Com venda da Fox, Disney encerrou um dos selos mais importantes de Hollywood nos últimos anos…
Com a compra da Fox pela Disney, claro, a gente sabe que tem muitos comemorando a adição dos X-Men ao MCU — enquanto muitos outros perdem o emprego e as oportunidades se tornam menores em Hollywood. Com a aquisição dos ativos de televisão e cinema da 21st Century Fox pelo valor de US$ 71,3 bilhões, a Disney “herdou” selos como a Fox Searchlight, especializada em produções independentes e filmes europeus, e sua irmã menos famosa, a Fox 2000.
Uma irmã que, sob a tutela da casa do Mickey Mouse, está oficialmente fechando as portas, de acordo com informação do THR. Ainda não se sabe o que será da chefe do estúdio, Elizabeth Gabler, e do time que trabalhava com ela no desenvolvimento destas produções.
A Fox 2000 era conhecida, desde seu surgimento em 1994, por receber produções de médio porte que não dependiam de propriedade intelectual como rola com os grandes estúdios – como a própria Disney e suas aquisições Marvel, Pixar e Lucasfilm. O selo foi responsável por produções que se tornaram importantes culturalmente, como O Diabo Veste Prada e Com Amor, Simon, um sucesso de crítica e público que arrecadou US$ 66 milhões ao redor do mundo com um orçamento de apenas US$ 17 milhões.
Outro grande filme produzido pela Fox 2000 foi A Vida de Pi, dirigido por Ang Lee, que recebeu grande apoio da presidente Gabler. Ela foi inclusive homenageada pelo cineasta quando ele recebeu o Oscar na categoria de “melhor diretor”.
Em seu discurso de aceitação pela vitória de Com Amor, Simon no GLAAD Media Award, esse ano, o diretor e produtor Greg Berlanti (criador do Arrowverse) expressou tristeza com o encerramento da Fox 2000, afirmando que a luta pela igualdade em salas de cinema se torna mais difícil a partir de agora. Sem o aporte de um grande estúdio, as produções de médio e pequeno porte perdem espaço para grandes lançamentos.
Segundo a Vanity Fair, esse apoio incondicional foi justamente o motivo do fechamento do estúdio, porque o filme de Ang Lee é um forte indicativo dos riscos que se corre para fazer uma produção. Como Bob Iger, CEO da The Walt Disney Company, está reformulando Hollywood com essa aquisição, existe uma expectativa coletiva de que os tipos de filmes que a Fox 2000 produzia entrem em uma baixa significativa na indústria — mesmo aqueles com uma mínima possibilidade de sucesso.
Produções de médio porte são caracterizadas por não fazerem vendas além do ingresso comprado, portanto não rendem qualquer material vendável. Mesmo ganhando um número considerável de fãs, se tornando referências culturais e sendo frequentemente revisitados, essas produções não interessam para estúdios enormes, porque não têm uniformes e capas, não geram bonequinhos e nem se transformam em atrações de parques de diversões.
Há 30 anos trabalhando na indústria cinematográfica, Gabler é conhecida por abraçar esse tipo de produção e oferecer todo o apoio possível para a história sair exatamente como o diretor, produtor ou escritor idealizou. Com sua vontade e o aporte da Fox mãe, sua divisão prosperou ao explorar uma vasta diversidade de cineastas e seu talento em escolher propriedades literárias que poderiam produzir bons filmes nas mãos certas.
Filmes como A Culpa é das Estrelas – com faturamento de US$ 307 milhões – e Estrelas Além do Tempo – com três indicações ao Oscar e US$ 235 milhões em bilheteria – são provas da capacidade do estúdio em escolher histórias boas e rentáveis. E todas essas produções agora fazem parte da biblioteca de filmes da Disney e provavelmente entrarão nos seus serviços de streaming.
O reconhecido sucesso de Gabler, 63 anos, na busca por bons livros para adaptações cinematográficas se deve ao nascimento de uma divisão exclusivamente focada em encontrar histórias com o consultor literário sênior Drew Reed. Essa divisão existe desde 2003 e pegou livros como Garota Exemplar, The Maze Runner e o inédito The Woman in the Window. Ela descobriu que sua divisão seria encerrada no dia seguinte à confirmação oficial da compra e, desde então, tem se recusado a comentar o assunto junto à imprensa especializada. Mas sabe-se que, obviamente, ela está arrasada. Não só ela, aliás.
“Eu fiquei chocado e devastado”, afirmou David Frankel, diretor de três filmes produzidos pelo estúdio, incluindo Marley & Eu. “Ela criou um lar para uma vasta diversidade de cineastas — e construiu uma lista extraordinária de grandes filmes, do tipo que está cada vez mais difícil fazer nos dias de hoje. Quem sabe onde este tipo de filme vai parar? Dá pra fazer O Diabo Veste Prada hoje? Não sei”.
Além da óbvia capacidade do selo, o encerramento da Fox 2000 diminui ainda mais a pouca diversidade de Hollywood. Porque apesar de pequena, a equipe de Gabler tinha cinco executivas e todas mulheres, além das suas assistentes. Isso é inédito na indústria, mas nunca foi divulgado pelo selo como um feito ou um diferencial. Simplesmente ERA, já que essa força feminina não partiu de uma iniciativa, mas do trabalho de cada uma delas.
Agora, a esperança está no futuro de Gabler já que, ainda segundo o THR, a Paramount Pictures, a Sony Pictures Entertainment e um serviço de streaming não nomeado estão disputando sua atenção. Esperamos que sua futura nova casa saiba valorizar o trabalho realizado pela Fox 2000, mas, com a morte do estúdio, fica claro que uma porta para a diversidade de histórias infelizmente se fechou em Hollywood. Talvez seja a primeira de muitas.
Mas AH OS VINGADORES E OS X-MEN...
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