Ellen Page: símbolo da luta LGBTQ+ | JUDAO.com.br

A atriz veio até o Brasil divulgar Umbrella Academy e conversamos com ela… Ou melhor: a ouvimos falar.

“Vou sair daqui e ligar para o meu terapeuta”. Foi assim que, sorrindo possivelmente de nervoso, Ellen Page encerrou a entrevista que o JUDAO.com.br fez com ela, no final do ano passado, quando ela veio para o Brasil divulgar The Umbrella Academy e acabou aproveitando pra desabafar sobre o preconceito em Hollywood que, segundo ela, a detesta.

Não é novidade o JUDAO.com.br comentar e analisar os recorrentes preconceitos velados da indústria do entretenimento e a forma como tratam mulheres e a comunidade LGBTQ+, muitas vezes se preocupando com esses grupos apenas quando querem visar lucro. Mas é diferente quando vemos uma atriz falando sobre isso da forma como Ellen Page fez em alguns minutos em que praticamente não parou de falar.

Com uma pergunta relativamente simples sobre trabalhar com o Netflix, todos concordaram que foi incrível lidar com a liberdade que a empresa ofereceu durante todo o processo de produção, mas Page deu a resposta mais apaixonada e interessante de toda entrevista. “Foi muito significativo para mim. Fora dos círculos de filmes independentes, como Juno, por exemplo, eu nunca trabalhei em algum lugar que não se preocupavam com o que eu usava ou precisasse existir um meio termo sobre o que eu deveria usar”, contou.

É raro ver atores mostrando emoções tão fortes em conversas com jornalistas – que sempre são vigiadíssimas por assessores, produtores, maquiadores e por aí vai. É impressionante assistir sua raiva e alívio em finalmente trabalhar em um lugar que se importa com seu trabalho e te respeita pelo que você é. Mas suas reações definitivamente são justificadas, e Page falou abertamente contra uma indústria que espera que todos entrem em um modelo específico. “Eu tive que fazer acordos sobre tantas coisas relacionadas à estúpidos vestidos e sobre ser aberta sobre minha sexualidade nessa indústria com um sistema binário. Isso realmente significa o mundo para mim ter uma grande empresa não dizendo uma fodida palavra sobre isso”, disse. “Desculpa, eu fiquei no armário por tanto tempo e precisando entrar em um acordo sobre as besteiras dessa indústria que é ótimo sentir que coisas como essa podem acontecer”, continuou, ao perceber que havia assumido pra si a chamada round table.

Nos últimos anos, Page assumiu ativamente um forte perfil ativista em favor dos direitos da comunidade LGBTQ+ e das mulheres. Em 2016, Page e Ian Daniel apresentaram uma série documental chamada Gaycation, em que eles viajavam pelo mundo conhecendo pessoas marginalizadas e compartilhando suas experiências de luta e triunfo. Um dos países visitados foi o Brasil, uma das nações que mais matam LGBTQ+s do mundo e a que mais mata pessoas trans, onde discursos de ódio contra essa comunidade é recorrente e constantemente usado como palanque político. E exatamente por isso que a discussão sobre a criminalização da homofobia é extremamente importante no atual cenário brasileiro.

Na última quarta-feira (13), o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar ações que pedem que a homofobia seja considerada crime no Brasil. Pela legislação penal brasileira, a homofobia não é crime e esses processos tramitam no tribunal há SETE FUCKING ANOS. Se o STF julgar que discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero é crime – e, sim, #ÉCRIMESIM -, o agressor estará sujeito a uma pena de um a cinco anos de prisão em casos de ofensas, agressões e qualquer outra discriminação causada por orientação sexual.

Símbolo dessa luta, Ellen Page se usa como exemplo de como a criminalização da LGBTQfobia é importante na nossa sociedade. “Eu estou tão cansada de como as mulheres são vistas nessa indústria fodida. Apenas parem com isso. Hollywood é um mundo tão binário e continua sendo exaustivamente binário. Eu não acredito que estamos falando sobre isso em 2018, eu realmente não acredito”, contou a atriz, mostrando o cansaço em falar sobre o tema mais uma vez. “Ninguém foca no fato do sistema ser escolhido por pessoas em posição de poder e não para apoiar pessoas marginalizadas”, completou, lembrando do papel fundamental das instituições em dar apoio a toda e qualquer pessoa.

Mas, mesmo tão cansada em debater e brigar sobre o assunto, Page é dessas pessoas que mantém o otimismo na luta contra o preconceito. E, ao que parece, é isso que a faz lutar todos os dias. “Precisam entender que pessoas diferentes fazem esse mundo muito mais bonito”, finalizou.