...e, enfim, o Parque dos Dinossauros pode fechar suas portas | JUDAO.com.br

Jurassic World “comes full circle” com o que Steven Spielberg começou, lá em 1993

A sequência de Jurassic Park que eu sempre quis envolvia aqueles embriões dinossáuricos que Dennis Nedry tava tentando contrabandear para a BioSyn, dentro de uma lata de creme de barbear. Aquela lata, coberta de lama, na chuva, desde o momento em que a vi gritava como um cliffhanger. Um “ok, é daqui que continuaremos a história”.

Isso nunca aconteceu, claro, e Jurassic World continua não sendo a sequência que a minha versão de 9 anos tinha em mente, mas é a que, vinte dois anos depois, enfim me satisfez.

Agora tipo um SeaWorld, controlado por um indiano bilionário que tenta ser o novo John Hammond, Jurassic World é um parque aberto há tempo suficiente pra galera ter se acostumado com a (re)existência de dinossauros numa ilha da Costa Rica. Isso tá bom? Claro que não. Assim como o Playcenter tinha o SuperJet e inventou o Tornado, o pessoal do parque precisa inventar novas atrações de vez em quando. É até legal pensar na ideia de que de tempos em tempos novos dinossauros podem voltar à Terra, mas quando um bicho que é essencialmente uma vitamina de DNAs de tantos outros répteis e anfíbios é criado... Dá merda. E dá merda pra caralho.

E o que é exatamente Jurassic World — o parque e o filme — se não a ideia de fazer algo maior, mais rápido e mais violento do que um dia foi Jurassic Park — o filme e o parque?

Jurassic World se perde na própria mania de grandeza. O tal do Indominous Rex é essencialmente um psicopata com treinamento militar, que mata porque sim e consegue, por exemplo, se esconder de sensores térmicos e arrancar o localizador implantado na pele, como se ele soubesse o que aquilo significa. Mas, mais do que isso... Ele é chato. É um monstro novo, criado em laboratório... Não é como se ele tivesse existido há milhões de anos, fosse recriado e de repente estivesse solto por aí. Não é como se você passasse a sua vida inteira ouvindo falar / vendo o tal do bicho e ele estivesse ali, vivo, naquela tela gigante.

A maioria dos personagens também não apresenta química e/ou empatia nenhuma. Chris Pratt, no máximo, consegue alguma relação com os seus Velociraptors; Bryce Dallas Howard é... bom, é linda e corre pela selva de salto-agulha, depois de um diálogo que eu tenho quase certeza que foi picotado na edição.

Aliás, parece que muita coisa foi cortada também em relação aos dois irmãos que viajam sozinhos pra Isla Nublar. Não bastando ser apenas os dois irmãos que viajam sozinhos pra Isla Nublar, tentaram dar algum tipo de profundidade a eles e, bom, não deu lá muito certo. Por que é que mostram tanto o mais velho olhando ~pras gatinhas? De onde surgiu a história do divórcio dos pais? “I want to go home” naquele momento, daquele jeito? Sério?

Hm, yeah...

Hm, yeah...

Em compensação, Gray, o irmão mais novo, interpretado por Ty Simpkins, protagoniza dois momentos do filme que colocaram um sorriso na minha cara e que me fazem crer que vale a pena conferir o filme: quando aparece com um daqueles VIEW-MASTERS na cara, com slides de Dinossauros — isso quando poderia estar no carro dos pais preenchendo o saco do irmão adolescente que tá se despedindo da namorada e empatando a ida dos dois para o Mundo dos Dinossauros, logo no começo do filme; e depois, quando sai correndo pra ver os portões originais sendo abertos pra passagem do monorail. Esses dois momentos são os que melhor resumem a razão pela qual Jurassic World, enfim, me satisfez.

Primeiro por conta da fascinação que o moleque tem por dinossauros. Ele é o mais próximo que temos de um Dr. Grant nesse filme e me lembra demais minha versão de 9 anos de idade, quando assisti ao filme pela primeira vez. Segundo porque é como se Jurassic World — o parque e o filme — carregasse uma foto na carteira do Jurassic Park — o filme e o parque –, lembrando e nos fazendo lembrar dele o tempo todo, até de uma certa maneira prestando homenagem àquilo que aconteceu 22 anos atrás.

Jurassic World não só leva em conta, como respeita o passado e, como diriam os ingleses, “come full circle”. Essa é a grande beleza de todo o filme.

(Eu queria muito dizer que as tretas dos dinossauros também são, mas embora o que tenha se visto nos trailers não seja exatamente o que se encontra no filme, no bom sentido, essa coisa de dinossauros inteligentes, que quase conversam com os humanos, tira o brilho, foge da essência.)

Com Jurassic World, aquilo que Steven Spielberg começou em 1993, enfim, chega ao fim, pode descansar em paz. Quiseram desextinguir (!) os dinossauros, eles dominaram a Ilha, já era. Acabou. Não adianta nada fechar pra balanço e reabrir as portas. Seja lá pelo motivo que for, seja com o T-Rex, seja com o Indominous Rex, uma única coisa é certa: que vai dar merda.

Jurassic World prova.