Eles se juntaram ao #BlackPantherChallenge e à atriz Octavia Spencer no objetivo de dar a “crianças não-brancas a chance de vê-las como o herói principal”
Discutir Marvel VS. DC pode ser algo realmente saudável se você resolver analisar a diferença entre os dois universos e a maneira como eles retratam o nosso mundo, fazendo com que quem leia suas histórias se identifique mais com um ou com outro. É um debate, na real, bastante interessante de ser feito... São as duas maiores editoras de histórias em quadrinhos dos multiversos que estão há oitocentos anos publicando gibis não à toa.
Quando essa mesma discussão acontece nos cinemas, onde até mesmo o objetivo com as histórias são diferentes, o negócio fica um pouco mais... doentio. A culpa, digamos assim, acaba sendo o tanto de gente a mais que os filmes atingem, sendo algo extremamente mainstream e, como esperado, despertando alguns seres que até outro dia não tinham nem onde nem sobre o que falar. E que não fazem a mais vaga ideia do que é cinema e de como funciona essa indústria.
O grupo de supremacistas brancos, nacionalistas e misóginos chamado Down With Disney’s Treatment of Franchises and its Fanboys (algo como “Abaixo com o tratamento da Disney pra suas franquias e seus fanboys”, em tradução livre), que afirma ter sido responsável pela baixa pontuação da audiência para Star Wars: Os Últimos Jedis* no Rotten Tomatoes (decisão tomada, como um porta-voz do grupo disse ao HuffPost, pela introdução de mulheres na franquia, o fato de Poe Dameron ser “vítima do ‘movimento anti-mansplaining'”, que ele e Luke Skywalker corriam o risco de se tornarem gays e que os homens deveriam ser recolocados como os soberanos da sociedade) começou uma campanha no Facebook para boicotar a pontuação da audiência de Pantera Negra, que estreia no Brasil no próximo dia 15.
“Com o grande sucesso do que fizemos com as reviews da audiência no Rotten Tomatoes com Star Wars: Os Últimos Jedi, e com o crescimento daqueles desapontados com as práticas da Disney, entre outros fatores especialmente pelas manipulações que causaram coisas ruins ao DCEU, eu sinto que é hora de revidar e derrubar a casa do rato por ter pagado críticos que machucaram a DC Comics no cinema e em tudo que eles afetaram”, diz a descrição do evento dentro do grupo (ambos, aliás, estavam fora do ar na hora em escrevíamos isso).
O autor afirma que fará a mesma coisa com Guerra Infinita e as séries do Netflix e, se alguém quiser soltar spoilers sobre as obras, deveriam usar aquele evento como “plataforma pra nos informar sobre os alvos”.
Não é surpresa nenhuma que fãs dos filmes da DC tenham essa ideia imbecil de que os críticos foram pagos pra falar mal de, especialmente, Batman VS. Superman, que acabou gerando todas as mudanças de rumo que Liga da Justiça tentou seguir. Se você for nos comentários do link dessa matéria na nossa página do Facebook, vai ver um monte de gente dizendo que a gente deveria parar de falar da DC, que já sabem que somos Marvetes, que é ódio gratuito e etc.
Lembro até que, na época do lançamento do Batman VS. Superman, reclamaram da camiseta que usei no dia em que assisti ao filme e um grande “influenciador”, desses com milhões de assinantes no YouTube, twitter e coisas do tipo, veio me dizer que eu só não tinha gostado do filme “por ser fã da Marvel”. Isso sem contar a própria Warner Brasil dizer que “o negócio ficou pessoal” e a ideia de que o “Rotten Tomatoes é comprado, não dá pra confiar naquelas pontuações”.
É um tipo de reação inacreditável sendo só esse lance de “Marvel VS. DC”, mas fica realmente triste quando os reais motivos são expostos.
Em entrevista ao Inverse, o tal grupo afirmou que a ideia desse boicote a Pantera Negra era uma reação aos esforços da Disney de “enfiar mensagens de justiça social pelas nossas gargantas” e que “minorias deveriam ficar longe”.
Resumidamente, portanto, não se tratam de “Fãs da DC” e sim de um bando racista, misógino e escroto de imbecis num geral querendo boicotar o primeiro filme “de super-herói” com um elenco majoritariamente negro — isso sem falar outras tantas coisas que eu não posso falar no momento, já que o embargo só acaba no próximo dia 06, às 15h.
O Rotten Tomatoes negou que tivesse rolado qualquer manipulação no resultado do público sobre Star Wars: Os Últimos Jedis*, afirmando, na época, que a pontuação era autêntica. Agora, em comunicado oficial, afirmou que “enquanto respeitamos as opiniões diversas da nossa audiência, nós não concordamos com discurso de ódio. Nosso time de segurança, rede e sociedade continuam a monitorar de perto nossas plataformas e quaisquer usuários que façam esse tipo de coisa serão bloqueados do nosso site e seus comentários removidos o mais rápido possível”.
Enquanto isso, Sheraz e Zayyan Farooqi, dois irmãos Nova Iorquinos que se dizem “fãs de coração da DC”, criaram uma campanha no GoFundMe pra angariar fundos pra levar os estudantes da Areté Education, no Bronx, pra assistir a Pantera Negra nos cinemas. “Eles têm noção do impacto que o Pantera Negra pode ter na nossa sociedade. É um evento incomum que dá às pessoas não-brancas e, mais importante, às crianças não-brancas a chance de vê-las como o herói principal.”
A campanha faz parte do #BlackPantherChallenge, uma iniciativa criada por Frederick Joseph pra conseguir dinheiro suficiente pra levar as crianças do Harlem pra assistir à Pantera Negra nos cinemas. Com o tal “desafio”, ele propõe que outras pessoas em todos os EUA façam campanhas parecidas... exatamente como a dos irmãos e, vamos lembrar aqui, fãs da DC, Farooqi fizeram.
Depois de comprar todos os ingressos de uma sessão de Estrelas Além do Tempo, filme pelo qual foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, em um cinema de Los Angeles pra que famílias pudessem assistir ao filme de graça (“Minha mãe nunca podia levar eu e meus irmãos ao cinema. Então, estou fazendo isso pra honrar a ela e todos os pais solteiros”), a atriz Octavia Spencer resolveu repetir a ideia com Pantera Negra.
“Eu vou estar no Mississipi quando esse filme estrear”, disse a atriz no seu Instagram. “Eu acho que vou comprar um cinema em uma comunidade carente pra garantir que todas as crianças não-brancas possam se ver como super-herói”. Eu não acho que ela vá comprar o CINEMA inteiro, mas que seja um fim de semana, um dia, uma única sessão...
É precisamente disso que o mundo precisa. Representatividade é importante pra caralho mas, mais que isso, é preciso EMPATIA.
Pantera Negra, que já bateu o recorde de pré-venda de ingressos nos EUA entre os filmes com super-heróis, estreia no Brasil no próximo dia 15. Os ingressos por aqui já estão à venda, também.