Parte 03 – A CCXP conseguiu realmente reproduzir no Brasil o ambiente do espaço separado para os quadrinistas, incentivando toda uma indústria independente.
Há algum tempo comentamos aqui no JUDÃO: é o Artists’ Alley que faz valer o COMIC das CONS. Afinal, é o espaço designado para os artistas que torna possível aos leitores conhecerem os quadrinistas – e que, do outro lado, abre caminho para que eles divulguem seus projetos independentes e, claro, vendam artes, prints e sketches. São muito poucos aqueles com contratos de exclusividade com grandes editoras, com a maioria vivendo das vendas de HQs independentes e/ou ganhando por página trabalhada. O dinheirinho do evento é aquele que ajuda a pagar a luz, o condomínio...
Por tudo isso, a experiência de uma Comic Con compreende uma grande atenção ao Artists’ Alley – um objetivo totalmente alcançado pela Comic Con Experience, como pudemos registrar na última semana.
Os acertos começaram na escolha do local para o ~Beco dos Artistas. Ficou logo no caminho para a única saída do São Paulo Expo, além de também ser caminho para o local dos painéis e bem na frente do estande da Marvel. É um posicionamento ótimo, que não é nem encontrado na San Diego Comic-Con, por exemplo – não que Artists’ Alley de lá fique escondido, mas não fica em um caminho obrigatório aos visitantes. É um beco, no final das contas.
Resultado: visível para todo o público, o espaço ficou cheio durante praticamente os quatro dias de Comic Con Experience. Mais do que isso: eles estavam interessados em interagir com os quadrinistas (e consumir, claro!).
“O público que circulava pelo Artists’ Alley estava interessado em conseguir as revistas e livros que não encontra facilmente em outras ocasiões, além de valorizar os autógrafos e sketches”, contou Gabriel Bá, criador de Daytripper ao lado do irmão Fábio Moon, ao JUDÃO. “Ficamos muito impressionados com o volume de gente em todos os dias e com o carinho crescente do público”. No sábado, dia de maior movimento da convenção, a fila de Bá e Moon chegava a contornar quase que toda a parede externa do beco.
Quem também esteve por lá para promover a Supernova Produções, lançando a HQ inaugural Anarquia #1, foi nosso amigo Emilio Baraçal. De acordo com o roteirista, os melhores dias de vendas foram sexta e sábado. “Até o Jason Momoa passou por ali! Na sexta, vendemos dois terços do que tínhamos de material para o dia, superando o dia anterior. Sábado foi o dia mais movimentado e insano. Vendemos cerca de 85 a 90% do que levamos no dia. Era tanta gente que não dava tempo de pensar, não dava tempo para nada”, contou.
Outro detalhe que ajudou bastante foi o valor baixo cobrado no aluguel das mesas, que poderiam ser divididos por até dois quadrinistas. Os valores partiram de R$ 375 para quem fez a reserva logo no primeiro lote dos espaços, com R$ 500 sendo cobrado no preço de tabela. Na SDCC, um espaço equivalente custa US$ 350.
Com o baixo custo de entrada, ficou fácil contar com nomes como Danilo Beyruth, Eddy Barrows, Greg Tocchini, Gustavo Duarte, Klebs Junior, Lu e Vitor Cafaggi, Rafael Albuquerque, e Roger Cruz, entre outros – além dos já citados Bá e Moon e os convidados internacionais Klaus Janson e Sean Murphy. Havia também muitos independentes e quadrinistas buscando seu lugar ao Sol, num formato bem equilibrado na distribuição das “forças” pelas mesas. Pra ajudar os visitantes, havia uma lista dos presentes em cada corredor, nomes nas mesas, enfim... Tudo bem organizado.
“Quem tinha uma mesa no Artists’ Alley mal tinha tempo de levantar e circular pelo evento, pois das 10h às 22h tinha alguém por ali querendo um autógrafo, comprar uma nova publicação ou interessado em descobrir novos trabalhos”, afirmou Gabriel Bá. “Tenho certeza que todos os artistas ali presentes saíram felizes e empolgados, já fazendo planos para o ano que vem”.
Ainda assim, aconteceram alguns problemas pontuais. “Não tinha internet no evento. Quer dizer, tinha, mas ela simplesmente não dava conta. Atrapalhou as vendas com cartão de muita gente. Não era incomum perder vendas de cerca de R$ 120,00 porque a máquina de cartão não conseguia conectar”, contou Emílio Baraçal. “Também a mesa era pequena para suportar dois artistas. O Marcelo Forlani apareceu na manhã da sexta, para perguntar se estava tudo certo. Nem precisei falar disso, pois ele mesmo disse que achou pequena para duas pessoas. Ele comentou que o fornecedor original deu pra trás aos 45 do segundo tempo e tiveram que conseguir um fornecedor novo. A mesa acabou sendo uma de escritório”, relatou o quadrinista, que também identificou problemas nas tomadas das mesas – algo que foi rapidamente resolvido para o sábado.
Realmente: quando comparado a uma San Diego Comic-Con, as mesas do Artists’ Alley pareciam mais acanhadas. Nada que não possa ser resolvido para o próximo ano, de qualquer forma.
A maior surpresa para os artistas partiu da Panini. Em uma jogada inédita no Brasil, a editora lançou sobrecapas variantes brancas, chamadas nos EUA de Blank Sketch Covers, para Superman #28, Batman #28, Liga da Justiça #28, Lanterna Verde #28, Magali #96 e Turma da Mônica Jovem #76. Com um papel especial para receber as artes, as capas são comuns lá fora, principalmente em convenções, justamente porque estimulam os artistas a produzirem e venderem artes exclusivas nessas capas.
Infelizmente, a iniciativa e a sua razão não foram muito bem divulgadas. Por outro lado, a proximidade do estande da Panini do Artists’ Alley colaborou para que alguns visitantes fizessem a conexão, nem que fosse apenas para usar o espaço sem nada para os autógrafos. “Desenhamos em uma dessas capas brancas, mas assinamos várias”, disse Fábio Moon. “Vi um monte. Um monte de gente não só fazendo isso [desenhando nas capas], mas tinha fila pra isso”, afirmou Emílio Baraçal. “O Daniel HDR me mostrou uma caixa lotada delas: ‘São commissions. Tudo pra hoje!’, ele me falou, logo cedinho no domingo quando chegamos cedo pra montar tudo mais uma vez”.
Commissions, no caso, é como são chamadas as artes encomendadas a partir do gosto do comprador.
No final, o espaço cumpriu seus maiores objetivos: aproximou público e quadrinhistas, fomentou o mercado e proporcionou diversos encontros entre esse pessoal que se aventura a fazer quadrinhos no Brasil. E o principal: trouxe realmente o que é a experiência de um verdadeiro Artists’ Alley de uma Comic Con. Ou, se preferir, a razão de uma Comic Con. :)