O sucesso das Tartarugas Ninja na TV

Do bordão “Santa Tartaruga” (!) à versão anime, passando até mesmo pelos Power Rangers (?)

A trajetória dos quelônios treinados nas artes do ninjitsu na tela da televisão começaria no final dos anos 80 – iniciando-se da mesma forma que tantos outros ícones animados da mesma era: com os bonequinhos. Depois do inesperado sucesso das Tartarugas Ninja nos quadrinhos de Peter Eastman e Kevin Laird publicados pela Mirage Studios, a semi-desconhecida Playmates Toys Inc. foi procurada para desenvolver uma linha de action figures dos personagens.

Mas a empresa, claro, não se convenceu de primeira e pediu a mesma garantia que a Hasbro teve com suas propriedades, como Transformers e Comandos em Ação (G.I. Joe): “Vamos colocar um desenho animado no ar. Se ele conquistar a molecada, bingo!, então a gente invade as lojas de brinquedos”.

Desta forma, em dezembro de 1987, três anos depois que Leonardo, Michelangelo, Raphael e Donatello deram as caras pela primeira vez nos gibis, iria ao ar uma minissérie animada em cinco partes com suas aventuras na eterna luta contra o Destruidor. O sucesso foi tamanho que a produtora Murakami-Wolf-Swenson Film Productions Inc. teve que arrumar mais 13 episódios para o ano seguinte. No fim das contas, a série duraria firme e forte por quase 10 anos, até 1996.

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Tartarugas Ninja na versão animada de 1987

Esta primeira série animada foi a verdadeira responsável pela popularização do quarteto. O tom das histórias é muito mais humorístico, com a ampliação total da obsessão por pizza e a primeira utilização das faixas com cores diferentes para cada um dos irmãos – já que, nas HQs, todos eles usavam vermelho inicialmente. Também foi o desenho animado que evidenciou ainda mais a diferença de personalidade entre os manos: Leo como o líder; Don como o crânio; Mike como o piadista; e Raph como o rebelde. E foi na série animada que eles começaram a falar com um linguajar mais “descolado”, inspirado nos jargões de surfistas/skatistas californianos, fazendo surgir a clássica expressão “Cowabunga!” – que, na dublagem brasileira, tornou-se “Santa Tartaruga!”.

As mudanças, obviamente, não paravam por aí: como se tratava de uma produção com foco no público infantil, os soldados do Clã do Pé se tornaram um bando interminável de robôs, que eram destruídos aos montes a cada episódio; ao invés de ser o rato mutante do mestre Hamato Yoshi, Splinter era o próprio Hamato submetido a uma mutação; e Baxter Stockman, que era negro, tornou-se branco – os produtores tinham medo de que um sujeito negro sendo capacho do vilão oriental pudesse ser considerado racismo (?).

April, a jornalista, ganha um espaço muito maior e se torna a parceira heróica do grupo. Além disso, o desenho apresentou novos personagens, como a dupla de mutantes fortões e burros como uma porta Bebop e Rocksteady; e o dominador espacial (e chiclete mastigado) Krang, inspirado na raça bondosa dos Utrom, surgida nas HQs originais da Mirage.

Confira a abertura:

[fve]http://youtu.be/D2LVOYQNrxc[/fve]

As Tartarugas em versão Anime

Como o sucesso dos quatro rapazes cascudos atravessou fronteiras e atingiu em cheio também os fãs japoneses, era de se esperar que eles ganhassem a sua versão anime – bom, ou quase isso. Em 1996, foram produzidos dois OVAs da série Mutant Turtles: Choujin Densetsu-hen, com estilo de animação e humor totalmente inspirados na clássica animação americana. Inclusive, foram convocados os mesmos dubladores japoneses que deram voz aos personagens na exibição da produção norte-americana de 1987 em telinhas japonesas.

Com o objetivo de divulgar a nova série de brinquedos TMNT Supermutants, o primeiro episódio mostra as Tartarugas explorando o templo perdido do reino de Muta, no qual conseguiriam libertar o espírito de luz chamado Crys-Mu, aprisionado na chamada pedra Muta (uau). A recompensa foi que os nossos heróis agora seriam capazes de se tornar Super Tartarugas (Dragon Ball mandou abraços), com superpoderes e uniformes a la Super Sentai – incluindo aí a habilidade de se juntarem para se tornar a poderosa Turtle Saint (Santa Tartaruga, entendeu? Oh, Lord...). Enquanto isso, Destruidor e Krang encontram a pedra Muta das Trevas e despertam a mulher-demônio Dark Mu, ganhando poderes sombrios também para a dupla Bebop e Rocksteady. Veja a abertura abaixo:

[fve]http://youtu.be/jwqKg76GJCo[/fve]

Já o segundo episódio tinha uma vibe meio Cavaleiros do Zodíaco: Splinter, April O’Neil e as Tartarugas viajam ao Japão para ajudar a acabar com um fantasma no lar dos Hattori. Enquanto isso, Destruidor e sua trupe tentam roubar a Tábua dos Sete Elementos, para ganhar o poder das Feras Guardiãs. No final, todo mundo ganha armaduras de metal místicas num lance meio Seiya e sua turma, podendo se transformar nas tais feras guardiãs e afins. Inacreditável? Mas é verdade. Se um deles gritasse “meteoro de pizza”, juro que não me espantaria.

As Tartarugas em versão live-action

Depois do sucesso dos filmes para cinema, em especial os dois primeiros, a Saban Entertainment, a mesma produtora dos Power Rangers, resolveu fazer esta série com atores das Tartarugas Ninja, batizada de Ninja Turtles: The Next Mutation. A iniciativa durou apenas um ano, ficando no ar de 1997 a 1998. Embora tenha sido vendida como uma continuação direta da série animada de 1987, na verdade ela se encaixa, cronologicamente, imediatamente depois dos acontecimentos dos filmes para cinema. As Tartarugas viviam na estação de metrô abandonada vista a partir do filme número 2, Destruidor tinha sido derrotado, a orelha de Splinter era cortada como na primeira película (em referência aos gibis), os soldados do Clã do Pé eram humanos...

Uma diferença fundamental, no entanto, foi nas armas características que os personagens carregavam. Leonardo não andava com duas katanas, mas sim com uma ninjato (espada mais curta) de lâmina dupla; os sais de Raphael podiam ser combinados para formar um bastão com lâminas nas pontas; e, o mais bizarro de tudo: Michelangelo abandonou completamente os seus nunchakus, passando a usar um par de tonfas, que lembram cassetetes. O motivo? Em alguns países, os nunchakus são armas de rua consideradas proibidas. Ah, a Saban... :D Veja só a abertura:

[fve]http://youtu.be/3HdbTz3vgho[/fve]

As Tartarugas, nesta série, eram na verdade cinco – porque juntou-se aos rapazes uma fêmea, devidamente batizada de Venus de Milo (em referência à estátua clássica) e treinada nas artes místicas dos ninja shinobi. E, além do Destruidor, eles enfrentavam novos inimigos como o Dragon Lord, senhor de uma organização chamada Rank; a vampira ancestral Vam-Mi; e o caçador com um baita jeitão de Kraven que atendia pelo nome de Simon Bonesteel.

Embora tenta tido vida curta (apenas 26 episódios), a série teve um momento marcante: o encontro das Tartarugas com os Power Rangers da série Power Rangers in Space. Foi naquele esquema: convocados pela princesa do mal Astronema, os cinco guerreiros esverdedados foram mentalmente controlados para lutar com os Power Rangers. Depois se libertaram e, claro, se juntaram aos Rangers para combater as forças de Astronema. O pacote básico do encontro entre heróis.

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Tartarugas e Power Rangers: um encontro de titãs (?)

As Tartarugas em sua segunda série animada

Depois do cancelamento da série live-action, as Tartarugas passaram o maior tempo de sua história sem uma atração permanente na televisão, até que uma nova série animada, produzida pela 4Kids Entertainment, daria as caras em 2003. Seria o retorno da franquia como uma atração do tradicional “saturday morning cartoon”, os blocos de animação infantil que dominam as manhãs de sábado na TV norte-americana, fazendo sucesso na 4Kids TV, canal da Fox.

Como se tratava de uma co-produção com a Mirage Studios, o tom acabou absorvendo um pouco da seriedade dos quadrinhos, equilibrando ação e humor mas se distanciando do que os espectadores do desenho de 1987 esperariam. Com laços familiares mais fortes entre eles, as Tartarugas ganharam personalidades mais complexas. Leonardo se torna ainda mais centrado e controlado, preocupando-se o tempo todo com treinamentos e entrando em conflitos frequentes com Raphael, o eterno esquentadinho; o espírito de Donatello, ainda o inventor, se torna mais tecnológico, geek, repleto de traquitanas de última geração computadorizadas. O humor fica ainda por conta de Michelangelo, um fã de filmes de terror e de histórias em quadrinhos que enxerga a ele e aos irmãos como super-heróis e adora a ideia de ficar famoso. Além disso, a origem de Splinter volta a ser como nos quadrinhos – ele era o rato de estimação de Hamato Yoshi e aprendeu tudo observando o mestre treinando. Veja a abertura:

[fve]http://youtu.be/dRnRUtMHGow[/fve]

Além do QG nos esgotos, os quatro passam bastante tempo no apartamento da amiga April O’Neil – que, nesta série, não é jornalista, mas uma mulher de aspiração científica que rivaliza com Donatello na personalidade geek e trabalhava como assistente de Baxter Stockman. Ela é dona de um antiquário, que fica na parte de baixo do prédio onde mora. Além de April, do vigilante Casey Jones e do cultuado coelho samurai Miyamoto Usagi, eventualmente eles cruzam o caminho do gigantesco crocodilo-humanoide Leatherhead e da Justice Force, um grupo de super-heróis que parece um cruzamento entre a Liga da Justiça e os Vingadores.

Já do lado dos malvados, o vilão continua sendo o Destruidor, que ainda é o assassino de Hamato Yoshi – mas ele também é, secretamente, Ch’rell, criminoso de guerra da raça dos Utrom (lembra que já falamos deles?) e acusado de ser o responsável por uma série de mortes em todas as partes da galáxia. Além do Clã do Pé, outra pedra no sapato das Tartarugas é a gangue de rua conhecida como Purple Dragons.

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As Tartarugas na versão de 2003

Depois do chamado Tribunal Ninja, arco de histórias que traz uma nova versão do Destruidor, desta vez como o Oroku Sai original do Japão feudal, o visual das Tartarugas muda e elas viajam 100 anos no futuro, encontrando um descendente de April/Casey. A série seria definivamente encerrada em 2009 com o longa para TV Turtles Forever, que mostra o inusitado encontro desta versão das Tartarugas com a versão 1987 dos cascudos.

As Tartarugas em sua terceira (e atual) série animada

Ainda em 2009, a Viacom, proprietária do canal Nickelodeon, comprou pela estimada bagatela de US$ 60 milhões os direitos da marca Teenage Mutant Ninja Turtles do Mirage Group e da 4Kids Entertainment, Inc. O resultado? O desenvolvimento de uma nova série animada, em CGI, para ser exibida nos canais Nickelodeon em todo o mundo.

A ideia aqui era muito clara: queremos apresentar as Tartarugas Ninja para uma nova geração de fãs. Apenas esta promessa já chega a causar calafrios de medo, certo? Ainda bem que a Viacom acertou na mosca neste caso. Esta nova série animada é moderna e dinâmica, com um visual arrojado e uma animação impecável, pegando a molecadinha de jeito. Mas, ao mesmo tempo, dosa ação e humor inteligente sem subestimar a sua audiência, capturando igualmente a atenção dos fãs da série original, de 1987. Sua maior qualidade é usar e abusar de seu aspecto camp, sabendo rir de si mesma. Veja a abertura:

[fve]http://youtu.be/LNXDORibqkE[/fve]

O mestre ninja Hamato Yoshi, vivendo na cidade de Nova York, ia caminhando tranquilamente levando suas quatro tartarugas de estimação. Mas ele acaba tendo um encontro com membros da raça alienígena Kraang (sacou a referência?) e é exposto a uma substância química chamada mutagen, que tem resultados inesperados. Ele se torna um rato humanoide e as quatro tartarugas assumem aspectos (e inteligência) humanos. Com medo da reação das pessoas, Hamato leva as tartarugas para um esconderijo nos esgotos, assumindo de vez a alcunha de Splinter (que vinha sendo usada para que ele fugisse de seu passado) e levando o seu conhecimento ninja adiante.

Quando se tornam adolescentes, as tartarugas se arriscam na superfície e descobrem que os Kraang estão planejando tomar conta de Nova York – e já tinham, inclusive, capturado um cientista, chamado Kirby, e sua filha, April O’Neil (por quem Donatello tem uma queda). A garota, uma adolescente que tem praticamente a mesma idade dos jovens cascudos, se torna sua melhor amiga e passa até a ser treinada pelo mestre Splinter para se tornar uma kunoichi – ou ninja feminina. Ao mesmo tempo em que lutam contra os planos dos Kraang, que querem transformar a Terra em um planeta perfeito para a sua raça, eles têm que enfrentar a caçada do Destruidor, que é inimigo mortal de Hamato e veio do Japão para encontrá-lo.

Além das máscaras, existem algumas características físicas que diferenciam os quatro irmãos. Leo é de um verde um pouco mais escuro; Raph tem uma rachadura em forma de trovão na parte da frente do casco; Donny tem um espaço entre os dentes da frente; e Mike tem o que pode ser identificado como algumas sardas. Outros detalhes interessantes são aqui apresentados, como o medo que Raphael tem de baratas e seu amor pela tartaruga de estimação Spike (que mais tarde sofre uma mutação e se torna Slash) e o fato de que as referências sobre liderança de Leonardo saem de seu desenho de ficção científica favorito, Space Heroes. As Tartarugas são mais magrelas, esguias, parecem mais adolescentes, de fato.

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Tartarugas na versão 2013

Estão presentes elementos da série de 1987 (incluindo a dupla Bebop e Rocksteady, que aparece mais pra frente) e também da série de 2003, como Leatherhead e a gangue Purple Dragons.

Na versão em inglês, quem dá voz para Raphael é Sean Astin, o Sam da trilogia O Senhor dos Anéis. Já nas duas primeiras temporadas, quem faz a voz de Leonardo é Jason Biggs (American Pie), sendo substituído na terceira temporada por Seth Green. E Donatello é dublado pelo mesmo Rob Paulsen que fazia a sua voz nos desenhos de 1987. Além deles, é possível ouvir as vozes de atores como Danny Trejo, Jeffrey Combs (Re-Animator), Cassandra Peterson (Elvira), Corey Feldman (Garotos Perdidos) e até do próprio criador das criaturas, Kevin Eastman, como o gato de rua Ice Cream Kitty, do qual Michelangelo cuida como se fosse seu bichinho fofo (!).