Estudo comprova que 50% dos novos guitarristas na verdade são NOVAS guitarristas | JUDAO.com.br

Pesquisa da fabricante de guitarras Fender mostra que atualmente a metade dos músicos iniciantes, que compram o primeiro instrumento, são na verdade mulheres — e influenciadas por motivos e ídolos BEM diferentes

Em Agosto a gente contou por aqui que o VP da fabricante de guitarras Fender, Justin Norvell, não apenas rebateu aquele papo surgido na imprensa gringa ao longo do ano passado sobre a morte “lenta e secreta” do mercado destes lendários instrumentos de seis cordas, dando bons números de crescimento, como ainda firmou: as mulheres representam impressionantes 50% deste mercado.

Mas aí que na última semana, a empresa pintou com um estudo bem bacana — e que mostra números bem interessantes relativos a uma fatia bem específica de público: os ENTRANTES. Os novos compradores, que compram a sua primeira guitarra, sejam eles músicos amadores ou então de alguma forma aspirantes a músicos. E adivinha o que a pesquisa ajudou a comprovar? Sim, que neste caso, as mulheres TAMBÉM são responsáveis por cerca de metade das compras de guitarras.

O estudo foi desenvolvido pela Fender em parceria com a consultoria americana Egg Strategy, especializada em inovação. E, na verdade, se trata de uma continuação de uma outra pesquisa, realizada há três anos pela mesma empresa, que já tinha obtido resultados bem semelhantes. Mas agora os pesquisadores não falaram apenas com consumidores americanos, mas também com os britânicos, justamente para abranger o berço de algumas das mais populares e icônicas bandas do planeta.

“O fato de que 50% destes novos compradores de guitarras no Reino Unido são mulheres foi mesmo uma surpresa para o time de lá, mas é um fenômeno idêntico ao que está acontecendo nos EUA”, afirma o CEO da Fender, Andy Mooney, em entrevista pra Rolling Stone. “Também existia uma crença de que isso seria causado pelo ‘fator Taylor Swift’, que estes números se sustentariam apenas a curto prazo. Mas não é isso. Tanto é que a Taylor parou de se apresentar tanto com sua guitarra no palco nos últimos anos e a tendência se manteve. É algo bem mais amplo e uma tendência mundial”.

Os números iniciais já tinham acendido, na real, uma luz vermelha dentro dos escritórios da Fender, principalmente lá na área de marketing, fazendo um monte de engravatados pensarem imediatamente: “eita, cacete, tamos fazendo tudo errado”. E estavam mesmo. A estratégia então foi repensada para um público mais jovem e feminino, fechando parcerias com grupos contemporâneos e liderados por mulheres como as indies do Warpaint e o trio de aspiração grunge/punk Bully, liderada pela frontwoman e guitarrista Alicia Bognanno.

Olha, considerando um universo em que os endorsers (ou “músicos patrocinados”) de grandes marcas musicais – guitarras, baterias, cordas, pratos, microfones – costumam estar associados a homens mais velhos e geralmente ligados a um rock e/ou metal mais técnico e virtuoso, dá pra dizer que AQUI sim temos uma mudança considerável.

Esqueça aquela imagem clássica do moleque que resolve se inspirar num Eric Clapton, Jimi Hendrix, Jimmy Page, Steve Vai, Joe Satriani ou Yngwie Malmsteen (AFE) da vida para esmerilhar como se não houvesse amanhã. O foco aqui talvez seja mais em ser uma Regina Spektor.

Aliás, de acordo com o estudo, dá até mesmo pra esquecer TAMBÉM a imagem mofada do músico que vai comprar a primeira guitarra já pensando em montar uma banda com a qual vai dominar as paradas, os palcos, o mundo.

Os números dizem que 72% dos guitarristas que compram uma guitarra pela primeira vez querem apenas desenvolver uma nova habilidade; 61% querem apenas aprender como tocar uma música favorita por conta própria ou então com a ajuda de amigos próximos/família; e 42% afirmam que enxergam a guitarra como parte de sua identidade.

Junte a isso toda a conversa sobre o rock ter sido sobrepujado já há alguns anos pelo hip hop nas paradas e temos, portanto, uma conclusão bastante interessante.

Mais do que buscar presença de palco com uma guitarra, uma carreira de sexo, drogas e rock ‘n roll, estas novos guitarristas, essencialmente autodidatas, são levados a gastar dinheiro com o instrumento por conta de algo que tem a ver com seus valores enquanto indivíduos, sejam eles sociais ou educacionais.

É com estes “entusiastas silenciosos” da guitarra que a Fender tá querendo falar. E Mooney lembra de um momento na história em que isso já foi bastante claro. “O advento do punk já tinha sido uma abertura para se tocar o instrumento”, afirma. “Era mais sobre diversão e autoexpressão do que sobre virtuosidade. Eu acho que isso se aplica tanto às bandas quanto aos indivíduos que só queriam pegar o instrumento e dominá-lo em seu próprio nível de conforto”.