Eduardo Spohr abre as portas do seu Paraíso Perdido | JUDAO.com.br

Em entrevista ao JUDÃO, autor fala sobre seu novo livro, o último da trilogia Filhos do Éden – e também sobre internet, autopublicação, música…

Prestes a completar 40 anos, o carioca Eduardo Spohr pode ser descrito de várias formas: jornalista, professor universitário, blogueiro, podcaster. Tudo isso ele já fez ou, bom, ainda faz na vida, administrando o tempo de um jeito que não dá pra entender. Mas a alcunha pela qual ficou mais conhecido nos últimos anos é também aquela que mais lhe agrada: escritor.

Autor do best-seller A Batalha do Apocalipse, sobre um anjo renegado que vaga pelo mundo depois de ter se rebelado contra o arcanjo Miguel, ele pulou de 40 cópias impressas apenas para presentear os amigos para as mais de 50 mil cópias que a Verus (Grupo Record) colocou nas prateleiras, transformando-o em um pequeno fenômeno literário no Brasil.

Nos últimos quatro anos, Spohr vem se dedicando à trilogia Filhos do Éden, uma franquia que, de alguma forma, funciona como prequência de A Batalha do Apocalipse, retratando uma guerra civil acontecendo em meio à humanidade sem que nós saibamos – de um lado, Miguel, que pretende destruir a nossa espécie e criar um novo reino sob seu punho de ferro; do outro, seu irmão Gabriel, que luta a favor dos seres humanos, como seu Criador ensinou.

Depois de Herdeiros de Atlântida (2011) e Anjos da Morte (2013), ele se prepara para lançar, em novembro, o encerramento da trinca: Paraíso Perdido.

“Ele irá no sentido inverso dos volumes anteriores. Como sempre, abordará temas humanos (usando os anjos para tal), mas será um livro profundamente fantástico (em oposição a Anjos da Morte, que era mais realístico), que irá explorar menos a história (humana) e mais a mitologia”, explica Spohr, em papo exclusivo com o JUDÃO. “Será uma obra repleta de deuses e grandes heróis, uma jornada épica mais semelhante a A Batalha do Apocalipse“.

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O personagem central será Metatron, o Primeiro Anjo, que tem sido gradualmente apresentado ao longo da série, e que neste volume desponta como o grande inimigo do céu. Metatron é o supremo líder dos sentinelas, um grupo enviado à terra por Deus, no princípio dos tempos, com a função de proteger e instruir a humanidade. Quando os arcanjos decidiram acabar com os seres humanos, Metatron e seus ASSECLAS se revoltaram (Herdeiros de Atlântida, capítulos 2 e 32), tornando-se inimigos do céu.

“Os arcanjos Miguel e Gabriel, hoje em guerra, são forçados a firmar uma aliança, uma última aliança, para enfrentá-lo. Essa linha de tempo de Metatron, ou seja, a trama dela, transforma todos os quatro livros (incluindo A Batalha do Apocalipse) em um mosaico, um jogo onde as informações foram apresentadas fora de ordem, cabendo ao leitor montá-las”, revela o autor.

A obra será dividida em três partes, bastante distintas. O primeiro trecho se passa inteiramente em Asgard, a dimensão dos deuses nórdicos, onde Denyel acorda ao final de Anjos da Morte. Já a segunda parte rola nos dias anteriores ao dilúvio, quando Ablon, ainda general de Miguel, recebe ordens para capturar Metatron. A terceira parte pretende mostrar como Ablon, há 35 mil anos, conseguiu enclausurar Metatron, e como Kaira, Urakin e Denyel, no presente, farão para enfrentar o Rei dos Homens Sobre a Terra (alcunha de Metatron), um celeste muitíssimo mais forte que eles que escapou de seu cárcere na Gehenna e que agora pretende retomar o controle do planeta.

Embora o título remeta imediatamente ao clássico literário de John Milton, o poema épico sobre a queda de Lúcifer e o surgimento do inferno publicado em 1667, Eduardo garante que é apenas uma referência. “O paraíso perdido em questão não é exatamente o que é apresentado nas obras do Milton. O interessante, porém, é notar que esses artistas (refiro-me principalmente a Milton e Dante) criaram, com suas obras, uma espécie de cânone desse universo hebraico-cristão. Muito da visão do inferno, hoje, sem a gente saber, carrega influências e imagens descritas por esses autores, mesmo sendo eles apenas artistas (e não profetas, como os bíblicos)”.

E ele faz questão de deixar claro que, por mais que toque em temas descritos na Bíblia e fale sobre personagens de suas páginas, jamais teve quaisquer problemas com leitores religiosos. “Nunca, pelo contrário. Os meus livros me aproximaram muito dos meus leitores evangélicos, por exemplo, que entenderam a proposta e compreenderam que o que eu escrevo é fantasia”, conta.

Se outrora existia uma espécie de resistência dos fãs aos autores brasileiros se aventurando em obras de fantasia, ficção científica e afins, hoje este cenário parece ter mudado e tem muita gente boa conseguindo dar as caras e se publicar. Para Eduardo, a chave se resume a uma palavra que a gente conhece bem: internet.

“Com ela, o público leitor passou a ter conhecimento sobre essas obras. O interesse por literatura de entretenimento sempre existiu, o que faltava era as pessoas saberem que tais obras existiam. Os cadernos de literatura dos jornais e revistas privilegiavam a literatura mais acadêmica”, opina ele. “Com a internet, há espaços para os mais diversos tipos de resenha. Basta você colocar o nome de um livro no Google para aparecerem dezenas de críticas. Isso é bom, porque permitiu ao público conhecer essas obras e autores”.

E sobre a coisa de “se publicar” – que foi, basicamente, o que o próprio Eduardo fez com A Batalha do Apocalipse depois que ganhou um prêmio literário e transformou as 40 cópias em 100 outras, vendidas inicialmente no Jovem Nerd? As novas tecnologias facilitaram o trabalho ou, no fim das contas, só aumentaram o esforço? Financiamento coletivo, redes sociais, impressão sob demanda... “Facilitaram, claro, mas é importante lembrar que não existe uma jornada igual a outra”, ensina o sujeito que até outro dia era apenas um fã, como eu e você, de Star Wars e Senhor dos Anéis, e agora tem seus próprios fãs. “Cada um encontra o seu caminho. Para muitos, a trilha da internet e do financiamento coletivo (por exemplo) podem ser uma boa. Para outros, nem tanto”.

E enquanto foge pela tangente a respeito da questão sobre o quanto acredita que seus livros dariam bons filmes (“seria legal, né?”), conseguimos fazer com que ele opinasse sobre a trilha sonora ideal para se ouvir lendo os seus livros. “Quando escrevi A Batalha do Apocalipse, ouvi muito as trilhas de Senhor dos Anéis e Gladiador”, admite. Mas o lado mais óbvio da coisa para por aí. “Depois, em Herdeiros de Atlântida, acho que a música-chave foi Can’t Take My Eyes Off You [single meloso de Frankie Valli lançado em 1967]. E em Anjos da Morte, tem um monte de sucessos dos anos 50, 60 e 70. Foi uma parte muito prazerosa da pesquisa. Deu até vontade de comprar um toca discos e tirar o pó dos meus vinis”, brinca.

Bom, Eduardo, se você aceita a nossa sugestão de trilha para o terceiro livro... Fica a dica. :)