Não, não é AQUELE filme que não chegou aos cinemas brasileiros. O assunto, no entanto, é o mesmo.
Cameron Post (Chloë Grace Moretz) é uma jovem que leva uma vida normal de uma garota do ensino médio em 1993. Sua vida muda completamente quando é pega beijando sua melhor amiga no banco de trás de um carro na noite do baile. Órfã e criada por sua tia em uma casa religiosa, ela é enviada para um centro de terapia de conversão que abriga adolescentes que estão “lutando pela atração por pessoas do mesmo sexo”.
Lá ela encontra o reverendo Rick (John Gallagher Jr), um garoto-propaganda que se diz salvo de cometer o mesmo “pecado” e orienta adolescentes de ambos os gêneros a se “curarem também”. Sua “cura” se deve graças à Dra. Lydia Marsh (Jennifer Ehle), sua irmã mais velha que administra o local e oferece terapias em grupo e individual baseadas em manipulação psicológica e implantação de uma vergonha passivo-agressiva em adolescentes que ainda estão se descobrindo sexualmente.
Esse processo de “recuperação” se parece bastante com a reabilitação de um dependente de drogas, em que o usuário precisa confrontar o foco da sua tentação e fazer o possível para evitá-la. Mesmo estando em um acampamento cristão, baseada no livro de Emily M. Danforth, a história acompanha o roteiro da diretora Desiree Akhavan e de Cecilia Frugiuele não introduz religiosos enlouquecidos, preferindo pessoas que usam a religião para justificar os medos dos próprios desejos — como Rick –, além do próprio preconceito.
Nesse local aparentemente bucólico e psicologicamente restritivo, Cameron acaba se conectando com pessoas que passam pelas mesmas questões que ela, seja a vergonha por acreditar que seus desejos devem ser reprimidos ou a certeza de que algo está errado dentro de si.
Aos poucos, ela descobre as histórias dos outros adolescentes com o objetivo de se adequar ao lugar, exatamente como fazia antes do acampamento, mas ao encontrar pessoas que resistem aos “tratamentos”, Cameron começa a se conhecer, questionar esses métodos e perceber que nenhum dos adultos ali sabe o que está fazendo.
Essa é a história de O Mau Exemplo de Cameron Post.
Em seu melhor trabalho EM ANOS, Moretz é uma peça fundamental para que o filme mantenha o tom certo, entregando a quantidade exata de vulnerabilidade para nos aproximarmos da protagonista. Essa ansiedade para se encaixar está presente em cada momento, mas será ainda mais representativo para qualquer pessoa que tenha lidado com sua própria identidade sexual.
Com bastante sutileza, Akhavan não se preocupa em criar grandes discursos sobre o absurdo desse método, escolhendo uma câmera que é quase como uma observação silenciosa sobre o que Cameron passa e vê. Essa escolha narrativa dá chance ao filme se desenvolver com naturalidade até o momento em que a manipulação psicológica gera ações extremas entre os adolescentes. Em um momento tão crucial da descoberta dos próprios desejos sexuais, os jovens são reprimidos antes mesmo de entenderam exatamente o que estão sentindo.
Nesse “processo de enfrentamento”, cada jovem recebe um desenho de um iceberg que representa suas mentes e mostra suas personalidades acima da superfície, mas os segredos que “causam a homossexualidade” estão abaixo e eles precisam descobrir quais fatores devem ser ~combatidos.
Esse método extremamente opressivo direciona os adolescentes a acreditarem que suas identidades devem ser motivo de vergonha e, portanto, precisam ser asfixiadas. Enquanto alguns jovens abraçaram esse conceito para conseguirem a “cura”, Cameron, em sua solitária confusão mental, não sabe dizer exatamente quem ela é. E mesmo no caso desses jovens que sucumbiram MESMO a essa lavagem cerebral, qual é o preço psicológico que uma escolha destas trará para suas vidas?
Proibida em vários estados dos EUA (e em todo o Brasil), a terapia de conversão – ou a tal cura gay – foi obviamente anunciada como uma fraude, mas os métodos de manipulação psicológica continuam presentes em nossa sociedade.
Enquanto nos encaminhamos para uma coletividade cada vez mais extremista, filmes muito bons como O Mau Exemplo de Cameron Post escancaram o absurdo de privar pessoas de serem o que elas quiserem ser.
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