Douglas MCT: web não mata o impresso | JUDAO.com.br

Lançando o webcomic Dez Desejos, quadrinista bate um papo com o JUDÃO sobre a realidade e a linguagem dos quadrinhos na internet

Escritor, redator e roteirista de quadrinhos, games e desenhos animados, Douglas MCT já está dando as caras neste mercado há muito tempo – cerca de 15 anos, para ser exato – e sempre sem medo de fazer as coisas por si mesmo. Depois de se aventurar no espinhoso mercado editorial e lançar os livros A Fronteira das Almas e A Batalha das Feras, ambos capítulos de uma mesma ambientação intitulada Necrópolis, ele achou que tinha ainda mais histórias para contar naquele mesmo universo. Mais especificamente, 25 anos da jornada do personagem principal, Verne.

Surgia então Dez Desejos.

Só que Douglas optou por um outro formato para revisitar Necrópolis: o dos quadrinhos. Mais especificamente, o dos quadrinhos publicados na internet, uma vertente que os próprios quadrinistas mais tradicionais ainda discutem e têm um pouco de medo de explorar. “Os quadrinhos na internet vão substituir o impresso”, dizem alguns, emulando o discurso da música digital x formato físico. Douglas não concorda com o tal “apocalipse midiático” e afirma que se trata de uma espécie de agrupamento por evolução natural. “As webcomics vieram para somar aos quadrinhos impressos, um caçula muito bem-vindo, que não pretende tomar o lugar do irmão mais velho”, afirma ele, em papo exclusivo com o JUDÃO. “Enquanto o formato tradicional se mantém firme e forte no sentimento táctil, de coleção e tridimensionalidade, o digital não ocupa espaço e ainda pode fornecer interações e aplicações audiovisuais que enriquecem a experiência narrativa, sem deixar de ser uma HQ”.

Para exemplificar a ideia por trás de seu projeto, o autor faz questão de lembrar o Thrillbent, um site/editora lançado por Mark Waid e que serviu de modelo para o formato de Dez Desejos. “Lá, dezenas de títulos vão ao ar toda semana/mês, com essa leitura deliciosa que só uma webcomic pode fornecer: leitura de quadro em quadro e, a cada toque no mouse ou no touchscreen, um novo elemento surge sobre a imagem, como um balão de fala ou uma imagem sobreposta. Dez Desejos é assim também”. Mas ele deixa claro que Dez Desejos não é um “motion comic”, que é uma outra coisa. “Tão legal quanto, mas diferente da proposta aqui. Até chegamos a emular alguns motions, mas [Dez Desejos] é webcomic no formato sobreposto e sequencial, se eu fosse resumir a nossa tecnologia”.

DezDesejos

O projeto, que já pode ser conferido dentro da iniciativa Outros Quadrinhos (clique AQUI!), tem roteiro de Douglas, arte de Rafael Françoi e edição conduzida por Fabiano Denardin, conhecido pelo trabalho à frente da Vertigo na Panini Comics. Douglas avalia que o primeiro episódio já teve um bom feedback dos leitores. “O retorno do público se dá de maneira ainda mais veloz e efetiva do que o impresso, sem dúvida alguma. (...) Porque online, o feedback é imediato, e até de página a página, o que torna a experiência ainda mais interessante. Tanto para o leitor, quanto para os criadores, esse formato narrativo tem sido de retorno quase ao vivo. E isso é incrível, sério. Incrível”.

Este tipo de retorno, aliás, só reforça a confiança de Douglas no formato – que já não é mais tão novo quando alguns catastrofistas apregoam e já está bastante enraizado entre nós, leitores, por mais que não nos tenhamos dado conta. “Outras webcomics vieram antes de nós, e algumas têm quase ou mais de uma década. Combo Rangers pode ter sido o nosso avô nesse sentido por aqui, não? Ainda que a maioria dos quadrinhos digitais sejam apenas scans de uma página tradicional na tela, eles já testaram o fôlego do público para este formato, provando sua eficiência”.

Para ele, a nova geração consome automaticamente este formato, e segue de maneira intuitiva na leitura, sendo os primeiros a aderirem. “O público da minha geração para trás costuma se adequar fácil”, pondera. “Mesmo assim, para quem ainda prefere ou impresso, ou SÓ o impresso, temos planos de compilar cada temporada de Dez Desejos em um volume físico, distribuído nacionalmente, para chegar nas mãos de todos. Algumas editoras já nos sondaram sobre essa possibilidade e estamos estudando a respeito, ainda que seja cedo para fechar qualquer coisa, dado que a produção está no seu processo inicial (e em bom ritmo!)”.

P4_03Douglas revela ainda que já tem toda a linha narrativa da primeira temporada definida e conta um segredo: o próprio leitor terá, em algum momento, de tomar decisões. “Como, por exemplo, se um personagem vive ou morre, através de enquete. Isso é uma série, não difere de novelas e seriados, o público interage e muitas vezes decide o destino das coisas. A experiência será legal e rica não só para a equipe de Dez Desejos, mas também e principalmente para o público”.

Dez Desejos é atualizada toda quarta-feira, às 10h30, no site da Outros Quadrinhos.