Gotham precisa pegar fogo | JUDAO.com.br

Série retorna do midseason ainda esquecendo do principal: nos deixar empolgados. O que é uma pena…

Fiquei preso exatos 50 minutos para começar este texto sobre Rogue’s Gallery, o episódio que retomou a primeira temporada de Gotham nesta semana. Rascunhei algumas coisas, balbuciei algumas palavras sem nexo, mas... Nada aconteceu. E finalmente percebi que este é o grande problema da série: ela (ainda) não empolga. Não, ao menos, como deveria – ou como empolgam, apenas pra ficar nessa coisa de séries de TV baseadas em heróis dos quadrinhos, Agents of SHIELD, Flash e Arrow.

Não que a série sobre a cidade do Batman antes do Batman esteja ruim, veja bem. Porém, depois de 11 episódios, você acompanha uma história aqui, outra ali, as coisas evoluem... Só que ela não envolve o telespectador. “Eu acho que TV moderna, pro bem ou pro mal, é sobre você fazer a história pegar fogo para manter as pessoas interessadas”, disse Bruno Heller, showrunner de Gotham, em recente entrevista para o Hollywood Reporter. Talvez ele devesse repetir essa frase em voz alta pra si mesmo e ver que ele está longe de conseguir isso – ou, sei lá, de conseguir isso da mesma forma que os concorrentes.

Quando chegamos ao midseason finale de Gotham, ainda em 2014, a série havia realmente engrenado uma segunda marcha, quem sabe uma terceira – ainda que arranhando, mas tava lá, sabe? Jim Gordon peitou a polícia e o Prefeito, viu a noiva Barbara deixá-lo pra ficar com a Renee Montoya, o Pinguim fazia um inteligente jogo duplo entre as famílias Maroni e Falcone e, por fim, Jimbo se deu mal, sendo rebaixado e indo trabalhar no recém-reaberto Asilo Arkham.

E aí chegamos nesta semana. Heller, ao invés de deixar tudo pegando fogo, resolveu diminuir o oxigênio, abrandar o incêndio e foi abordar a nova realidade de Gordon em Arkham. Até aí, sem problemas. O asilo é um dos mais importantes pontos do mito do Homem-Morcego. Só que esse potencial é jogado fora.

Até colocaram a Morena Baccarin (que, claro, você sabe que é brasileira, vou poupá-lo de qualquer ufanismo aqui, relaxa) como Leslie Thompkins, outra personagem que vai ser importante pro Bruce Wayne quando ele botar o colã cinza e o capuz com orelhas pontudas. Mas é só isso, basicamente. A coitada, ao menos nessa primeira aparição, não consegue nem pescar as indiretas do Jimbo pra cair fora antes que a porra toda saia fora de controle.

Gordon e Leslie

Gordon e Leslie

Ah, sim: tem o caso da semana, uma série de crimes que vão acontecendo em Arkham, com eletrochoques e coisas assim. Se Gordon não foi brilhante nas investigações até agora, imagine então como um policial de uniforme numa instituição mental praticamente abandonada? Pois é. Tudo isso regado a uns diálogos fraquinhos, fraquinhos. E, claro, a Galeria dos Vilões, que dá nome à bagaça, ainda está longe de aparecer.

Ok, vai, tem uns vilões conhecidos no episódio – mas longe de serem, ainda, uma galeria, além de dessa vez estarem subutilizados. Selina Kyle e Ivy vão até o apartamento do Jim Gordon passar uns dias, afinal o nosso querido ex-detetive deve ter sido obrigado a viver em Arkham também, já que inexplicavelmente some da própria casa. Já o Pinguim tem poucas cenas e pouca importância.

Calma, tem mais. Em uma cama em algum outro ponto da cidade, Barbara não tem um destino muito melhor que o do (por enquanto) ex-noivo. Num chove-não-molha impressionante, ela fica num mimimi eterno com a Renee sobre ficarem juntas e sobre o uso exagerado de drogas por parte delas – drogas que, aliás, ninguém vê. Vai ver que alguém do canal Fox ou da WB TV mandou segurar as aparições de coisas do tipo depois do cigarrinho de artista da Babs. Ou será que o vício ali é sexo? Bom, que ao menos elas tenham uma construção melhor para o conflito de casal, e não essa coisa que dá até vergonha de ver.

Vamos ver se melhora. Afinal, Heller promete uma boa movimentação até o fim dessa primeira temporada – entre elas, Edward Nygma, que até agora só serviu como um pouco de humor dentro da polícia de Gotham, caminhando um pouco mais na trilha do que será o Charada; um crescimento da Selina Kyle; tretas maiores pelo poder no submundo... Nada que seja um grande mistério, fora a identidade dos assassino dos Wayne, algo que parece momentaneamente esquecido. Enquanto isso, Arrow (com o assassino da Sara Lance e o morre-não morre do Oliver Queen), Agents of SHIELD (e seus Inumanos) e Flash (WTF Flash Reverso!) nos impactam com mistérios bem mais palpáveis e empolgantes. A comparação só atrapalha.

Enfim, potencial há – como falamos desde o primeiro episódio. Vamos ver se a série consegue usar tudo isso pra tacar fogo em sua própria trajetória e fazer aquilo que todo mundo espera...