Discos de 2017 que você deveria ouvir | JUDAO.com.br

A gente separou OITO álbuns nacionais e mais OITO internacionais que fizeram a nossa cabeça ao longo deste ano caótico que passou

Já pavimos e já pacomemos, as luzinhas continuam piscando com aquela sensação de inutilidade, os supermercados vendem panetone quase um ano antes do Natal, as uvas passaram, os namoradinhos também e o único pensamento no momento é o da jaca dos próximos dias.

É isso aí. Em resumo, mais um ano se encerra. Pra quem é do mundinho da música, é tradição aproveitar esses dias que parecem todos iguais pra comparar as listas de todas as principais publicações especializadas, NME, Spin, Uncut, Classic Rock, Rolling Stone, Billboard, comparar quem liderou, quem ficou de fora – e, obviamente, escutar aqueles nos quais você nem lembrou de dar um play mas sempre é tempo. :)

Aqui no JUDAO.com.br, este que vos escreve ultrapassou a marca de 200 álbuns lançados em 2017 devidamente ouvidos e, apesar de um bocado de tralha, teve MUITA coisa boa. Então, fizemos abaixo uma compilação de OITO discos nacionais e OITO álbuns gringos que fizeram as nossas vidas mais felizes com fúria, folia, doçura e melodia. Eles NÃO formam um ranking e NÃO estão em qualquer tipo específico de ordem, ok?

É só uma recomendação nossa pra que você monte a sua playlist e DIVIRTA-SE! :D

Canções Para Depois do Ódio (Marcelo Yuka)

Em Janeiro a gente já falava que este era um dos discos pra se ouvir em 2017. Continua sendo e continuará também em 2018. Menos rock e mais uma MPB eletrônica madura, com um timaço de colaboradores, para tempos de incerteza, mantendo a esperança em um mundo melhor.

Gods of Violence (Kreator)

Que coisa maravilhosa poder ver que uma banda veterana como estes persistentes alemães não apenas não abre mão de continuar sendo quem é, com muita personalidade, como não se dobra e não deixa a violência de lado. Mas tem espaço pra melodia, sempre ela, num caldeirão que puxa e amplia as fronteiras do thrash metal, sem se preocupar com o que os fãs mais xiitas poderiam pensar. Ainda bem.

Espiral de Ilusão (Criolo)

O Criolo já tinha dito por aí que o rap e o samba são irmãos – faz sentido, se a gente considerar que antes do ritmo e da poesia serem a voz da periferia, o samba era a trilha-sonora dos marginalizados. Então, nada mais justo que um dos principais nomes do nosso rap contemporâneo, que sempre conectou suas letras com outras sonoridades brasileiras, chegar num disco cheio de larará.

Emperor of Sand (Mastodon)

Um exercício de exorcismo de tragédias pessoais, que se cristalizaram em muitas formas de câncer, deu origem a um dos discos mais maduros, intensos e poderosos de uma banda representativa do atual cenário da música pesada nos EUA. Um álbum repleto de camadas, pra se ouvir muitas e muitas vezes.

Galanga Livre (Rincon Sapiência)

Numa lista que tem uma quantidade considerável de discos de metal, é absolutamente representativo que eu te diga que talvez este seja o álbum mais soco no estômago do ano. Que porrada o primeiro álbum solo completo do rapper que já é conhecido de longa data de cena hip-hop paulistana. Ouça inteirinho, sem pular uma única música.

DAMN. (Kendrick Lamar)

Num ano bastante rico para o rap nos EUA, com novos discos de Jay-Z, Tyler The Creator e até um renovado e mais incendiário Eminem, Lamar chega ao seu quarto disco mostrando que o hype em cima de seu nome tá longe de ser apenas passageiro. Em termos sonoros, talvez seja sua obra mais simples, direta ao ponto. Mas é justamente aí, neste quase minimalismo, que o cara acerta mais uma vez. Um verdadeiro profeta do caos numa América em chamas.

Ottomatopeia (Otto)

Tenho uma relação bastante particular com o Otto, o 1o artista que entrevistei como jornalista profissional, lá no comecinho da minha carreira, e chego a ficar orgulhoso de vê-lo soltar um álbum como este, delicioso, leve, suave, iluminado, que não deixa de ser um ato político mas que fala principalmente de amor. Só vem.

The Sin and The Sentence (Trivium)

Ouvir as pessoas dizendo que este é o Black Album do Trivium pode parecer exagero... mas não é. Tampouco é uma crítica, aliás. Se o Trivium já era uma banda em crescimento constante nos últimos anos, o que eles fazem neste álbum é quase como se fosse o seu best of, juntando tudo que eles fizeram de certo até aqui e deixando os excessos pelo caminho. No fim, temos talvez um dos discos de rock mais bonitos do ano. É peso com poesia, é melodia com porradaria. É tudo junto e funcionando bem direitinho, uma verdadeira engrenagem que aponta um caminho brilhante.

Antes Durante Depois (Pavilhão 9)

Que retorno este do Pavilhão 9, egresso dos anos 90, uma espécie de filho bastardo do rap e do rock. E, bom, não dá pra discordar que em 2017, quando eles completam bons 25 anos de carreira, os MCs Rhossi e Doze não poderiam ter mais material bruto para voltar a disparar a sua metralhadora sonora pra tudo que é lado, sem rodeios, sem frescura, ainda mandando bronca.

Blood Lust (Body Count)

Chega a ser bastante sintomático que no Brasil o Pavilhão 9 volte à atividade, enquanto nos EUA o Body Count ressurja com um álbum tão cacetada quanto este, com direito a uma canção que você PRECISA ouvir como é esta No Lives Matter. É uma banda no auge, com Ice-T sem medo de falar sobre racismo, violência policial, política, metendo o dedo na cara nesta mistura furiosa de rap e metal que é, na real, o outro lado da moeda do disco do Kendrick. Dois lançamentos absolutamente complementares.

A Gente Mora no Agora (Paulo Miklos)

Talvez o mais interessante integrante dos Titãs, o multifacetado Paulo Miklos em carreira solo não optou por um caminho óbvio – e isso foi simplesmente maravilhoso. Seu primeiro disco sozinho, sendo bem franco, não é o retrato de um sujeito assim tão sozinho, porque o que não faltam são colaborações aqui, com Emicida, Céu, Guilherme Arantes, Mallu Magalhães, Erasmo Carlos e até os velhos parças Nando Reis e Arnaldo Antunes. Pura poesia, livre de rótulos.

1755 (Moonspell)

Esta banda portuguesa sempre foi subestimada, inclusive dentro de seu próprio nicho, por quem gosta do estilo. E eis que então, este ano, eles optaram por um álbum inteiramente cantado em português, com aquele sotaque maravilhoso, pela primeira vez em sua história, falando sobre um assunto bastante árido – um terremoto que devastou Lisboa em 1755. É um disco de tons sombrios, trágicos, que fala bastante com o mundo em que vivemos.

Bixa (As Bahias e a Cozinha Mineira)

É pop, é moderno, é eletrônico, é urbano, é dançante, é ao mesmo tempo, como elas mesmas descrevem, tropicália e Michael Jackson. E é sim um arraso. Que tem muito a dizer sobre preconceito, principalmente se você sabe ler as entrelinhas, mas não abaixa a cabeça. É um som de cabeça erguida, de quem faz carão e encara a vida de frente.

Amber Galactic (The Night Flight Orchestra)

Cê me escuta dizendo que este é um supergrupo formado por integrantes do Soilwork, do Arch Enemy, aquela coisa toda, já imagina um metalzão pesado, death metal da escola sueca pra sangrar os tímpanos. Porra nenhuma. Este projeto paralelo tem não apenas um quê de progressivo como, neste álbum, flerta com funk, soul, R&B. Vira até uma coisa dançante, com coraizinhos, sintetizadores botando pra quebrar... Inesperado. E delicioso.

Tr3s (Project46)

A gente podia ter colocado o novo do Sepultura nesta lista? Podia. Mas preferimos reservar um espaço aqui pro Project46, banda que lança seu terceiro disco numa carreira de muita ralação, que não se desconecta do peso, que chuta a porta sem dar tempo pra respirar. Imagens de caos, terror e pesadelo, tudo devidamente cantado (e berrado) em português numa produção fodástica.

Songs of Love and Death (Me and That Man)

Outra decisão totalmente fora da zona de conforto, que pegou os fãs de surpresa – e ainda bem. Temos aqui Nergal, vocalista da instituição polonesa do metal extremo, meio black meio death, o Behemoth (que, aliás, anda numa fase maravilhosa). Mas ele se juntou com o cantor folk John Porter e o resultado é country, é blues, é tipo uma versão ainda mais macabra e cheia de tons de cinza do Johnny Cash com um tempero meio Nick Cave. É lindo, é melancólico, é a trilha sonora de um western infernal.