Em seu terceiro disco, Ghost consegue o melhor de dois mundos | JUDAO.com.br

Com Meliora, grupo de suecos mascarados entrega aquele que pode ser considerado o seu álbum mais consistente até agora – para orgulho de Papai Satanás

O que mudou do Ghost de 2010 pra esse Ghost de 2015 não foi apenas o visual e as máscaras dos músicos, os chamados Nameless Ghouls, ou mesmo a suposta identidade do vocalista, agora em sua “terceira” versão, não. Foi a maturidade das composições e da produção. Meliora, o terceiro disco da carreira de uma banda que está longe de ser unanimidade no mundo do metal, é o Ghost em sua melhor forma.

Aliás, dá para dizer até que Meliora — que chega nesta sexta-feira, dia 21, -às lojas — é um combo do que existe de melhor em seus dois álbuns anteriores. Do debut Opus Eponymous (2010), eles trouxeram de volta o peso. Sinta só a vibração do baixão poderoso de From the Pinnacle to the Pit; ou mesmo a dupla guitarra + bateria que segue cavalgando ao longo de toda a ótima Mummy Dust, numa espécie de homenagem ao Mercyful Fate de um tal de King Diamond (o pai conceitual do Papa Emeritus, digamos assim). Mas, e é que vem aí o pulo do gato do Ghost, este peso com gostinho de hard setentista continua soando orgânico, natural – só que ganhou uma produção bem mais esmerada e lapidada que no primeiro disco.

Repare na clareza do arrepiante órgão que abre Spirit em clima de filme de terror retrô. Na limpeza das belas guitarras gêmeas a la Thin Lizzy que rolam em Deus in Absentia. E no belo trabalho de várias camadas de vozes em Majesty, ressaltando a vocação pop da voz do líder cadavérico do grupo.

Por falar em pop, é nele que se apoia o outro acerto de Meliora.

De seu antecessor, Infestissumam, ganhou a ousadia de flertar com o pop. O disco talvez seja bem menos, digamos, iluminado que a segunda bolacha (apesar da power ballad He Is, que de tão graciosa quase te faz esquecer que eles estão falando do cramulhão) mas soube manter a inteligência de construir, por exemplo, passagens psicodélicas que ecoam refrões certeiros, pílulas grudentas que vão te deixar cantarolando junto sem perceber...por semanas.

Vejam só o caso do single Cirice, talvez uma das melhores músicas do ANO, que toca no meu repeat mental pelo menos uma vez por semana desde que ouvi a faixa pela primeira vez (e, inferno, como esquecer aquele clipe espetacular – que, se você não viu, precisa fazer isso AGORA).

Meliora é um álbum curto, com seus pouco mais de 40 minutos, mas que transborda inteligência e sabe aliar modernidade com o lado mais clássico do rock. “Creio que a versão mais correta para Meliora, que é uma palavra vinda do Latim, seja em busca de algo melhor“, explica um dos Nameless Ghouls em entrevista para o Metal Hammer Magazine Show. “É um aprimoramento constante que ficamos histericamente tentando atingir”. Só que ele conta que o título foi escolhido não apenas por isso, mas também porque combina com a temática das letras, ao criar um futuro distópico apocalíptico, superurbano e metropolitano (?).

“Não consegui gostar dos primeiros discos, mas ouvi algumas músicas deste e acho que me pegou”, me contou uma amiga. Ela não foi a única, aliás. O que não falta é gente dizendo que, desde que Cirice foi lançada, passou a enxergar o Ghost com outros olhos. E resolveu que ouviria Meliora até o fim. Duvido que tenham se arrependido.

Se na época de Infestissumam eu apostei que aqueles que odiavam a banda passariam a detestá-la ainda mais, no caso de Meliora tendo a acreditar que aqueles que odiavam a banda terão boas chances de começar a gostar dela, afinal de contas. E que esta, em nome de Lúcifer, seja a versão definitiva do Ghost a partir de agora.

P.S. UFA! Consegui controlar o meu lado tiozão e evitei fazer a inevitável sacadinha de que Meliora é o “melior” disco do Ghost até o momento.

...Ooops.