Discos de 2018 que você deveria ouvir | JUDAO.com.br

Pelo segundo ano seguido, a gente separou OITO álbuns nacionais e mais OITO internacionais que fizeram a nossa cabeça ao longo deste ano caótico que passou

Segunda quinzena de Janeiro. Pronto, AGORA SIM eu tô pronto para este momento. Eu sou meio que um fanático por listas, sabe? E também um fanático por música. Chega no final do ano, portanto, eu me realizo em dobro porque todas as principais publicações musicais do Brasil e do mundo liberam as suas tradicionais listas de melhores álbuns. Eu adoro, ainda que saiba que é um resquício de um modelo velho, moribundo, caquético.

Mas curiosamente, a MINHA lista de melhores eu nunca publico/divulgo neste período já lendário, primeira quinzena de Dezembro. Por dois motivos — e ambos têm a ver com evitar cometer alguma injustiça sonora. O primeiro deles é porque, vamos lá, o ano só acaba quando termina. Gente, e se sair algum disco MUITO foda nas semanas finais de 2018 e eu deixar passar? E o segundo motivo são as próprias listas. Que, pra mim, são a chance de garimpar algo que eventualmente eu tenha deixado passar nos outros 11 meses e agora vou ter a chance de ouvir.

Foi assim que chegou nos meus ouvidos, por exemplo, o Young & Dangerous, segundo disco de estúdio dos ingleses do The Struts, que só ouvi justamente nas listas de melhores do ano que as publicações gringas e nacionais começaram a publicar ANTES do ano acabar e teve tempo suficiente pra ser maturado na minha cabeça ao longo de duas ou três audições.

Da mesma forma que rolou ano passado (e que já é tradição aqui no JUDAO.com.br), fizemos abaixo uma compilação de OITO discos nacionais e OITO álbuns gringos que fizeram as nossas vidas mais felizes. Eles NÃO formam um ranking e NÃO estão em qualquer tipo específico de ordem.

Tem, em resumo, opção de monte pra você montar a sua playlist e se divertir. :)

Bluesman (Baco Exu do Blues)

Em novembro, quando fez a resenha deste disco, a Bia disse que ele era “o álbum que precisávamos ouvir nesse exato momento”. Em janeiro de 2019, isso faz ainda mais sentido. É rap nacional cheio de camadas e complexidades sonoras, sublime em suas sutilezas mas, ainda assim, é rap na sua mais pura essência, aquele de rimas certeiras, sem papas na língua, político, intenso, furioso, que cutuca aquilo que você nem imaginava que tava ali.

Prequelle (Ghost)

A máscara do sueco Tobias Forge caiu, mas o cara manteve o teatro: criou uma história ainda mais envolvente como pano de fundo pro seu Ghost, com um novo Papa nos vocais. Ou melhor, é bom que se diga, um aspirante a Papa, um Cardinal Copia com pinta de canalha, de usurpador. A sonoridade deixou o metalzão pra lá e ficou ainda mais pop, flertou com o pop, dormiu com o pop, passou pop no corpo igual Monange. O resultado é uma delícia bem mais Square Hammer do que qualquer outra coisa, guitarrinhas sacanas, refrões fáceis, melodia pra cantar junto. Rock de arena, basicamente.

Vulcão (The Baggios)

Talvez “vulcão” seja de fato o nome mais apropriado pra esta banda/dupla de Sergipe, cuja força explosiva do ROQUE tem tonalidade de blues, de barulheira de garagem e muito, mais muito mesmo, do regionalismo dos caras lá e da gente daqui que abre espaço não só pra guitarras sujas e distorcidas mas tabém pra rap, pra reggae, pra batuque e pandeiro. Escute a sublime Espada de São Jorge pra entender qualé. Certeza que a Nação Zumbi e toda a turma do mangue estariam orgulhosos.

Young & Dangerous (The Struts)

Tem muito de Queen neste segundo disco de estúdio do grupo inglês. Nos vocais exagerados, nos corais que dá vontade de cantar junto, nas guitarras de riffs assobiáveis. Mas dá pra dizer tranquilamente que eles tão bem longe de ser uma banda cover. Porque ali também tem um bocado de The Darkness também, principalmente da fase em que eles eram um mix perfeito de Queen e AC/DC. Só que o mais legal é que este hard rock retrô cheio de glamour, quase fetichista, é um som também bastante contemporâneo. Tem umas camadas de rock inglês quase indie que funcionam lindamente nesta mistura e não deixam as canções soarem como mero pastiche do rock clássico.

Amar é Para os Fortes (Marcelo D2)

Além de ter se tornado oficialmente O cara para se seguir no Twitter, o líder do Planet Hemp não deixou barato e lançou um petardo maravilhoso, um disco solo que é na real um projeto multimídia, totalmente audiovisual, uma história conceitual que se complementa com um filme que faz uso do disco como trilha sonora. Ainda assim, se você ouve o álbum sozinho, vai sacar na hora a trama desta ópera-rap sobre as desigualdades, começando pelo Rio de Janeiro e se espalhando pelo país ao nosso redor. Escuta com atenção e entra no clima. É poesia com adrenalina.

I Love You At Your Darkest (Behemoth)

O vocalista e principal compositor deste trio polonês, Nergal, não gosta que o som deles seja categorizado. Pode parecer tipinho de artista, mas faz um sentido tremendo: este novo álbum, tal qual The Satanist (2014), tem um quê de black metal, mas passeia tranquilamente pelo death e pelo thrash, sem medo do julgamento dos puristas. O som é intenso, é extremo, mas vai se tornando cada vez mais acessível, levando as composições intrincadas para longe dos nichos apenas e tão somente metálicos. Ponto dentríssimo dos caras.

Doze Flores Amarelas: A Ópera Rock (Titãs)

Esvaziada de alguns de seus principais nomes e convertida num trio de integrantes originais, a seminal banda brasileira Titãs foi alvo de desconfiança (minha, inclusive, admito) quando anunciou este projeto, uma ambiciosa ópera-rock que mistura cinema e teatro numa história forte sobre o estupro de três mulheres e como ela se desdobra em ódio, fúria, bruxaria e vingança. Tem espaço pra sons dos mais variados, do acústico doce ao punk rock virulento. Merece a sua atenção.

Lucifer II (Lucifer)

Comandado pela vocalista Johanna Sadonis, a única remanescente de uma formação que mudou um bocado nos últimos quatro anos, o trio alemão soa genuinamente como aquele ocultismo lisérgico retrô dos anos 70, LSD satânico que é quase uma experiência, mais do que um Black Sabbath original — talvez bem mais Blue Öyster Cult, viajandão, denso, atmosférico. Aliás, arrisco fazer uma descrição ainda mais apurada: este segundo álbum soa mais como se o Fleetwood Mac tivesse feito um pacto com o capeta. E usasse mais drogas ainda, obviamente.

Memórias do Fogo (El Efecto)

Dizer que o som dos cariocas do El Efecto é “eclético” é pouco, quase uma injustiça. As canções, geralmente enormes e frequentemente repletas de sonoridades diversas, estranhas, quebradas, são quase como um filho bastardo do rock progressivo com a MPB de sua era mais contestadora, militante, afrontosa. Pois se eu te disse que ainda cabe samba neste balaio, você acredita? Pois então. Inspirado na obra do uruguaio Eduardo Galeano, o agora hepteto faz desta estranheza a sua principal arma, numa obra com a urgência que a gente anda tanto precisando.

Everything is Love (The Carters)

“Se Beyoncé e Jay-Z são imbatíveis separados, juntos podem se tornar invencíveis”, foi o título da minha resenha pra este disco conjunto do casal. E mantenho — tanto é que a presença deste disco nesta lista era talvez a minha única decisão inconteste até o momento em que comecei a pensar nela. É um álbum arrasa-quarteirão, um disco-evento que virou a música pop de cabeça pra baixo, lançado de surpresa como uma voadora na cara do racismo, que escancara os problemas de relacionamento dos dois ao casar rap com jazz e Motown e os coloca no Olimpo do mainstream. Como deve ser.

OK OK OK (Gilberto Gil)

Ah, o bom Gil. Que homem mais maravilhoso. Que vontade eu tenho, esta eterna, desde sempre, de dar um abraço e um beijo neste cara e dizer um “porra, meu, muito obrigado”, pra ele. E aí este cara, que já fez de tudo, que já fez história e que já lutou contra ela, resolve sair do comodismo ao qual poderia estar muito bem acostumado, e me lança uma delícia de disco destes, talvez o seu melhor na última década, que foge da tentação de ser simplório. É Gil que faz a gente ser feliz, que faz a gente dançar, mas que também não tem vergonha de falar sobre a vida, sobre a velhice, sobre seus cabelos brancos. Ah, Gil. Que homem bom.

Dirty Computer (Janelle Monáe)

Ow, numa boa, vocês deviam dar mais atenção pra Janelle Monáe, na moral. A mulher é uma verdadeira usina criativa, que não se rende ao óbvio, ao genérico, cujo R&B classudo consegue ser ao mesmo tempo hipnotizante e dançante — não à toa, um certo monstro de nome Prince tava trabalhando com ela nesta produção antes de nos deixar. Tamos falando de um disco que discute a própria aceitação de quem a cantora é ou o mundo acha que ela deveria ser, uma produção amparada por um curta de mesmo nome, estrelado por uma versão androide de Janelle, Jane 57821, que tenta fugir de uma sociedade totalitária e homofóbica. Sem exagero, com isso aí, você já deveria muito querer dar o play aí embaixo, vai. Segue o jogo.

Deus é Mulher (Elza Soares)

Tal qual Gil, também nesta lista, esta verdadeira máquina conhecida como Elza Soares não para. Dane-se a sua idade a sua saúde fragilizada, ela tem uma tesão e uma sede de viver tão admiráveis que era natural que isso se refletisse em música igualmente admirável. Sem medo nenhum de continuar provocando, de falar de violência e também de sexualidade, o seu samba desconstruído nos últimos anos beija o rock na boca com malícia e rasga a fantasia de um jeito que não dava pra esperar. Elza ainda encontra espaço para surpreender a gente. Coisa de quem parece ter mesmo poderes divinos.

Unsung Prophets & Dead Messiahs (Orphaned Land)

Se fosse só por esta canção aí embaixo e por este clipe, sério, o novo disco destes israelenses já merecia um espaço de destaque nesta lista. Só que tem ainda mais. Porque no mundo que a gente tá vivendo hoje, este metal de sabores e cores orientais, que flerta com o folk, com o melódico e com o extremo, que prega uma mensagem de paz na sonoridade de etnias judaicas e árabes, que contesta a explosão das religiões e sua violência, é mais do que lindo de se apreciar. É o tipo de coisa que os reaças que começaram a sair do esgoto, principalmente nesta cena do ROQUE mais pesado, precisariam ouvir. E absorver.

Dona de Mim (Iza)

Não dava pra deixar de fora desta lista aquela que foi o maior acontecimento do pop brasileiro em 2018. Ponto final. Iza é uma mulher incrível, cheia de opiniões que a transformam num ícone pop um tanto incomum, um pouco selvagem, fora de controle. Ufa, ainda bem que não vai demorar três meses pra gente ouvir ela se posicionar, né? Som forte, festivo, contagiante, dançante, que traz rap, funk e a porra toda pra pista. E foda-se que você já ouve Ginga sem parar, tocando à exaustão nas rádios como se não houvesse amanhã. Vai dar o play sim e ouvir DE NOVO. Pronto e acabou.

The Blues is Alive and Well (Buddy Guy)

A gente falou ali em cima do Gil e da Elza — e, caraca, que prazer é colocar na mesma lista que eles esta verdadeira instituição do blues. Dizer que não tem uma galera mais jovem fazendo este tipo de som é daquelas cagações de regra que eu odeio: se liga num Joe Bonamassa, num Gary Clark Jr. da vida. Coisa fina, de qualidade. Mas poder ver um cara como tio Buddy entregando um disco com tamanha autenticidade e vitalidade como este, com Mick Jagger, Keith Richard e Jeff Beck ainda dando uma moral pro mestre, é mesmo motivo de celebração. “O blues tá vivo”, diz o título do álbum. Que bom que o blues de Buddy Guy também continua firme e forte.