Essas pessoas não são uma família, segundo o Congresso Nacional | JUDAO.com.br

Se você é cristão e se cala, você é parte do problema

Evangélico. Crente. Católico. Povo de Deus. Temente a Deus. Ele isso, Ele aquilo. Em nome de Jesus! Amém. A fé não existe para ser julgada, o que automaticamente nos traz à lógica de que ela também não existe pra julgar. Né? Não. Nas igrejas, o ensinamento básico é maniqueísta, para existir o bem, precisa existir o mal, para os bispos, padres, pastores e fiéis estarem certos, outros precisam estar errados.

Tal raciocínio bancou o genocídio dos índios, a escravidão, o ocaso de cientistas como Galileu, o recolhimento de mulheres ao segundo plano da sociedade, o massacre de homossexuais, o apoio papal a Hitler, o ensino de criacionismo nas escolas e, mais recentemente, o apedrejamento de uma menina que saía de uma cerimônia de umbanda e a expulsão de Pais e Mães de Santo de uma comunidade carioca por parte de traficantes evangélicos, entre outras tantas atrocidades.

Essas circunstâncias, obviamente, atrasam o desenvolvimento da sociedade. Uma criança que reza o pai nosso em grupo antes de entrar na aula tem seu senso crítico tolhido, é doutrinada a não questionar a fé que (nem) a todos acolhe, cresce com ideias como sexo, só depois do casamento, que homossexualidade é “opção”, que as drogas são agentes de Satanás, que alcoolismo é encosto, que doenças são para pessoas de pouca fé, que a cura das mesmas vem mais por causa da oração do que por milhares de anos de evolução da medicina e por aí vai. Tudo isso pode ou não ser praticado pelos estudantes, mas toda vez que fugirem a uma dessas regras, a culpa vai lhes abater, pode ter certeza.

Escrevo por experiência própria.

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Nessas, entra o tal do casamento. Duas pessoas se conhecem, o amor acontece, elas planejam ter filhos algum dia, se casar algum dia, juntar as escovas de dente algum dia, tornar as famílias dos dois uma só algum dia. Daí esse dia chega e elas se juntam, mas vem o Congresso Nacional e diz que família essas pessoas não são, essas pessoas são dois homens.

Uma mulher que já teve relacionamentos, já amou muito e foi muito amada, mas está bem sozinha, tem sua casa, sua renda, seus discos e um cômodo a mais na casa onde bem caberia um bercinho. Ela adota uma criança. Pois o Congresso Nacional vem e diz que essas duas pessoas não são uma família, essas pessoas são uma mãe solteira e uma menina.

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São dois exemplos numa maré de possibilidades de família, todas descartadas pela trupe de Eduardo Cunha. Família, segundo o Congresso Nacional, tem um homem e uma mulher como centro. E ponto. Isso em nome da fé, da interpretação ao pé da letra de um livro cuja adulteração já foi comprovada pela ciência, que durante seus mais de 2 mil anos sofreu edições, adendos e tesouradas segundo os interesses de quem o imprimia, de quem administrava seu espólio. Esse livro é a Bíblia.

No entanto, nenhum de nós, que não levamos esses conceitos a sério ou não trazemos os supostos ensinamentos para nossas vidas, ficamos repetindo isso o tempo todo, esfregando na cara quão ilegítimas são as leis divinas pra gente, não votamos se esse livro deve ou não ser publicado, se pregar o texto dele deveria ser permitido ou não. A gente convive com quem o encara como premissa básica de vida e pronto.

O mesmo não se pode dizer de quem carrega esse livro como um manual embaixo do braço e da consciência, essas pessoas querem o mundo à imagem e semelhança de seus preceitos de vida, custe o que custar.