Depois do megalomaníaco Sonic Highways, a banda usa seu novo disco, Concrete and Gold, como uma mistura de liquidificador e máquina do tempo pra homenagear a sonoridade setentista de caras como Queen, Zeppelin, Pink Floyd…
Assim que Run, o single e o clipe, finalmente saíram, ficou aquele gostinho no ar de que o Foo Fighters tinha tomado uma verdadeira injeção de adrenalina e que ia meter o braço nos riffs em seu vindouro novo álbum de inéditas – com muito mais intensidade, alma e energia do que seu ambicioso antecessor, Sonic Highways.
Eis que então chegou Concrete and Gold e... bom, talvez a porradeira Run e sua guitarreia quase metal não seja NECESSARIAMENTE a faixa que melhor representa a ideia do disco inteiro. Maaaaaaaas...isso também não é NECESSARIAMENTE uma notícia ruim, né?
Quando a banda começou a trabalhar no disco, Grohl tentou definir o dito cujo como sendo “o Slayer fazendo o Pet Sound” ou então “a versão Motörhead do Sgt Pepper”. Claro, ambas as frases são bonitas, mas muito HIPERBÓLICAS: Concrete and Gold é sim intenso, com muito mais graça e tempero do que o anterior. Os riffs, claro, estão lá, numa dose cavalar de fúria e tesão. Mas sem este exagero aí de colocar o Slayer na roda (por mais que a distorção de Run tenha, vamos admitir, um bocado de thrash metal ali).
Na real, se a gente fosse levar em consideração canções como Arrows ou The Line, talvez a primeira reação fosse dizer “ah, legalzim, um bom disco regular do Foo Fighters”. A sorte é que estas duas músicas, boas mas genéricas, TAMBÉM não representam lá a melhor ideia do disco. E, neste caso, sim, isso é uma notícia boa. ;)
Dá pra dizer, portanto, que Concrete and Gold é em sua essência um disco de referências. É sim aquele bom e velho rock ganchudo, de arena, pra dançar e cantar junto, que o Foo Fighters faz muito bem. Tá bem longe de ser ousado, de levar a banda para fora de suas próprias fronteiras, mas digamos que temos aqui um grupo brincando com suas próprias inspirações, claramente sem medo de homenagear e ao mesmo tempo se deixar influenciar por seus heróis, brincando com elas em múltiplas camadas graças ao trabalho esmerado do produtor Greg Kurstin — parceiro de astros pop como Adele, Pink e Beck, ele foi a chave para que a mescla de gêneros rolasse de maneira natural nas canções, sem forçar a barra ou pesar a mão.
Quer um bom exemplo? The Sky is a Neighbourhood, uma canção linda, setentista de tudo, envolvente, que evoca aquelas muitas vozes sobrepostas que o Queen usou pra caralho em A Night At The Opera, por exemplo, só que numa versão com ainda mais esteroides, tanto quando a da pequena faixa de abertura, T-Shirt. Ou então escute Happy Ever After (Zero Hour), um rock acústico fofinho de tudo, que tem Beatles escrito nele do começo ao fim. A mesma sensação, aliás, que fica depois que a gente ouve Sunday Rain, que tem a participação especial do próprio Paul McCartney na bateria, em uma faixa que lembra bastante não apenas os besouros, mas também a carreira solo do velho Macca.
Tamos falando de músicas que não soam como uma banda tentando homenagear seus mestres de maneira pedante. Não é uma EMULAÇÃO. Aquilo é sim Foo Fighters. Mas um Foo Fighters abrindo o coração e mostrando de onde veio.
Temos espaço até mesmo para um rock progressivo viajandão no mesmo DNA do Pink Floyd, que se ouve bem na faixa-título responsável por encerrar a bolacha, e até para a visceral e corpulenta La Dee Da, um rockão 70s do sul dos EUA, meio Allman Brothers, do tipo que carrega riffs o bastante pra ninguém reclamar.
Vale destaque ainda a funkeada Make It Right, talvez um dos ápices do disco, com um baixão vibrante e cheio de groove, numa espécie de cruzamento de Prince com Led Zeppelin, gerando um filhote ao mesmo tempo sexy e bem cheio de atitude. Dá até pra dizer que, guardadas as devidas proporções, é uma faixa que poderia muito bem estar no mais novo disco de seus parças do Queens of the Stone Age.
Concrete and Gold soa bastante como o Foo Fighters dizendo “hey, somos fãs do rock clássico e vamos defendê-lo”, assumindo o papel de embaixadores / operários da bagaça, quase como uma tropa de elite preparada para dar aquela força, caso Bruce Springsteen precise. É aquele Foo Fighters básico e funcional, como tem que ser. Tipo um bom filme de ação de seus tempos de moleque que você revê sempre que precisa meter um sorriso no rosto.
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