Então tá, vamo falar de Jessica Jones | JUDAO.com.br

Foram trocentos teasers, um trailer, exibição de episódio na NYCC… Mas afinal de contas, quem a foda é Jessica Jones?

A partir do dia 20 de Novembro, o Universo Cinematográfico da Marvel, doravante denominado MCU, ganha uma nova integrante, Jessica Jones – talvez aquela que o público não-leitor de quadrinhos menos conheça, mas justamente aquela que mais curiosidade tem gerado até o momento.

Em 2001, depois do sucesso da versão ultimate do Homem-Aranha, o recém-contratado roteirista Brian Michael Bendis recebeu uma prova de confiança da Marvel, na forma de uma chance de escrever uma HQ para o selo Marvel Max – apenas com histórias adultas e sem a necessidade de aprovação do ainda existente (na época) Comics Code Authority. Ou seja: quer usar violência, sexo, palavrões e a porra toda, tudo ao mesmo tempo agora? Tá liberado. Sem a necessidade de se preocupar com a cronologia? Sem problemas. Liberdade editorial total é um sonho, não?

Surgia assim Alias.

Existe uma espécie de lenda urbana que diz que Bendis queria usar aqui uma de suas personagens favoritas, a Mulher-Aranha, aproveitando o lado detetivesco de Jessica Drew. Mas algo teria dado errado no meio do caminho e o escritor teria sido obrigado a criar sua própria Jessica, sobrenome Jones, para ser a protagonista — e que foi cuidadosamente introduzida de forma retroativa no Universo Marvel. Bendis nega a versão, mas isso honestamente pouco importa: o fato é que daí surgiria uma das HQs mais interessantes da Casa das Ideias na última década.

Alias

Ainda com o nome Jessica Campbell, a garota também teria, como todo bom personagem Marvel, um acidente/tragédia na infância para chamar de seu. O paizão da família Campbell recebeu do patrão, Tony Stark, um passe para a Disney World. Ele, a esposa e os REBENTOS caíram na estrada. Na volta, no entanto, o carro colidiria com um comboio militar carregando misteriosos elementos radioativos. A família inteira morreu e Jessica foi a única sobrevivente, exposta à química e indo parar num coma em que ficou durante meses. Ela só levantaria da cama do hospital graças às energias cósmicas emitidas justamente no dia em que o Quarteto Fantástico enfrentou Galactus pela primeira vez – dando uma olhada na janela e vendo um enorme homem de capacete roxo ameaçando a GRANDE MAÇÃ.

O mundo mudou. E Jessica logo perceberia que ela também.

Criada pela família adotiva Jones em Forrest Hills, bairro de Nova York, Jessica logo assumiria o sobrenome dos novos pais. Durante seus anos de estudante na Midtown High School, andava por lá solitária, despercebida, curtindo um amor idealizado pelo super-herói rock star Tocha Humana e desenvolvendo uma paixonite por um nerdzinho que só levava porrada dos valentões – um moleque chamado Peter Parker. Ele jamais percebeu, embora tenha tentado uma aproximação assim que Flash Thompson quis transformá-la em alvo de bullying também. Via em Jessica alguém similar a ele, com a vida marcada pela tragédia. Mas ela achou que o garoto – com quem tinha tentado falar naquele dia do passeio a um laboratório, mas que parecia incomodado com alguma coisa, será que um bicho o mordeu? – era mais um que estava afim de tirar uma onda e, com medo, se afastou.

Fugiu da escola, assustada e triste... e eis que acabou descobrindo seus poderes, manifestados num momento de stress emocional. Depois de uma tentativa frustrada de voo, que resultaria em uma colisão no Rio Hudson impedida por ninguém menos do que o Thor, Jessica sacaria que, além de voar, também era superforte e tinha uma resistência fora do comum.

Ao testemunhar, em sua própria escola, uma luta entre o Homem-Aranha e o Homem-Areia, ela se sente inspirada pelo aracnídeo a usar as suas habilidades para o bem. E, menos de três anos depois do surgimento do Cabeça-de-Teia, ela assume sua própria faceta de super-heroína: Safira (Jewel, no original).

Jessica Jones

A carreira, claro, não foi lá das mais promissoras: seu feito mais memorável foi deter o Escorpião, depois de cair acidentalmente na cabeça do vilão ao tentar alçar voo. Pouco depois, ao tentar impedir uma briga em um restaurante, ela chega para descobrir que um homem forçou os dois sujeitos a brigarem, sem que eles tivessem escolha. O homem, no caso, era Zebediah Killgrave, mais conhecido como o Homem-Púrpura – que também é o vilão da série que vai estrear em novembro, aliás, vivido por David Tennant. Usando feromônios especiais, ele consegue controlar a vontade das pessoas. E foi o que fez com a poderosa mas inexperiente Jewel. “Cuide dos policiais enquanto termino minha refeição”, disse.

Jessica seria capturada e usada por Killgrave pelos próximos OITÔ meses, tirando uma série de obstáculos da frente. A separação e libertação da heroína rolaria quando o vilão resolvesse que ela estava pronta para dar cabo daquele que Killgrave considera seu maior nemêsis: o Demolidor (ôpa, estaria aí um link entre os dois para o mundo Marvel no Netflix?). E, por favor, que ela matasse qualquer um em seu caminho.

Desorientada conforme foi se afastando fisicamente do alcance dos feromônios púrpura mas ainda sob seu controle e focada na missão depois de meses de dominação, Jessica acabou indo parar perto da mansão dos Vingadores. E atacou... a Feiticeira Escarlate (uniforme vermelho, saca?). Foi quando o controle acabou. Desesperada, entrou em conflito contra os Maiores Heróis da Terra e, depois de uma porradaria contra o Visão e o Homem de Ferro, acabou sendo derrotada e quase morta. Novamente em coma, teve a ajuda de Jean Grey para acordar, ganhando ainda certo grau de proteção psiônica para que pudesse se proteger de um novo ataque do Púrpura caso voltassem a se encontrar. Aqui, ela iniciaria uma duradoura amizade com Carol Danvers, a Miss Marvel (futura Capitã Marvel – será que teremos pelo menos uma menção?).

Jessica Jones

Foram meses de recuperação mas, enfim, Jessica Jones saiu de novo do hospital. Convidada para entrar nos Vingadores como uma espécie de elo de ligação com a SHIELD, a garota negou. E, magoada e puta da vida, tentou voltar à carreira de heroína usando o codinome de Cavaleira (Knightress), com uma atitude mais violenta e sombria, meio Batman. DESENGANADA depois de uma situação envolvendo crianças durante um caso contra a gangue do Coruja (Leland Owlsley, aquele mesmo, da série do Demolidor), ela enfim descobriria que não leva mesmo jeito pra esta coisa de combatente uniformizada do crime. Mas seria nesta fase, em plena investigação, que ela conheceria alguém muito importante para sua vida: Luke Cage.

Jessica Jones se tornaria a detetive que vamos ver no começo da série (e vimos, afinal, no começo do gibi de Bendis também), criando o escritório da Alias Investigations em plena decadência da Cozinha do Inferno. Sua especialidade, à exceção de encher a cara? Investigar atividades envolvendo super-heróis.

Além de ajudar Cage a encontrar James Lucas, seu pai, enquanto começava a se envolver romanticamente com o grandão (entre um flerte e outro com Scott Lang, ninguém menos do que o Homem-Formiga, ainda em sua fase ladrãozinho mequetrefe), alguns dos casos que ajudou a resolver foram um escândalo de extorsão envolvendo a identidade secreta do Capitão América e o desaparecimento de Rick Jones, ninguém menos do que o sidekick favorito do Universo Marvel. Jessica também chegou a trabalhar junto com a outra Jessica, a Drew, para resgatar Mattie Franklin, uma jovem garota-aranha que chegou a ajudar Peter Parker em algum momento (não pergunte...).

Com o fim de Alias, o gibi, Jessica Jones ainda se tornaria estrela de outra boa série da Marvel: The Pulse. Este era o nome de um caderno especial do Clarim Diário sobre o crescimento da comunidade de super-heróis no qual foi convidada para trabalhar como “consultora especializada”. Ao lado de Ben Urich – e sob a supervisão direta de J.Jonah Jameson, que nunca gostou muito dela depois de ser, digamos, enrolado num caso em sua época de investigadora particular, ao ser contratada para descobrir a identidade do Homem-Aranha, ela teve seus cinco minutos de fama. Só que uma outra virada estaria por chegar, fazendo com que ela deixasse os resmungos de Jameson enfim para trás.

Entre idas e vindas, o relacionamento entre Jessica e Luke foi ficando mais sério – ao ponto da outrora heroína ficar grávida de uma menina, Danielle, que nasceu na época em que tudo estava mudando nos Vingadores, quando Luke Cage foi convidado pra integrar a equipe. Luke e Jessica se casaram diante de seus melhores amigos, em cerimônia conduzida por ninguém menos que Stan Lee, e então Jessica Jones passou a ser figurinha carimbada nos gibis da equipe em tudo que viria a seguir (afinal, adivinha quem era o roteirista? Bendis, é claro!). Em Guerra Civil, ela ficou do lado de Steve Rogers, apesar de tentada a se registrar para proteger a filha. Em Invasão Secreta, teve a filhota sequestrada por um skrull disfarçado de Jarvis. Em Reinado Sombrio, vivia às escondidas da caça às bruxas de Norman Osborn. E na chamada Era Heroica, chegou até a voltar a usar brevemente a roupa de Safira para lutar ao lado dos colegas em algumas ocasiões.

Ah, sim: foi nesta fase que, em um momento simplesmente hilário, Jessica revelou pra Peter que tinha uma queda por ele na época de escola – deixando Luke Cage um tanto puto da vida de ciúmes. ;)

Jessica Jones

Na série, o retorno de Killgrave à vida de Jessica — interpretada por Krysten Ritter, de Don’t Trust the Bitch in Apartment 23, Breaking Bad, Gilmore Girls e Veronica Mars — pode ter relação com o surgimento do Demolidor na Cozinha do Inferno, talvez reservando uma aparição especial do herói nos episódios finais da série dela? O relacionamento de Jessica e Luke vai ser tão problemático quanto nos gibis? Será que ela vai ter os mesmos problemas com alcoolismo? Podemos esperar algum tipo de piadinha com Scott Lang ou, quem sabe, num lance mais ousado ainda, com Peter Parker? Afinal, gente, tá tudo em casa agora... :)

Saberemos tudo no dia 20 de Novembro, depois das 6 da manhã. Ainda demora?