Um Bom Gigante Amigo na 1a direção de Spielberg pra Disney | JUDAO.com.br

Cineasta vai adaptar cultuada obra infantil do escritor de A Fantástica Fábrica de Chocolate

Parece até estranho ter que ler um negócio assim, né? “Primeira vez que Steven Spielberg vai dirigir um filme da Disney”. Pra mim, pelo menos, pareceu estranho até ter que escrever. O diretor definitivo de produções mágicas para toda a família e o estúdio definitivo de produções mágicas para toda a família. Tinha certeza absoluta que eles já tinham trabalhado juntos alguma vez na vida. Nos bastidores, sim. Mas com Spielberg dirigindo, nunca.

No dia 1o de Julho de 2016, chega aos cinemas dos EUA The BFG – sigla para Big Friendly Giant que, sim, também me faz completar como sendo Big FUCKING Giant – superprodução inspirada no livro do escritor britânico Roald Dahl, publicado em 1982. Você pode ter a sensação de que já ouviu o nome dele antes. A gente entende: Dahl escreveu A Fantástica Fábrica de Chocolate, que virou não apenas um, mas dois filmes (um deles bom, o outro ruim, você decide qual é qual). Além disso, ele também é responsável por outros livros que acabaram dando as caras nos cinemas como Matilda (1996), James e o Pêssego Gigante (1996) e O Fantástico Sr.Raposo (2009).

“The BFG tem encantado famílias e suas crianças há mais de três décadas”, declarou Spielberg em comunicado oficial. “Estamos honrados que os herdeiros de Roald Dahl tenham confiado a nós esta história clássica”. A jornada, que chegou a ser publicada numa edição recente no nosso país, pela Editora 34, com o nome de O Bom Gigante Amigo, começa com uma pequena garota de nome Sophie, que vive em um orfanato londrino e tem a mania de ficar acordada até de madrugada para ler às escondidas. Mas, segundo a própria, esta é a tal da “hora da bruxaria”. E ela deveria seguir algumas regras: nunca sair da cama, nunca chegar perto da janela e nunca olhe atrás da cortina. E ela descumpre rigorosamente as três.

A menina genial e precoce, do alto de seus 10 anos de idade, acaba se deparando com o BFG, do alto de seus mais de 7 metros de altura. Com orelhas grandes, um coração enorme e uma inteligência um tanto limitada, ele leva Sophie para o Condado dos Gigantes, um lugar onde todos têm o dobro do seu tamanho e um apetite tremendo para devorar seres humanos. Mas o BFG, felizmente, é o único que não curte este tipo peculiar de refeição.

Quando chega na caverna do grandalhão, embora assustada num primeiro momento, Sophie saca que ele é um cara legal. Só que a amizade entre os dois começa a chamar a atenção dos outros gigantes, que começam a ficar incomodados...e famintos. Para resolver a situação, a dupla parte para Londres, onde vão tentar convencer ninguém menos do que a Rainha que os gigantes existem e precisam ser detidos antes que invadam o território dos humanos.

The BFG chegou a virar uma animação ruinzinha de tudo, daquelas produzidas diretamente para a TV, em 1989 – que, aqui no Brasil, ganhou o inexplicável título de Elfy, O Duende Que Caiu do Céu. Vamos fingir que nada disso aconteceu, ok?

Para interpretar o BFG em pessoa, Spielberg convocou o premiado ator de teatro Mark Rylance, três vezes vencedor do Tony Award e duas vezes do Olivier Award, batizado por muitos de seus PARES como o maior ator dos palcos de sua geração. Depois de atuar com Spielberg em Ponte dos Espiões, ele repete uma parceria da qual o diretor parece ter gostado. “Tudo que diz respeito à carreira dele até o momento tem relação com escolhas corajosas”, afirma o diretor. “Estou honrado que ele tenha escolhido o BFG como sendo suas próxima performance nas telonas”.

Do outro lado, para viver a Sophie, a produção optou por uma escolha bem ousada: a estreante Ruby Barnhill. Depois de uma audição que envolveu decorar seis páginas de diálogos e derrotar uma dezena de competidoras, a menina ganhou o papel – criado por Dahl tendo sua própria neta como inspiração. E justamente o irmão da musa inspiradora de Sophie, Luke Kelly, neto de Ronald Dahl e diretor da empresa que cuida de seu legado, afirmou oficialmente ter aprovado a seleção. “A Sophie é um dos jovens personagens mais cativantes das histórias do meu avô. Ela é tão corajosa quanto curiosa e tem um senso inato de admiração pelo mundo”. O jornal Daily Mail ainda dá a dica: caso o filme seja um sucesso, Ruby já tem um contrato assinado para mais duas produções, formando aquele padrão da trilogia de fantasia (como de costume em Hollywood, não é?).

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Ilustração do livro original

A história de The BFG nos bastidores é antiga. A produtora Kathleen Kennedy (sim, ela mesma, a atual poderosa da LucasFilm) e seu marido Frank Marshall começaram a desenvolver uma adaptação com foco em um orçamento de grande porte ainda em 1991, para a Paramount Pictures. Outro casal, Robin Swicord e Nicholas Kazan, cuidou do primeiro tratamento do roteiro em 1998, pensando em Robin Williams para o papel principal. Dez anos depois da história ser reescrita por Gwyn Lurie em 2001, a DreamWorks comprou os direitos, mantendo Marshall e Kennedy como produtores e entregando a missão do roteiro nas mãos de Melissa Mathison (apenas a responsável pelo roteiro de E.T. – O Extraterrestre).

Com tantos parceiros de muitos projetos anteriores trabalhando juntos, a aproximação de Spielberg não demoraria muito, por mais que em algum momento John Madden (Shakespeare Apaixonado) tenha sido considerado para o cargo.

No fim das contas, a Walden Media de Crônicas de Nárnia entrou na roda pra co-financiar e co-produzir o filme. E o Walt Disney Studios, que iria apenas distribuir sob o selo Touchstone Pictures, deixou a cerimônia de lado e também assumiu a produção, assinando diretamente como Disney. E aí eis que o próprio Spielberg transferiu os direitos do filme da DreamWorks para a sua icônica produtora Amblin Entertainment, colocando então DUAS assinaturas de responsa na produção, ambas garantia de qualidade para quem foi criança nos anos 80/90;

“Em mais de 40 anos fazendo filmes, eu já produzi muitas obras para a The Walt Disney Company, mas nunca como diretor”, afirmou Spielberg ao The Hollywood Reporter. “É um prazer especial sentar nesta cadeira enquanto começamos The BFG, ao lado de meus amigos de longa data e colaboradores Kathy Kennedy, que foi quem me trouxe para este projeto, Frank Marshall e Melissa Mathison. Junto com eles e com a Disney, tenho muitas razões para ficar empolgado com esta mistura”.

Por falar em Mathison, aliás, este filme deve ser um enorme tributo à sua memória – já que a roteirista e ex-mulher de Harrison Ford faleceu no último dia 5 de novembro, lutando contra um câncer neuroendócrino.

Se a gente levar o trabalho de E.T. em consideração, a tendência é que Spielberg faça mais do que jus ao roteiro de Mathison. E como disse um amigo meu, assim que assistiu ao primeiro teaser: J.K.Rowling que se cuide. ;)