Essa máquina do tempo chamada “memória” | JUDAO.com.br

Quem precisa de um carro voador ou de uma cabine telefônica, afinal de contas? :)

Acontece sempre que vejo uma daquelas comédias americanas típicas – ou, no caso, um filme tipo o Superpai, que já está nos cinemas. Um daqueles nos quais o cara ou a garota comparecem a um encontro de antigos amigos de escola quinze, vinte anos depois. É batata. Sempre fico imaginando como seria se fosse comigo. Não, nem precisaria ser nestas festanças com cara de baile da primavera, com ponche e etiquetas com nomes coladas no peito.

Na real, também não faço questão que tenha um câncer envolvido, tipo em Invasões Bárbaras; um funeral, como em O Reencontro, ou alguém em coma, como em Até a Eternidade — ou mesmo um dos meus filhos sendo deixado numa creche noturna, só pra eu poder ir pra festa, como no caso de Superpai. Podia, talvez, ter uma mansão no meio do caminho, tipo a do Stephen Fry em Para o Resto de Nossas Vidas. Mas se for alguma coisa divertida (e bobinha) como em Romy e Michele, já está mais do que bom. Embora na minha classe não tivesse ninguém sequer parecida com Mira Sorvino ou com a Lisa Kudrow. :P

Engraçado perceber que a gente não precisa, na real, que role uma espécie de viagem no tempo tipo Peggy Sue – Seu Passado a Espera. Porque a memória, rapaz, esta danada é o nosso De Lorean. Todas as vezes em que tive a chance de reencontrar antigos colegas de escola, bicho, a antiga magia parecia ter voltado. Imediatamente aqueles sujeitos casados, com filhos, trabalhadores honestos e respeitados, se tornavam um bando de adolescentes babacas, Beavis e Butt-head style, relembrando velhas piadas internas e apelidos que há muito pareciam esquecidos. Nesse caso, sim, como Superpai. ;D

E entre gritos, gargalhadas e onomatopeias, voltavam as passagens do Chaves que a gente sabia do começo ao fim, o jeito enrolado de cantar aquelas músicas do Jaspion (!) e dos Changeman em japonês sem saber japonês. Aquela vontade de reproduzir na vida real os gracejos do Besouro Azul e do Gladiador Dourado, da Liga da Justiça de Keith Giffen e J.M. De Matteis, como fazíamos religiosamente em toda hora do recreio. E os comentários sobre as meninas, evidentemente. Não dava pra passar sem eles. E sem elas.

Aliás, putz, nunca aconteceu de fato um grande encontro, nos dias de hoje, da galera da minha sala na escola. Já tentamos marcar algumas vezes, mas nunca deu certo. Mas nem sei se precisaria, porque o Facebook estragou tudo. É, tá todo mundo conectado via redes sociais e as surpresas de “o que você tá fazendo da vida?”, “tá casado, tem filhos?”, “conseguiu escrever aquele livro” já foram reveladas antes do tempo. Perdeu a graça.

Já sei que uma das meninas mais gatas da classe virou dentista, faz ioga e tem o corpo em cima. Outra, que vivia dizendo que ia ser atriz, deixou os planos pra lá e foi trabalhar num banco, casou, teve uma dupla de pequenos gêmeos. E aquela que queria ser modelo... rapaz, virou modelo mesmo e continua linda, de virar a cabeça. Isso sem falar na menina por quem eu era apaixonado. Ela queria, o quê, ser médica? Acho que era isso. Trabalha com fisioterapia, tá perto. E casou com um gordinho com cara de gente boa, hahahaha. Curti. Justamente ela, que nem olhava pra mim por causa da minha cara de nerd, que só dava bola pros jogadores de futebol que estavam um ano à frente... Ela não era líder de torcida e os caras jogavam futebol mesmo, com os pés. Mas todo o resto parecia bem semelhante. :D

É feio ficar stalkeando a vida alheia, né? Ah, é um pouco. Mas pode stalkear a minha também, não ligo. Eu dizia que ia ser advogado mas que, em algum momento, ia publicar a minha própria história em quadrinhos. Na Marvel. Me formei em publicidade, trabalhei como jornalista, escrevo SOBRE quadrinhos. Terminei de escrever o meu livro e, se tudo der certo, parte dele deve virar uma HQ (mas não, não vai ser publicada na Marvel. EU ACHO.). Será que isso ajuda? Isso faz de mim uma pessoa bem-sucedida. Ah, acho que faz. Tô de boa comigo mesmo, o Thiago de ontem acho que teria orgulho do Thiago de hoje.

Mas não tanto quando o Bradley Cooper, né, gente. Porque a porra do Bradley Cooper teve a cara de pau de ir na reunião de 20 anos dos seus antigos colegas de escola em Fort Washington. “E aí, o que você anda fazendo?”, deve perguntar ele displicentemente pra um dos colegas de outrora – sei lá, pra o Mike, sempre tem um Mike nestes filmes aí, assim como todo mundo já teve um camarada chamado Alemão e outro batizado de Orelha. “Ah, eu tô bem. Acabei de abrir a minha clínica veterinária”, responderia o Mike, inocente. “E você?”. Pô, Mike. Nem se pergunta isso. “Eu tô legal também. Acabei de ser indicado ao Oscar pelo terceiro ano consecutivo. E estou me preparando para a sequência de um filme da Marvel que arrecadou bilhões de dólares no mundo inteiro”. Mike, com cara de bunda, só poderia dizer “vou ali tomar um ponche e já volto, beleza?”.

Pô, Bradley. Aí é sacanagem. Ainda bem que você não estudou na minha escola ou eu ia voltar pra casa deprimido. Era melhor ter estudado com o Diogo, de Superpai, porque ao menos eu poderia me gabar de nunca ter esquecido e/ou trocado meu filho na escola. ¯\_(ツ)_/¯