No Brasil pela primeira vez, George falou com o JUDAO.com.br sobre ser feliz criando músicas e podcasts e deu seu (ótimo) pitaco sobre saúde mental. :D
Inglaterra tem fenômenos musicais muito interessantes. Gente foda como Beatles, The Who, Pink Floyd, Elton John, Lily Allen, Oasis, Blur, Rolling Stones, Iron Maiden... Parece que tem algo na água desse país, e se tem alguém que bebeu bastante dela, esse é George Ezra. O cantor AND compositor esteve no Brasil para se apresentar no 22º Cultura Inglesa Festival em São Paulo e bateu um papo BEM legal com o JUDAO.com.br.
George lançou seu segundo álbum de estúdio, Staying at Tamara’s, depois de fazer um puta sucesso com o primeiro, Wanted on Voyage, e a canção Budapest, que tocou até dizer chega nas rádios de rock por aí. Esse segundo trabalho, cheio de leveza e arranjos animados, é fruto de uma viagem à Barcelona, onde ficou por duas semanas em um Airbnb. “Depois do fim da minha turnê, eu tinha um mês para ir onde quisesse, e escolhi uma viagem de 2 semanas para Barcelona. Dei uma olhada na internet pra conseguir um quarto vago e achei esse de uma mulher chamada Tamara.” Ele passou seus dias explorando a cidade, criando e se inspirando. A experiência foi tão gostosa que ele resolveu homenagear a proprietária da casa onde ficou. “Quando chegou a hora de dar nome ao álbum, não quis que fosse “Barcelona”. Staying at Tamara’s [Ficando na casa da Tamara, em tradução livre] veio de uma forma natural, já que foi aquele espaço que me proporcionou tantas coisas boas. Acho que fica bem pessoal.”
George tem carinho em criar. Além de ser músico, ele também é apresentador e idealizador do podcast George Ezra & Friends, onde entrevista outros colegas músicos sobre a profissão, carreira e histórias que aparecem pelo caminho. “Eu comecei a gostar de podcasts por ter problemas em ouvir outros artistas quando estou criando e gravando. Porque começo a pensar ‘será que deveria ter feito mais como esse trabalho?’, sabe? Passei a escutar, principalmente, podcasts de comediantes.” Ezra sente que existe uma honestidade grande nesses programas sobre o cotidiano, coisas que gostamos ou não em nossas vidas e empregos, e quis MUITO criar algo assim para saber sobre outros colegas da música. “Me perguntei se eles seriam sinceros ou se manteriam uma pose porque seus fãs não estão interessados em ouvir sobre suas dificuldades. Mas tem sido incrível ouvir pessoas tão inspiradoras falar sobre suas carreiras e pensamentos.” Entre essas “pessoas inspiradoras” estão Lily Allen, Ed Sheeran e ELTON JOHN. “Falar com Elton foi algo que ultrapassou todas as minhas expectativas. Ele foi tão aberto e falou sobre sua carreira de um jeito tão perspicaz!”
Depois disso, George disse querer entrevistar alguém dos Rolling Stones e que anda tentando contato também com Paul Simon, famoso pela dupla Simon & Garfunkel. Quem faz os convites, combina as gravações e monta a pauta é ele. “Tenho contrato com uma grande gravadora [a Columbia Records]. Isso significa que, após finalizar gravações, entram vários grupos. O time do rádio, da televisão, de marketing, de mídias sociais… É tanta gente envolvida. E eu queria algo que fosse só meu.” Só a edição que é feita por outro profissional. “Quem manda o arquivo e fica de olho nisso é o Josh [Sanger], que trabalha comigo. Ele cuida dessa parte que eu acho mais… chata”, ele disse, sussurrando.
George tem 25 anos e há algum tempo foi diagnosticado com transtorno de ansiedade. “Aquele período pós-turnê sobre o qual falei foi difícil. Eu não me sentia parte de nada”. Ele fica feliz em falar sobre o assunto, já que acha, assim como nós do JUDAO.com.br, que CONVERSAR sobre isso ajuda muito a normalizar, desmistificar e melhorar as coisas. “Eu já ouvi que uma pessoa em cada quatro tem problemas com sua saúde mental, mas eu acho que isso está em todos nós. É um espectro onde todos nós nos encaixamos de alguma forma”, diz. “Não é uma competição de quem sofre mais! Precisamos estar presentes para ajudar pessoas que não estão se sentindo bem, porque acontece com todo mundo em algum momento.”
“Frequentemente, você nunca percebe que não está bem até ser tarde demais. Você passa pelas coisas e de repente percebe e fala ‘Que merda! Passei os últimos quatro dias envolto nessa neblina e não vivi nada’.” Mas, com o tempo, ele aprendeu a lidar com as próprias crises. “Admitir me ajuda. Falar ‘sabe, eu só não tô me sentindo bem’ é relaxante. Conversar também é importante, mesmo achando que as pessoas vão te achar meio chato. A primeira vez é a mais difícil, assumir que você não anda muito legal é complicado. Mas é importante.”
Por fim, Ezra revelou que evita dar importância demais às redes sociais. “Existe uma demanda em sermos felizes o tempo todo, comendo as melhores comidas nos lugares mais descolados, mas isso é tudo bobagem. Não é vida real.” E ele mesmo sabe que compartilhar sua vida de artista pode contribuir com o problema “Não mostro que saí do avião hoje às 6 da manhã, cheguei no hotel e caí no sono sem trocar de roupa e com o celular no meu peito. Levantei, fui à academia por meia hora e voltei com uma cara horrível. Eu não exponho isso porque… bem, por que faria isso? Ninguém quer ver.”
Naquele mesmo dia, ele postou em seu Instagram uma foto sorrindo em Salt Lake.
Não acho que você deva ignorar seus problemas, mas é saudável esquecê-los por um tempo para conseguir relaxar e depois enfrentá-los
Durante seu show, no entanto, todas as suas inseguranças parecem ficar de lado. Ele entrou no palco com um largo sorriso e mostrou pra plateia MUITO diversa (sério, conheci fãs de CINQUENTA anos outros de OITO) que sente respeito e amor pelo que produz. Mesmo sendo um pouco mais introvertido, soube se conectar com o público e contou muitas histórias sobre suas composições, dançou e mandou o CLÁSSICO “Boa noitchi, Sán Páolo!” que é brega, mas a gente adora. As letras que falam sobre se reconectar com sua essência, desprender-se da realidade e aproveitar as coisas da vida de maneira despreocupada fizeram o todo mundo cantar alto, pular muito e se divertir DEMAIS.
E lá pro final da apresentação, durante minha faixa favorita de seu repertório, Shotgun, senti uma animação grande e lembrei de algo que ele me disse quando estávamos nos despedindo, depois de eu desligar o gravador: “Eu canto muito sobre escapar e me desligar do mundo e muitos me criticam porque acham que ‘não se deve fugir dos seus problemas’. Eu discordo. Não acho que você deva ignorá-los, mas é saudável esquecê-los por um tempo para conseguir relaxar e depois enfrentá-los.” :)
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