X-Men: Apocalipse é o melhor filme da trilogia original dos mutantes | JUDAO.com.br

O problema é que essa não é a trilogia original…

Nessa concorrida temporada 2016 de filmes baseados em quadrinhos, aquele que menos vinha chamando a atenção era X-Men: Apocalipse. Sei lá, pelo que deu pra ver no trailer tá legal, assistiria ao filme de qualquer forma, fã de quadrinhos, tudo bonito plasticamente... mas meio morno, sem graça, sem impacto, sem uma narrativa interessante. Em resumo, nada muito empolgante.

Só que o impacto que o filme causou foi EXATAMENTE o mesmo que os trailers. O visual é incrível, a trilha é ótima, a direção de arte que retrata os anos 1980 é impecável. Mas tudo soa vazio. Oco. Não é um filme ruim. Mas está longe de ser um filme bom. É mediano. Fica num imenso e perigoso vácuo entre Guerra Civil e Batman vs Superman. O que isso quer dizer? NADA. E não tem coisa mais horrenda do que um filme que não tem nada a dizer.

Apocalipse é o pior dos filmes desta nova trilogia. Dizer que ele é tão ruim quanto X-Men: O Confronto Final, do Brett Ratner, é quase um exagero. Digamos que o novo filme passa raspando. E, vamos ser bem honestos? X-Men: Apocalipse conversa muito mais com os dois primeiros filmes dirigidos por Bryan Singer do que com Primeira Classe, por exemplo. Parece a continuação que Bryan Singer não conseguiu fazer porque decidiu se meter a babar o ovo de Richard Donner com Superman: O Retorno.

Se Dias de Um Futuro Esquecido era um filme dirigido por Bryan Singer que não parecia ser dirigido por Bryan Singer, até por ter pegado o bonde de Matthew Vaughn meio que andando, este Apocalipse tem MUITO do diretor. E entenda isso como quiser.

Conjugue o verbo VER

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Apocalipse até que começa bem. Tá bom, dava pra acelerar um pouco o ritmo na apresentação de En Sabah Nur, o primeiro mutante de todos, em pleno Egito. E faria sentido evitar subestimar a nossa inteligência com a conexão Cairo-Berlim a la novela da Glória Perez. Mas até que foi indo, em especial no que diz respeito ao reaparecimento do Magneto, numa apresentação sempre bastante competente de Michael Fassbender. A Mística, olha, tudo que ela faz é resgatar o Noturno e depois curtir a fama entre os mutantes mais jovens que os acontecimentos do filme anterior lhe proporcionaram. É pouco. Bem pouco para quem deveria assumir o papel de “líder” desta galerinha aê.

O treco começa a degringolar DE FATO quando o Apocalipse recruta seus Cavaleiros. Os visuais do Anjo (com e sem asas metálicas), da Tempestade e da Psylocke são lindos, totalmente história em quadrinhos. Mas os três personagens, sem exceção, são meros enfeites, andando de um lado pro outro da tela sem qualquer função além de completar o número requerido de quatro cavaleiros, agindo durante meros quinze minutos de luta diante do templo do vilão, em cenas de ação bastante genéricas e que empolgam pouquíssimo. Olivia Munn, cê tava ótima com o uniforme da ninja psíquica, sabe? Mas, da próxima vez, pede para não resumirem as suas únicas passagens que realmente importam lá nos trailers, tá? Porque, sim, todo mundo já sabia que você ia cortar aquele carro no meio.

Nunca achei que o Apocalipse fosse a melhor escolha para este momento. Além de ser poderoso demais, o mutante é também meio MÁGICO demais, numa pegada mística que não combina com o ar científico que CIRCUNDA a rapaziada X nos cinemas. Todo pintado de roxo, Oscar Isaac é pura canastrice, mas daquele tipo que se espera de um malvadão exagerado e repleto de frases prontas, com o objetivo de dizimar o planeta para reescrever tudo do jeito que acha que tem que ser. O foda é que ele parece deslocado. Não combina com os X-Men. Em certo momento, juro que esperava que os Vingadores aparecessem para dar cabo do problema.

Aí, conforme nos aproximamos do ato final, Singer parece pisar no acelerador como se pensasse “é agora, preciso acabar o filme e tenho um monte de coisa pra enfiar aqui”. E tome um monte de referências jogadas na sua cara, seguindo a escola Zack Snyder. Puro fan service, mas não daquele tipo que contribui para a história e que, de alguma forma, farão sentido até mesmo para quem não lê gibis.

Duas delas em particular, talvez as duas maiores, que lembram momentos icônicos dos X-Men nos gibis, simplesmente não precisariam existir. Não contribuem em nada com a história. Basta assistir e pensar que a trama poderia facilmente seguir e se resolver sem elas, que estes trechos poderiam ser inteiramente editados e jogados fora – e o filme fecharia suas pontas sem dificuldade. Quer o pior? Elas nem te pegam de surpresa. Conforme o filme vai caminhando, você já adivinha de bate-pronto o que vai rolar. Não precisamos dar qualquer dica aqui.

X-Men: Apocalipse

A melhor coisa do filme? Bom, assim como acontece em Dias de Um Futuro Esquecido, sem dúvida é o Mercúrio. Os jovens Ciclope e Jean Grey funcionam, o Noturno teen é puro amor. Eu veria um filme inteiro só com os três. Mas é Pietro (ou Peter) quem rouba a cena sempre que aparece. Evan Peters é um ótimo ator, com um timing cômico apurado, e ganhou algumas das sacadas mais divertidas da história, que ainda lhe dá o direito de fazer uma versão 2.0, mais bombada e cheia de adrenalina, daquela sequência em câmera lenta que marcou o filme anterior.

Quando os x-estudantes mais jovens dão uma fugida e resolvem dar um pulo no cinema, vão assistir logo O Retorno de Jedi. Jubileu diz que O Império Contra-Ataca é melhor e mais bem-acabado, enquanto Ciclope defende que sem o primeiro, Uma Nova Esperança, nada daquilo existiria. Mas aí Jean Grey mata a charada: “Dizem por aí que o terceiro é sempre o pior da trilogia”.

Pois é. A futura Garota Marvel não poderia estar mais certa – e o que era uma piadinha simpática acabou virando pura metalinguagem. Uma pena.

A cena pós-créditos, no entanto, entrega um futuro com bastante potencial, fazendo referência a um dos personagens mais interessantes das HQs mutantes. Mas sabe-se lá como diabos eles vão aproveitar este gancho.

Ao longo do ano, aposto que vamos passar um tempão discutindo como Guerra Civil é bom, como Batman VS. Superman cagou. Mas a probabilidade de simplesmente esquecermos que assistimos X-Men: Apocalipse este ano é imensa.