James Gunn conta “o que aconteceria se” um bebê alienígena caísse em uma fazenda no Kansas e desse ruim

Muito se discute na psicologia sobre a maldade inata – aquela que já nasce com o ser humano, sem que haja uma explicação para o comportamento cruel que coloque na conta da criação familiar e ambiente social à sua volta. O sujeito nasceu ruim e vai ser ruim e pronto, desde criança. Esse comportamento já foi abordado em alguns filmes, como A Tara Maldita, Precisamos Falar Sobre Kevin e Meu Amigo Dahmer, mostrando casos em que, até mesmo quando vindos de famílias normais e funcionais, com condições, carinho, atenção, as crianças ou adolescentes em questão mostram ser cruéis e assassinas sem a necessidade de um trauma familiar.

Quando se pensa na história do Superman, diz-se que Kal-El teria se tornado o tipo de herói íntegro, modelo, bondoso, justo, reto como uma flecha (que lhe rendeu o apelido de Escoteirão) devido a criação e educação dadas por Jonathan e Martha (sim, AQUELA Martha) Kent, casal de fazendeiros simples, humildes, de bom coração que adotou o último filho de Krypton ao cair na Terra e lhe ensinou a moral e os bons costumes, transformando Clark no cidadão de bem mor.

Não há nada de diferente em Kyle e Tori Breyer, casal interpretado por Elizabeth Banks e David Denman, que com dificuldades de engravidar, certa noite receberam uma dádiva dos céus: um bebê alienígena que caiu com sua nave bem no quintal de sua fazenda em Brightburn, Kansas. O menino Brandon (o ótimo Jackson A. Dunn), o filho ET adotivo dos dois, foi criado no seio de uma família normal, amorosa e trabalhadora, sem nenhum motivo aparente, social ou parental, que poderia transformá-lo em um psicopata. Exceto ganhar um rifle de presente de aniversário do tio, mas né, estamos falando do Kansas eleitor do Trump, o que é só mais uma segunda-feira.

Pois bem: eis que, ao completar 12 anos e chegar à famigerada puberdade, Brandon tem uma espécie de chamado alienígena ancestral e uma força tentadoramente destruidora desperta no moleque. Ele descobre ser alguém “especial”, “acima dos seres humanos”, e com uma missão. Ao mesmo tempo que passa a manifestar seus superpoderes, que incluem superforça, vôo, indestrutibilidade e visão de calor, começa a usá-los para fazer o mal e obter vinganças pessoais contra quem o ameaça.

Brightburn – Filho das Trevas é quase um “o que aconteceria se” da rival Marvel, contando como seria se o Superman resolvesse usar seus poderes para ser um digníssimo e cruel filho da puta e TOMAR O MUNDO (algo parecido com o que acontece na série de quadrinhos e games Injustice, por exemplo). Desejo e maldade puramente inata, quase como se fosse de sua natureza extraterrestre e que a criatura talvez tenha sido enviada com esse propósito (como a própria comparação com uma espécie de vespas que ele dá em sala de aula), independente da criação dos pais, mas claro que libertada por gatilhos bem conhecidos do colégio e da adolescência, como bullying, sentimento de perseguição e rejeição.

Propositalmente semelhante a história de O Homem de Aço, o filme que tem por trás da produção (e da campanha de marketing) o nome do “visionário” James Gunn, manda a originalidade às favas e só deseja mostrar a outra face da moeda, e com uma liberdade criativa e principalmente gráfica que até me surpreendeu tratando-se de um filme de grande estúdio e tendo um moleque maligno como protagonista.

Dirigido por David Yarovesky, parça de Gunn (que dirigiu o videoclipe de Guardians of the Galaxy: Inferno, aquele mesmo da trilha sonora de Guardiões da Galáxia Vol. 2, estrelando o ator/cantor dos anos 80, Zardu Hasselfrau...), e escrito por Brian e Mark Gunn, Brightburn é um filme ousado, que nos momentos que precisa pegar pesado o faz com louvor, e não vira a câmera para violência gráfica e cenas de verdadeira aflição e gore. E tampouco se preocupa em ser didático (o maior mal do cinema mainstream atual) e muito menos em ser maniqueísta e dar qualquer tipo de lição de moral.

Vale sempre lembrar, também, que Gunn tem seu pezinho e apreço no cinema de terror, e que sua carreira começou com a Troma, o celeiro de bagaceira trash de Lloyd Kaufman, escrevendo o roteiro de Tromeu e Julieta, e logo depois, despontando ao roteirizar Madrugada dos Mortos, remake do clássico de George Romero dirigido por aquele outro cineasta “visionário”, além de estrear na direção com o ótimo Seres Rastejantes e recentemente escrever e produzir o também sensacional Dia de Trabalho Mortal, para a Blumhouse.

Redondinho, objetivo, violentamente gráfico e creepy (destaque para a máscara medonha que o moleque usa) quando é preciso, Brightburn – Filho das Trevas foi uma agradável surpresa por sua ousadia e vilania, sem amarras de fórmula de estúdio (principalmente com relação ao final). E olha que o Zack Snyder bem que tentou com afinco fazer o Supinho mais sombrio e até matando gente.

O General Zod que o diga...