Diana & Kasia & Meghara & Evrayle... <3 | JUDAO.com.br

Wonder Woman #2 estabelece que houve muito amor de outras mulheres para a Mulher-Maravilha enquanto ela vivia em Themyscira — e já estava na hora disso acontecer

Themyscira, a Ilha Paraíso, e todo o PANTEÃO das Amazonas sempre foi um dos cantos mais interessantes do Universo DC. Criada como base da Mulher-Maravilha pelo psicólogo William Moulton Marston, a ilha foi ganhando personalidade a cada década, com várias versões. Porém, em todas elas, o que ficou de comum é que Themyscira é o lar de amazonas fortes e incríveis.

Uma coisa que sempre me chamou a atenção nessa história foi a questão do amor e dos relacionamentos carnais. A partir da visão de Marv Wolfman, nos anos 1980, ficou estabelecido que as amazonas eram mulheres que sofreram nas mãos dos homens e que, ainda na época da Mitologia Grega, receberam dos deuses sabedoria, força e amor para viverem a vida que quisessem em uma ilha só delas.

Só que em nenhum momento as amazonas se auto impuseram um “celibato” pra viver em
Themyscira, que é o que ficava parecendo para o leitor — por mais que houvesse um ou outro subtexto em algum personagem secundário, ou ainda aquela famosa passagem no gibi da Liga da Justiça nos anos 1990, que dava a entender que existiam relacionamentos entre as amazonas. Tudo isso era algo bem tímido, passava despercebido tranquilamente.

Com Diana Prince, então, era pior: a impressão que se tinha é de que viveu toda a vida pra se apaixonar pelo primeiro homem que apareceu em sua frente, Steve Trevor.

Finalmente nesta semana a DC está começando a arrumar isso, considerando a cronologia oficial, com a publicação de Wonder Woman #2, que rolou nessa quarta (13). E esse começo é justamente com a Maravilhosa.

O gibi faz parte do plano maior do roteirista Greg Rucka para o Rebirth, o relançamento editorial da DC. Tudo começou pelo especial Wonder Woman: Rebirth, que estabeleceu que, ao menos na mente da Diana, as diversas origens que ela teve dos anos 80 pra cá são, de alguma forma, válidas. São várias vidas que ela viveu e que fazem dela o que é hoje — e se você conhece só uma dessas versões, tá tudo bem.

Mas nem tudo é tão simples assim. A heroína também descobre que estão mentindo pra ela, que parte da história que ela conhece é uma mentira e partir daí, a história se divide em duas partes — a primeira, iniciada em Wonder Woman #1 e que irá correr nas edições ímpares, terá Diana indo atrás dos mentirosos; a segunda começou em Wonder Woman #2 e rolará nas revistas pares, sempre revelando o passado da heroína.

Mulher-Maravilha

Por “passado”, esqueça aquela história de origem basicona, se vão entrar no mérito da Mulher-Maravilha ser criada a partir do barro ou ser filha de Zeus. O que Rucka irá explorar (junto com a bela arte da Nicola Scott) é a fase de Diana já adulta, conhecendo Steve Trevor, assumindo o manto de Mulher-Maravilha e indo para o mundo do patriarcado. Como o próprio arco de intitula, é um “Year One” da Maravilhosa.

É nesse contexto que sabemos que Diana tem vontade de conhecer o mundo dos homens, instigado pelo fato dela, diferentemente das outras, ter nascido depois e nunca ter ido para além das praias da Ilha Paraíso. E sabemos também que ir para o mundo dos homens não só seria ruim para ela, como partiria o coração da Kaisa.

Assim, de forma tranquila, Rucka introduz o amor entre Diana e Kaisa. Afinal, elas são amazonas, aquela é a vida delas. Elas se amam, se odeiam, se apaixonam, se encantam, tem desejos sexuais... Tudo sem precisar dos homens. Se relacionar é parte desse processo natural, que deveria ter estado aqui desde sempre — e, até por isso, é legal vê-lo introduzido como se não fosse grande coisa.

A HQ também coloca, em certo momento, que Kaisa nem deve ter sido o primeiro amor de Diana. Meghara e Evrayle provavelmente vieram antes. Afinal, experimentar faz parte da vida.

A ideia da Mulher-Maravilha se relacionando com outras mulheres já tinha aparecido antes, mas nunca em HQs que faziam parte da cronologia principal da editora. Em Sensational Comics, por exemplo, a Mulher-Maravilha já tinha dado a entender que casamento entre mulheres era comum em Themyscira. Em Wonder Woman: Earth One, Grant Morrison já colocou um relacionamento da Diana com outra amazona. Porém, todos sabemos que, no final do dia, a cronologia oficial é aquela que tem mais peso, que realmente “conta” para os fãs. Por essas e outras, Wonder Woman #2 é representativo.

Isso tudo faz muito sentido quando pensamos em William Moulton Marston. O criador da personagem foi um famoso defensor dos direitos das mulheres e do feminismo, inclusive colocando a Mulher-Maravilha como grande exemplo para as mulheres que lutavam contra submissão na qual eram colocadas. Na vida real, Marston levou deus ensinamentos ao pé da letra, vivendo com duas mulheres um relacionamento que na época não era bem entendido — e nem seria agora.

Cada vez mais fica claro a importância da Mulher-Maravilha para o universo. Mais do que uma heroína, ela é a representação de uma luta maior em toda a nossa sociedade. Uma luta que, hoje, tem mais uma pequena vitória para colocar na conta.

Muitas outras vão vir.