Se a série seguir o espírito do piloto, estamos feitos!
E eis que a DC Comics vai ampliar o seu universo televisivo, tentando deter o avanço da Marvel com a aguardada estreia de The Flash – o JUDÃO teve a chance de assistir ao episódio-piloto e confessamos: o resultado, até o momento, é bastante satisfatório. E olha que, lá começo, quando o projeto foi inicialmente anunciado, a gente nem botava lá muita fé no dito cujo…
Se a sua dúvida básica era se a série do velocista escarlate seria mais Smallville ou então mais Arrow, a resposta é muito simples: nenhuma das duas. Não, a série não lembra, em nada, o espírito “Dawson’s Creek” com superpoderes das aventuras do jovem Clark Kent. Tudo bem, assusta um tantinho descobrir que o mesmo acidente que deu os poderes para Barry Allen (Grant Gustin, de Glee) pode ter dado habilidades sobre-humanas para muitos outros sujeitos, criando talvez uma versão do “monstro” da semana que víamos nas primeiras temporadas de Smallville… Mas, ainda assim, a pegada parece ser bem outra. Tem, talvez, uma pitadinha de romance, com a paixão quase platônica de Barry por Iris West (Candice Patton), sua amiga de infância. Só que não atrapalha o clima.
Clima este, aliás, que também não é o de Arrow. O tom é muito mais leve, bem-humorado, como compete à personalidade do personagem. Esqueça uma reinvenção nos moldes do Batman de Christopher Nolan, que é inspiração clara para o Oliver Queen da telinha. Conforme descobre seus poderes, Barry passa a exercer um pouco da faceta piadista que é possível ver nos Novos 52 e nas versões do herói em animação, em especial a partir do momento em que veste o uniforme.
Qual é o clima deste piloto de The Flash, afinal? É muito simples de definir: The Flash – no caso, a série de 1990. Não, não estou dizendo isso apenas pela presença do Flash da série original, John Wesley Shipp, agora interpretando o pai de Barry, Henry Allen, injustamente preso e acusado do assassinato da esposa. Mas sim porque, assim como acontecia na série dos anos 90, esta série, a se julgar pelo piloto, tem um sabor 100% história em quadrinhos. Parece que estamos diante de um gibi de super-heróis em movimento, em especial um daqueles mais inocentes, coloridos e iluminados dos anos 60/70. Os leitores das antigas vão reconhecer imediatamente o espírito. E aqueles que não lêem gibis com certeza vão se divertir com uma abordagem menos porradeira e mais suave, com um leve toque de Homem-Aranha na jogada e ação/efeitos especiais decentes o bastante para segurar a sua atenção por 45 minutos. É super-herói sem precisar fazer cara de malvado e sem precisar se levar assim tão a sério.
Integrante da equipe de perícia científica da polícia de Central City, Barry é um jovem que não consegue se acertar na vida – vivendo uma eterna confusão tanto profissional quanto pessoal/amorosa. Quando era criança, presenciou sua mãe ser atacada por um estranho borrão amarelo e vermelho, obviamente identificado pelos espectadores mais nerds como sendo o Flash Reverso (ou Professor Zoom). Sem encontrar quaisquer pistas ou acreditar na palavra de uma criança, a polícia acusou seu pai do crime. Muitos anos depois, a mesma sensação o atinge quando os testes envolvendo um acelerador de partículas na sede dos laboratórios S.T.A.R. (velhos conhecidos de quem lê os gibis da DC) criam uma tempestade – e o relâmpago resultante invade o laboratório de Barry e o joga sobre uma estante repleta de produtos químicos. O resultado você já sabe.
Depois de algum tempo em coma, assim que se descobre correndo em uma velocidade fora do comum, Barry procura ajuda nos próprios laboratórios S.T.A.R., em particular com a equipe do professor Harrison Wells (Tom Cavanagh). Além do gênio na cadeira de rodas, ele conta com o acompanhamento de uma dupla de jovens que se parecem desnecessariamente demais com o duo científico Fitz-Simmons de Agents of S.H.I.E.L.D. São eles que vão fazer todos os testes e ajudá-lo a desenvolver uma roupa que aguente o tranco da absurda quantidade de quilômetros por hora que o sujeito alcança.
As referências são muitas – desde as mais óbvias, como Mark Mordon se tornando um maluco que controla o clima, exatamente como seu alter-ego Mago do Tempo nos gibis (e tenho a impressão de que, sim, nós o veremos novamente, apesar dos pesares); até as menores e mais deliciosas. É a jaula do Gorilla Grood arrebentada nos laboratórios, indicando que ele pode ter fugido e pode, sim, aparecer diante do nosso rapidinho. É a pista de testes montada numa pista de pouso da Ferris Air, empresa de aviação na qual Hal Jordan, o Lanterna Verde, trabalhava como piloto antes de encontrar o anel de energia que o tornaria um super-herói. É a chamada, em um jornal do futuro, com a manchete “Wayne Tech/Queen Inc Merger Complete”, indicando uma união das empresas de Bruce Wayne e Oliver Queen. E é um dos cientistas do laboratório usando uma camiseta escrito “Bazinga!”, em homenagem ao mesmo Sheldon Cooper que veste repetidas vezes uma camiseta do Flash em The Big Bang Theory. E, obviamente, já sabemos que o futuro nos reserva as aparições de heróis como o Nuclear e de vilões como o Capitão Frio, além de um episódio crossover de duas horas com o Arqueiro Verde, agora com ambos em suas facetas definitivas de justiceiros mascarados.
Por falar no Arqueiro, chega a ser emocionante ver, lá para o final do episódio, o momento em que Allen, antes de se tornar o Flash, repleto de dúvidas, procura o apoio de um velho conhecido – Oliver Queen, o Arqueiro Verde da mesma série Arrow na qual Barry foi apresentado. O papo dos dois sobre heroísmo e as muitas ideias a respeito de que aquele pode ser o ponto inicial de um Universo DC coeso e integrado, da mesma forma que a Marvel vem fazendo nos cinemas, é suficiente para levar qualquer fanático às lágrimas.
Tudo isso nos leva a duas conclusões: 1) The Flash promete ser uma série incrível; 2) a DC está marcando uma touca tremenda ao dizer que não pretende integrar os universos da TV e dos cinemas. Tremenda bobagem. Com um produto de ótima qualidade como Arrow em mãos, e entregando o que parece ser uma nova bola dentro com The Flash, seria uma manobra inteligente e ousada diante do crescimento da concorrência. Mas, enfim. Vamos curtir uma coisa de cada vez, não é mesmo?
PS: A respeito do impactante final do episódio, que pode dar uma pista sobre o Flash Reverso, peço que vocês reparem que a coisa pode ser mais complexa do que parece. Leitores habituais, fiquem espertos quanto ao sobrenome do policial bonitinho e certinho que começa a namorar Isis em segredo e percebam que a trama pode seguir outros caminhos… :)