Ozman: Harpocrates e Draconian: Viva Las Vegas!, duas obras brasileiras sobre vampiros, unem esforços para lançar campanha única de financiamento coletivo
Todo artista independente, não importa de que estilo, não importa de que mídia, é unânime em pelo menos uma coisa: rapaz, é prazeroso, mas dá um trabalho danado este negócio, viu? Pra tentar facilitar a vida, que tal trabalhar em equipe, então? Foi exatamente esta a ideia dos autores de Ozman e Draconian, duas séries brasileiras em quadrinhos que têm um tema em comum: vampiros. Assim sendo, para fazer decolar o financiamento coletivo de seus próximos especiais, por que não unir esforços?
Em 2012, Paulo César Santos (desenhos e roteiros) e André Farias (argumentos e personagens) colocaram na rua Draconian (nome inspirado no álbum Draconian Times, da banda Paradise Lost), um encadernado reunindo nove histórias de sanguessugas contemporâneos e urbanos, ambientados em metrópoles como Nova York ou Paris – que já eram mais do que conhecidas dos leitores da lendária revista de RPG Dragão Brasil, onde eram publicadas justamente com a intenção de acertar em cheio os jogadores de Vampiro: A Máscara. No ano seguinte, foi a vez do ilustrador André Freitas contar com os roteiros de Octavio Cariello pra falar sobre o retorno de um antigo vampiro grego em Ozman: Nemesis. Não demorou até que as equipes se encontrassem por aí.
“Nos conhecemos ano passado durante uma tarde de autógrafos na Gibiteria (livraria especializada em São Paulo), depois dividimos mesa na Fest Comix de 2014 – onde foi cunhado o nome Vampiros Independentes – e como deu muito certo a parceria, acabamos repetindo-a várias vezes no decorrer do ano”, conta Freitas. “No geral, exatamente pelo tema ser o mesmo as pessoas acabam se interessando por ambas”. Farias concorda e não enxerga concorrência entre ambos. Aliás, pelo contrário. “Unir forças tem melhorado em muito não só a produção de cada material como a logística. O resultado disso é a campanha no Catarse”.
Atendendo pelo nome de Vampiros Independentes, a campanha de financiamento coletivo busca apoiadores para o lançamento de duas revistas em quadrinhos. Draconian: Viva Las Vegas! (50 páginas em formato 170 x 260 mm, com capa colorida e miolo preto e branco) coloca Farias e Paulo César às voltas com Lenny, agora protagonista, um dos personagens mais queridos do primeiro volume.“É uma aventura de sexo, apostas e rock n’ roll, misturando Se Beber Não Case com Um Drink no Inferno e mais A Morte lhe Cai Bem”, descrevem.
Já a outra revista é Ozman: Harpocrates (40 páginas em formato 210 x 148 mm, com capa e miolo colorido), que traz duas histórias do ser das trevas conhecido na edição anterior, ambientado em plena cidade de São Paulo – uma delas escrita e desenhada por Freitas e outra com seu roteiro e arte do amigo de Draconian, o Paulo César. “Estamos fazendo isso porque somos teimosos mesmo, mas o que mais me incentivou a fazer outro volume foi a recepção do público”, revela Freitas. “O Ozman é um personagem antigo meu, que eu deixei no limbo por muito tempo, mas em 2013 eu decidi que precisava terminar a história escrita pelo Cariello muito tempo atrás, nem que fosse para virar essa página”. O autor diz ainda que, conforme desenhava a história, seu apreço pelo personagem acabou voltando. “Quando lancei a Ozman: Nemesis, muita gente que comprou a revista veio me perguntar quando saía a próxima. Essa história é o resultado dessa cobrança”.
Com relação ao seu trabalho em Draconian, Paulo acredita que o jogador mais atento sempre vai sacar as referências ao RPG da White Wolf, embora os criadores evitem usar elementos do jogo como a separação dos vampiros em clãs como Ventrue, Tremere, Brujah, Gangrel e Malkavian, entre outros. “Sempre fui mais fã das ilustrações do Tim Bradstreet do que do RPG em si e acho que sou o único que acompanhava a série de TV d’A Máscara que passava na Record , se não me engano, lá pelos anos 90”, brinca o desenhista (confissão do autor desta matéria: eu também via a série). “Meu interesse pelo tema e principal inspiração vem desde o primeiro filme que vi do Christopher Lee como Drácula quando eu tinha uns 7 anos”, conta, listando como referências ainda filmes como Blade, Vampiros de John Carpenter e os A Hora do Espanto originais.
No caso de Freitas, a coisa aconteceu de maneira inversa. Na época em que Ozman foi criado, ele não jogava RPG e tinha pouco contato com este universo. “Agora, já faz oito anos que participo de um projeto live action de Vampiro e uma boa parcela do meu público vem exatamente do pessoal do RPG”, conta. Ele acredita que o que faz com que a São Paulo fictícia em que seus personagens vivem se assemelhe com o Mundo das Trevas do jogo de interpretação é o fato de ter bebido das mesmas fontes. “Sou consumidor do tema, de Anne Rice a Bram Stoker, passando por Buffy, Blade e True Blood”.
Mas, afinal, os vampiros ainda estão na moda? A palavra de ordem agora não é “zumbi”? “Vampiros nunca vão sair de moda”, opina Freitas. “Se Crepúsculo foi um problema, a Trilogia da Escuridão (The Strain, de Guillermo del Toro e Chuck Hogan) veio como uma bela resposta. O fato de que a Anne Rice voltou depois de 11 anos com suas Crônicas Vampirescas, lançando ano passado o Príncipe Lestat, só comprova que o tema ainda tem muito sangue pra dar”. Seu xará, o Farias, arrisca dizer que nos últimos anos todos os temas específicos de gosto nerd foram ampliados e os vampiros não escaparam a essa regra. “Temos produções bem interessantes sobre o tema. Nos quadrinhos temos o Vampiro Americano, para citar um exemplo. Eu prefiro as referências cinematográficas e os últimos dois filmes de vampiros que adorei são Sede de Sangue, de Chan-wook Park, e Amantes Eternos, de Jim Jarmursch”.
Paulo finaliza dizendo que, embora a saga Crepúsculo tenha prestado um desserviço à lenda do vampiro e criado uma barreira de rejeição inicial em relação ao leitor comum, nos eventos de quadrinhos dos quais participam basta dizer uma frase para derrubar qualquer resistência. “Nossos vampiros não brilham sob a luz do sol!”.
É. Faz sentido. :D
Pra não concorrer com Mulan, Bill & Ted 3 vai estrear em VOD mais cedo: 28 de Agosto! https://t.co/Bu3VBYYW8X