Durante o Rock in Rio, a gente bateu um papo com Elliot Hansen, o Star Wars DJ, figurinha carimbada nas pick ups dos principais eventos de cultura pop nos EUA
As Velhas Virgens diziam que “o DJ não toca nada / O DJ, agora eu sei / O DJ não toca nada / O DJ (só) aperta o play”. Obviamente é um exagero, sabemos que nem todo mundo é apenas e tão somente o profissional dos pendrives (cof, cof), porque além de ter um monte de DISC JOCKEYS que também são músicos e fazem ótimas produções originais (em especial no caso da música eletrônica), o DJ clássico, aquele dos scratches e remixes, também pode se tornar um artista da reinterpretação / resignificação da música alheia — vejam o trabalho icônico e fundamental de um sujeito como o Grandmaster Flash, por exemplo. Sem tudo que ele fez, recortou, colou e montou de um jeito totalmente novo, sem a sua métrica musical, muito provavelmente o hip hop não se tornaria o que é hoje.
Mas existem, claaaaaaro, os DJs cuja principal função é ser aquele gigantesco animador de festa, botar todo mundo pra pular. E tudo bem, vai. Outro papel, faz parte do jogo. É um especialista em música que talvez não esteja lá tão interessado em criar a sua própria obra, mas que sabe bem o que fazer com o trampo alheio. Que seleciona o setlist perfeito pra colocar fogo na pista, que joga pra galera, cujo único objetivo é a DIVERSÃO. Esta parece ser, de longe, a coisa que mais curte fazer um cara como o americano Elliot Hansen.
Natural de Orlando, na Flórida, seus sets normalmente vão mais pro lado da EDM (o mais pop e dançante do eletrônico), com uns mashups inesperados mas, principalmente, com o que ele chama de faixas “nerdcêntricas”. Conhecido oficialmente como Star Wars DJ e artisticamente como DJ Lobot, ele se tornou parceiro oficial da Disney ao fazer a pixxxta FERVER ao som das trilhas da saga, tocando em uma porrada de eventos nos parques e até em convenções como a NYCC e a Star Wars Celebration — ainda este ano, sua agenda tem também apresentações marcadas para se apresentar nas comic cons de Paris e de Nova Delhi. Tá chique.
Quando era moleque, Elliot participou do chamado Walt Disney College Program, uma iniciativa de estágios remunerados nos resorts e parques da rede. Teve um monte de funções, ralando pra caralho e fazendo de um tudo em uma porrada de atrações diferentes. Só que o chamado para aquilo que REALMENTE queria fazer da vida veio na enorme festa de graduação da sua turma de estagiários, quando ficou vidrado no trampo do DJ. Foi lá, trocou uma ideia com o cara e aí então se encontrou. Era aquele tipo de impacto que queria causar nas pessoas.
Fanático por cultura pop desde sempre, fã de ficção científica e o pacotão completo, ele já tinha uma respeitável coleção de trilhas sonoras. Tocou em festinhas, se meteu no ramo corporativo, virou até DJ de rádio. Mas ao ver o DJ Scooter naquela festança, teve certeza de que queria ser um dejota especializado em nerdices, focado em filmes, séries, desenhos animados e a caralha toda. Fuçou tanto, encheu tanto o saco das pessoas que conheceu em seu tempo de Disney, que começou a cavar umas oportunidades aqui e ali. Não deixou passar. Deu no que deu.
“Fiz a minha primeira Star Wars Celebration na quinta edição, em 2010, lá em Orlando. Eles queriam algo diferente, queriam dar ao público um pouco de diversão antes dos painéis começarem. E aí me chamaram”, explica Elliot, que esteve no Brasil pra participar de uma celebração ao novo episódio de Star Wars, no meio da programação do Rock in Rio, e trocou uma ideia com o JUDÃO. “E, desde então, toda vez que alguém me pede pra fazer algo relacionado com Star Wars, eu digo sim”.
Eliott explica que, obviamente, começa com aqueles temas clássicos de Star Wars que todo mundo conhece, como a Marcha Imperial, a abertura do Episódio IV, faixas icônicas de um tal de John Williams. “E este é o segredo de um DJ: eu pego aquelas músicas que todo mundo saca quais são e as incorporo, faço um mix com outras que elas não necessariamente conhecem tão bem, pra fazê-las entrarem no clima”. Segundo o DJ, dá pra fazer isso com rock, com eletrônica, até com música clássica. “Basta ter aquela batida familiar por trás. Eu uso até versões rock dos temas de Star Wars, versões hip hop... A galera nunca reclamou. Nunca tive vaias num set dedicado a Star Wars”, conta.
A ideia é que, num set mais longo, claro, ele acabe alternando as músicas (e também falas clássicas como “I have a bad feeling about this” e “It’s a Trap!”) de Star Wars com outras coisas que o próprio Elliot goste, porque ele faz questão de lembrar sempre que é tão fã da saga quanto a galera que tá ali dançando. “Eu penso que, se eu vou gostar, eles devem gostar também — mas, se acontecer de não gostarem, eu faço um mix rapidinho e vou pro que funciona. Por isso opto por canções com no máximo três minutos de duração, que me dão mais liberdade de ação”.
Geralmente, Elliot costuma trabalhar com as trilhas dos filmes antigos — um pouco da trilogia clássica, talvez um pouquinho menos da trilogia que serviu de prequência. Já sobre os filmes mais recentes, digamos que o cara ainda tá se acostumando. “Por exemplo, a trilha de O Despertar da Força é um tipo diferente de música clássica, tem uma batida mais lenta, mais dura, difícil de lidar. Não temos aquela música-tema para o grande vilão do Império, como é o caso da faixa dedicada ao Darth Vader. As canções que embalam as aparições da Primeira Ordem são mais amplas, mais dramáticas. Não sei, ainda estou trabalhando nisso, para fazer com que este material se converta em algo que seja mais facilmente reconhecível”, conta. “Mas já usei sons do BB-8, por exemplo. É um cara muito legal de se trabalhar”.
Ah, sim, e ele tem carinho todo especial por uma banda de one-hit-wonders chamada Figrin D’an and the Modal Nodes. Cê bem sabe, aqueles Bith tocando na cantina de Tatooine, né? “Quase sempre eu reservo um lugarzinho especial para eles na conclusão do meu set”.
Eliott contou ainda que, pro show no Rock in Rio, estudou bastante e ouviu muitas rádios locais. “Pra saber que tipo de som vocês curtem no Brasil e no Rio de Janeiro, especificamente. Escutei um tipo bem particular de batida, que fiz questão que permeasse um pouco de tudo que preparei”. Ele não sabe dar o nome, mas a gente ajuda: FUNK. O DJ revela que tem um carinho pela nossa galera porque, toda vez que toca na Disney, sempre tem um monte de brasileiros por lá. “E os brasileiros são sempre os primeiros a entrar na pista de dança pra festejar”.
Pra você entender bem direitinho qual é a do DJ Star Wars, se liga na abertura que ele apresentou em plena Cidade do Rock, apertando o play ali em cima. Adiantando a conversa: ele mistura a Marcha Imperial com Mas Que Nada, do Sérgio Mendes, um pouquinho de funk e, ao longo da enorme faixa, tem espaço pra Don’t Stop The Party (Pitbull) e até pro riff de Sweet Child O’Mine (Guns n’ Roses) com barulhinhos do R2-D2 complementando o trampo do Slash. E quer saber? Faz um sentido DO CARALHO e dá vontade de sair rebolando por aí assim que você aperta a porra do play.
Obviamente fã de carteirinha de John Williams, ele ainda não teve chance de conhecer o cara pessoalmente e perguntar se tá tudo bem, se o maestro gosta de ver todo mundo dançando ao som das paradas que ele compôs. Mas este ano, rolou um episódio curioso. “Eu sempre quis ver um concerto do John Williams. Falei com a minha esposa, descobrimos que ele ia tocar em Los Angeles, compramos os ingressos, compramos as passagens de avião. Mas o que acontece é que minha esposa foi a gerente de palco da Star Wars Celebration deste ano. E ela guardou segredo sobre a participação dele, sobre a apresentação surpresa que rolou depois do tributo para a Carrie Fisher”, explica.
Basicamente, as cortinas se abriram e lá estava ele, com a orquestra. “Eu estava lá no fundo da sala e vi o cara tocando três das minhas canções favoritas das trilhas de Star Wars — e aí pensei ‘pera, então ele estava lá nos bastidores ouvindo quando EU toquei o meu set, antes do painel começar’. E devia estar dançando no backstage. Quer dizer, provavelmente não, mas gosto de pensar isso na minha cabeça”.
Ao longo de toda a conversa, fica clara a empolgação de Eliott ao falar de cada detalhe do seu trabalho, o orgulho que ele tem — e o sujeito chega até a se emocionar quando lembra do quanto o Eliott versão teen ficaria feliz com o que tá acontecendo agora. “Eu era daquele tipo clássico de nerd na escola, que era zoado pela galera mais descolada, bem coisa de filme. Naquela época, não era cool ser nerd, geek, como quiser chamar”, diz. “E me lembrei muito disso em uma das minhas primeiras Star Wars Celebration, eu tava tocando e tinha um grupo enorme de fãs que só ficavam ali parados na pista, pareciam meio envergonhados de dançar. E aí eu peguei o microfone e falei: ‘galera, este é o momento de vocês, aqui é o lugar no qual ninguém vai julgar vocês pelo que gostam’. E aí eles sorriram, entraram no clima, foi muito legal. Foi um momento bem emocionante pra mim”.
E, como a gente sempre faz questão de dizer, é de coisas como estas que a cultura pop é feita. ;)
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