Def Leppard acerta as contas com o Rock in Rio | JUDAO.com.br

Além de finalmente receber o espaço que merece nos palcos brasileiros, a veterana banda inglesa fecha uma ponta que ficou solta lá em 1985, na primeira edição do festival

No dia 21 de Setembro, no palco principal do Rock in Rio, teremos a grata oportunidade de ver a história sendo feita. Não, não é porque esta “deve ser” a última apresentação do Aerosmith por aqui (isso se você é daqueles que acreditam quando bandas de rock anunciam as tais “turnês de despedida”, né), tampouco porque temos o retorno de Billy Idol ao festival, depois de ser uma das atrações da sua segunda edição, em 1991. Nada disso.

Mas sim porque o quinteto britânico Def Leppard vai enfim desembarcar no Rock in Rio, para que ambos, banda e evento, possam selar uma dívida que vem desde 1985.

Um dos mais populares nomes do hard rock em todo o planeta, originalmente da chamada new wave of british heavy metal (NWOBHM) e atualmente bastante subestimado, o Def Leppard surgiu no final dos anos 70 mas, lá pela metade da década seguinte já tinha conquistado o mercado e uma fatia considerável de fãs.

Mas chega a ser curioso que eles só tenham passado uma única vez por aqui, em 1997, e a experiência tenha sido fracassada justamente em um país que costuma receber tão bem bandas clássicas de metal e rock pesado. Na ocasião, o show no Rio de Janeiro teve público bem abaixo do esperado, enquanto uma das duas datas em São Paulo acabou cancelada justamente pela baixa procura de ingressos. Na outra, a casa de shows que comportava 8.500 pessoas recebeu por volta de 250. É, isso mesmo. o_O

E, pensem vocês, estamos falando de um grupo que vinha de uma fileira de grandes sucessos como os álbuns Hysteria (de 1987, seu mais representativo estouro de vendas) e Adrenalize (1992), com a faixa Pour Some Sugar On Me estouradíssima e até uma versão, de gosto claramente questionável, para a sua balada Love Bites – aquela que, por aqui, tornou-se Mordida de Amor, ao som do hoje jurássico grupo Yahoo, sob a batuta do brilhante guitarrista Robertinho do Recife.

“Acho que o Rio de Janeiro não gosta de nós”, afirmou certa vez, em entrevista ao site brasileiro Vamos Musicalizar, o guitarrista do Def Leppard, Phil Collen. “Acho que 100 pessoas apareceram naquele show e eles foram ótimos. Nós apenas descemos e tocamos. Nós pensávamos que o Rio seria ótimo, porque todos diziam que eles nos amavam lá. Nós fomos e ninguém apareceu”.

Já o vocalista Joe Eliott, em um papo com o programa Palco MTV à época, tentou arriscar uma teoria. “Alguns disseram que se tivéssemos vindo antes, o público teria sido maior. Mas a verdade é que não sei explicar”. Eles chegaram a ser praticamente confirmados para tocar na estádio do Palmeiras, depois da reinauguração em 2014, mas acabou nunca acontecendo (por mais que eles tenham dados as caras em um vídeo promocional, confirmando a coisa toda).

O grande ponto aí é que, realmente, a história do Def Leppard com o Brasil deveria ter começado anos antes. Mais especificamente naquele 1985, quando os caras estavam escalados para fazer duas apresentações na versão inaugural do Rock in Rio. Uma puta expectativa, auge do interesse da molecada pelos sons mais pesados, primeiro festival do tipo por aqui, primeira vez em que tantas bandas e artistas que os fãs brasileiros só conheciam daquele monte de fitas piratas trocadas na frente da Galeria do Rock aportariam em nossas terras.

Aquele era um momento SOBERBO também para a banda. Recém-saídos do disco Pyromania (1983), com hits como Rock of Ages e Rock! Rock! Till You Drop, eles não apenas tinham vendido milhões de cópias como uma pesquisa do Instituto Gallup indicava que o Def Leppard era a banda mais popular daquele momento nos EUA e também na Inglaterra. Junte a isso tudo o fato de que o clipe de sua canção Photograph venceu ninguém menos do que o rei Michael Jackson e sua Beat It pela preferência dos fãs na MTV e, olha só, eis um grupo de roqueiros no topo do mundo.

A grande tragédia que mudaria tudo aconteceu no dia 31 de Dezembro de 1984, quando o baterista Rick Allen sofreu um terrível acidente de carro nos arredores de Sheffield, cidade-natal da banda. O músico acabou tendo o braço esquerdo amputado e qualquer tentativa de recolocação do membro acabou rejeitada pelo corpo. Para muitos, isso significava o fim da sua carreira musical, mas Allen não se entregou e garantiu aos colegas de banda que poderia continuar como responsável pela batera.

Todos os seus colegas não apenas concordaram como, além de sequer cogitar um substituto em qualquer momento, ainda deram uma pausa nas atividades para que ele pudesse se recuperar. No fim, o baterista reconstruiu a sua bateria, desenvolvendo um kit único e exclusivo no qual ele consegue fazer com os pés boa parte do que fazia com o braço perdido, graças a um kit eletrônico. O retorno definitivo se daria em 1986, durante uma apresentação histórica e emocionante no Monsters of Rock inglês.

Só que... e aí? Muito antes disso tinha aquele tal de Rock in Rio. Pois é.

O Def Leppard cancelou sua apresentação por aqui — alguns dizem que por conta do acidente, outros justificam afirmando que foi por causa dos problemas nas gravações do Hysteria (e que o cancelamento teria rolado um mês antes da tragédia com o batera). O ponto aí, não importando quem está certo cronologicamente falando, é que toca a família Medina a procurar um substituto que pudesse segurar a bronca — no caso, outro gigante do hard rock, o Whitesnake, que se apresentava na turnê do discaço Slide It In, lançado no ano anterior.

O Def Leppard chega ao Brasil agora divulgando o seu disco homônimo, lançado no finalzinho de 2015, e o CD+DVD ao vivo And There Will Be a Next Time. Mas, antes do Rock in Rio, o Leppard vai sair em uma turnê conjunta pelos EUA a partir de Abril junto com os contemporâneos do Tesla e do Poison (em uma série de shows com os quatro integrantes originais pela primeira vez em mais de cinco anos).

Cá entre nós...? Se o Def Leppard consegue atrair para esta empreitada as duas outras bandas parceiras e, além do Rock in Rio, ainda emenda uma mini-turnê BR, eles não apenas vão selar a dívida como vão deixar uma boa parcela de gorjeta pra gente.

Eu é que não iria reclamar da boa vontade.