E, vamos lá, faz um PUTA sentido. De verdade. Mesmo se você invocar o argumento de “ah, mas nos quadrinhos não é assim…”
O Thor sempre foi dos meus personagens favoritos da Marvel. Cabeludão, a coisa do martelo viking, esta pegada toda heavy metal. Mas nos filmes dele, a gente sabe, é aquele negócio meio sem graça. Bacaninha, mas possivelmente as últimas produções atuais da Casa das Ideias nas quais você pensaria se te perguntassem “qual é o seu filme favorito da Marvel?”. Pois é. Difícil colocar o Deus do Trovão aí nesta lista.
Mas aí tem este tal terceiro filme do LORÃO, Thor: Ragnarok. Que, pelas últimas notícias, começa a soar bastante promissor no meio de Guerras Civis, Panteras Negras, Doutores Estranhos. O diretor, Taika Waititi, é daquelas apostas tipo James Gunn e já prometeu colocar uma pitada de humor na parada. Bom, muito bom. Aí já sabemos que o Hulk vai ser o coadjuvante de luxo do filme. E que a Cate Blanchett tá envolvida, muito possivelmente interpretando a Hela, o que eleva consideravelmente o nível de VILANIA da franquia, com todo o respeito ao Loki (que, aliás, também vai voltar).
E temos aí a tal da presença da Valquíria, né. Até hoje não confirmada oficialmente, mas garantida por tudo quanto é publicação de confiança e por fontes dos bastidores da Marvel. Só a presença dela enquanto personagem, uma guerreira divertida que, na falta de uma definição melhor, é tipo uma versão feminina do Thor, já seria legal. Mas eis que o Latino Review surge com um rumor que, se for confirmado, vai dar um novo sabor todo especial ao filme.
Ficamos todos tristes em saber que a Natalie Portman não voltará ao papel de Jane Foster? Sim – mas era um movimento esperado, afinal a maior parte da película deve mesmo se passar em Asgard, conforme algumas vozes andaram soprando. E aí que a Tessa Thompson (definitivamente, a melhor coisa do excelente Creed) foi confirmada no elenco, para dar ainda mais aquela reforçada no time feminino. E aí que o LR me solta: ELA deve ser a Valquíria. :D
Vamos lá, antes que você me solte a carta do “ah, mas ela é uma branca-loira nos gibis”, eu já poderia te dizer que 1) foda-se isso e 2) não existe mesmo problema NENHUM em mudar a etnia de um personagem se isso não é um elemento que faça total sentido para a sua construção (vou citar aqui apenas o Tocha Humana, talvez uma das únicas coisas que funcionaram naquele desastre conhecido como Quarteto Fantástico).
Só que a gente pode ir além – ou você se esqueceu de que é o Idris Elba, aquela coisa linda de Odin, que interpreta (e dá o devido vozeirão) o Heimdall, aquele que tudo vê? Então. “Já tá errado, ele é um deus nórdico, não deveria ser negro”. Não, ele não é um deus nórdico. Ele é um personagem da Marvel. Lee e Kirby se inspiraram na mitologia nórdica para criar o Thor e sua turma? Claro. Mas tomaram uma dezena de liberdades criativas no meio do caminho. Além disso, na cronologia da Marvel nos cinemas, descobrimos que os asgardianos são seres de uma outra realidade, possível de acessar por meio da mística ponte Bifrost, e que os povos nórdicos descobriram e começaram a venerar como seus deuses. Ou seja... no que diabos importa a cor da pele aqui mesmo...?
Já tiramos estes dois elefantes da sala? Que bom. Porque eu ainda quero relembrar aos senhores e senhoras as origens da Valquíria nos gibis. Criada pela dupla Roy Thomas e John Buscema em 1970, a heroína apareceu pela primeira vez na edição 83 da revista dos Vingadores, inspirada na figura da Brünnhilde (ou Brynhildr, ou Brunhild, ou Brynhild, como preferir), personagem mencionada nos poemas épicos da mitologia germânica. Ela seria uma das valquírias — do nórdico antigo “valkyrja”, basicamente “a que escolhe os mortos” — nobres guerreiras com o objetivo de encontrar os mais heroicos lutadores mortos em batalha e conduzi-los em vitória para desfrutar de uma vida de regalias no salão dos mortos, a terra prometida de Valhalla, comandada por Odin em pessoa.
No mundo Marvel, a Valquíria tinha basicamente a mesma função, mas ficou meio deprimida quando parou de buscar guerreiros na Terra e teve que se restringir ao território asgardiano depois que Odin fez um acordo com outros panteões de deuses que giram em torno de Midgard.
No fim, ela surgiu como alguém manipulada pela sedutora Amora, a Encantor, uma feiticeira que chegou até a usar a aparência física e os poderes da guerreira escolhida pelo onipotente Pai Celestial para tentar derrotar os Vingadores. Logo depois, iniciou-se um verdadeiro troca-troca de hospedeiras humanas que acolheram a essência e as memórias da Valquíria: Barbara Denton-Norriss, Samantha Parrington, Sian Bowen e Annabelle Riggs. Na Terra, com sua força e resistência acima do normal (comparáveis, talvez, só às da Sif), empunhando a espada encantada Presa de Dragão (presente do Doutor Estranho) e cavalgando o cavalo alado Aragorn (presente do Cavaleiro Negro), ela chegou a lutar ao lado do grupo conhecido como Defensores.
É, gente, nas HQs os Defensores não são Jessica Jones, Demolidor, Luke Cage e Punho de Ferro, como no Netflix, mas sim um grupo improvável formado basicamente pelo Hulk, Surfista Prateado, Namor e Doutor Estranho. Pensa só na INTRINCADA artimanha legal que seria necessária para ter estes quatro juntos nos cinemas, aliás.
Mas, enfim, estou divagando.
O que quero que você tire como palavra-chave da explicação acima, sobre a origem da moça, é “hospedeira”. Sacou? Qualquer mulher NO MUNDO poderia ser a Valquíria. Que se dane a cor da pele. Aliás, até UM HOMEM poderia ser a Valquíria, levando esta ideia “espiritual” em consideração. Porque, além de não mudar em nada o conceito da personagem, o fato de ela tomar o corpo de QUALQUER SER HUMANO torna a coisa muito mais rica do que “vejam só, e não é que a próxima hospedeira da Valquíria também é uma loira altona com corpo de atleta”?
Se a Marvel Studios optar pela versão ULTIMATE da Valquíria, ora vamos, o conceito continua válido. Aqui, ela é Barbara Norris, uma garota sem poderes e que simplesmente idolatra o Thor, mas que cria uma PERSONA de super-heroína para combater o crime ao lado de um grupo de fracassados de bom coração. Em certo momento, graças a uma mistura de manipulação cósmica e ilusões mutantes (nem pergunta), ela acaba ganhando poderes, luta ao lado do Thor e os dois até se apaixonam. Aí ela morre, vai parar no reino dos mortos de Hela (olha HELA aí!) e sua alma é resgatada pelo amado, depois de uma complicada negociação.
Podemos ter aí uma mistura de elementos, não? A hospedeira que traz a Valquíria de volta à vida, a paixão pelo Thor, a luta com Hela e seu exército de mortos-vivos. Tem potencial.
Além disso, a Tessa Thompson é divertida, cheia de estilo e personalidade. Talvez seja a companhia que faltava, com todo o amor no mundo que a gente tem pela Natalie Portman, para dar mais corpo aos filmes do Thor. Assim como o Loki de Tom Hiddleston tem feito, talvez ela roube a cena do próprio filho de Odin. Ela, o Loki e o Hulk juntos, aliás, já pensou? No fim, este terceiro filme do Thor tem tanto potencial que justamente o sujeito que carrega o Mjolnir e dá nome à bagaça é que pode acabar virando um coadjuvante de luxo.
Pois é. Mais um dos fardos que o herdeiro de Asgard vai ter que carregar. Isso até resolverem que a ÓTIMA fase da Jane Foster como Thor nos atuais quadrinhos da Marvel poderia ser um bom caminho nas telonas. Aí vai realmente ficar pequeno pro poderoso guerreiro platinado.
Fica aí com o teu Jarnbjorn que já tá mais do que bom. ;)